quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

As boticas do senhor Pharmacia


"Pharmacia" Durão, Rua Garrett, Lisboa
Imagem: Google Street View


Que diferença fazem as minhas opções sobre o Acordo Ortográfico, se ninguém vai ler aquilo que eu escrevo?

Mas, em todo o caso, aí vai:

No tempo dos nossos avós, um campónio, bimbo, labrego, saloio… foi um dia pela primeira vez a Lisboa e, ao passear embasbacado (era também basbaque, coitado) pelas ruas da grande cidade, comentava para a legítima: "Ó Maria, há aqui um tipo em Lisboa que deve ser muito rico. É o Pharmacia (ele dizia "parmáxia", porque falava axim — ou achim). Djá bistes que aqui todas as boticas xão dele, que coija?..."

No site do Arquivo Distrital de Portalegre, que é o meu distrito, estão disponíveis para consulta livros de registo de nascimentos de há muitas décadas atrás, que foram digitalizados/fotografados para o efeito. Dei-me ao trabalho de aí procurar os assentos relativos aos meus avós e bisavós — tarefa a exigir bastante paciência —, de tal maneira que consegui saber os nomes de alguns antepassados que já andavam esquecidos nas memórias familiares. Esses assentos eram lavrados pelos párocos, já que praticamente todas as pessoas recebiam o baptismo católico e a conservatória do registo civil estava muito longe pelos caminhos de cabras de então. Os meus avós nasceram todos na década de 1880.

Nessa altura, a escrita era algo diferente da que hoje usamos, mas não apresenta nenhuma dificuldade de leitura. A palavra "pároco", por exemplo, aparece nos assentos escrita como "parocho", assim mesmo, com "ch" e sem acento.

Pois não me parece que o labrego da história ali em cima, se vivesse no final do século XIX , tivesse qualquer dificuldade em pronunciar correctamente a palavra. Talvez dissesse, em vez disso "Ó xenhor abade, porque diacho querem que lhe chame pároco?". Pároco e abade não são bem a mesma coisa, mas isso agora não interessa para o caso...

Noutros tempos, os acentos agudos serviam mesmo para agudizar e não simplesmente para acentuar. O acento estava onde tinha que estar (ou simplesmente não estava) e ninguém se enganava. As dúvidas surgiam logo de início e eram desfeitas à reguada ou puxão de orelhas, correctivos de outrora que hoje se tornaram crime, até porque às vezes se abusava.

E já agora, se mal pergunto, pode-se escrever "efectivelmente"? Se há pessoas que o dizem assim, deve ser lícito escrevê-lo. Afinal, não é essa regra básica em vigor?









quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Travessias no Médio Tejo





A ponte ferroviária de Constância foi duplicada. O tabuleiro antigo foi adaptado para o trânsito rodoviário, enquanto ao novo tabuleiro cabe agora a passagem da ferrovia. Os pilares foram acrescentados (duplicados) a jusante da estrutura existente e foi acrescentado um novo tabuleiro, de desenho diferente do anterior. O trânsito ferroviário processa-se com normalidade, em via única, que satisfaz as necessidades existentes. O trânsito rodoviário ficou mais condicionado. Inicialmente, era permitido o trânsito a veículos pesados, embora se fizesse com alguma dificuldade, devido à reduzida largura da faixa de rodagem. Posteriormente, o trânsito ficou restrito apenas a veículos ligeiros, por motivo de segurança da estrutura. A circulação processa-se em via única, alternada, com semáforos. Obriga a certo tempo de espera, mas só se nota algum congestionamento momentâneo nas chamadas horas de ponta (início e fim das jornadas laborais).

Sem conhecimento dos detalhes técnicos que fundamentaram o encerramento ao trânsito pesado, parece-nos, enquanto utentes, que a estrutura que foi capaz de suportar comboios também teria capacidade para suportar o peso de alguns camiões. O que parece é que a faixa de rodagem foi ali implementada de forma precária, é de reduzidas dimensões e escassa resistência, mas poderia ser reforçada de modo a suportar novamente o trânsito pesado. Essas deficiências poderão ter tido origem na duplicidade ou até multiplicidade de entidades responsáveis, que na altura não estavam unificadas como estão hoje. Sendo certo que os tempos actuais não estão para despesismos e investimentos avultados em infra-estruturas, não é menos verdade que se justifica plenamente a ligação rodoviária, sem restrições, naquele local.

http://www.mediotejo.net/constancia-ponte-da-praia-vai-reabrir-a-pesados-mas-nunca-antes-de-2017/

As autarquias da Chamusca e da Golegã manifestaram recentemente o desejo de verem construída uma nova ponte para substituir a chamada Ponte da Chamusca. Não fazem por menos: uma nova ponte. Por outro lado, apontam a necessidade de, numa primeira fase, serem instalados semáforos na ponte actual. Neste caso, têm razão. Não se compreende a não existência dos semáforos. A ponte permite facilmente duas filas de trânsito ligeiro, mas o cruzamento de dois camiões em cima do tabuleiro é uma manobra bastante delicada. Os semáforos são uma necessidade imediata e nem se compreende a demora da Infraestruturas de Portugal em os instalar.

http://omirante.pt/sociedade/2016-12-06-Chamusca-e-Golega-reafirmam-necessidade-de-nova-ponte-sobre-o-Tejo

Quanto à "nova ponte", porque não uma duplicação da existente, à semelhança do que foi feito na de Constância? A ponte duplicada podia ficar apenas com uma faixa em cada sentido, o que seria suficiente para o tráfego existente e esperado. O custo de tal transformação deveria ser substancialmente inferior ao de uma nova ponte e resolveria de modo satisfatório os problemas actualmente encontrados.

As travessias do Tejo existentes a montante de Santarém são todas do século XIX, com excepção da ponte mista de Mouriscas, construída para permitir o abastecimento de carvão da Central Termoeléctrica do Pego. Recentemente, a ponte de Abrantes foi objecto de obras de reabilitação. A de Belver está presentemente encerrada, decorrendo obras de beneficiação e reforço. A construção de uma nova travessia, há muito prevista para a zona de Abrantes/Constância chegou a estar projectada, integrando o IC9. (A ligação entre Abrantes e Ponte de Sor foi a única deste itinerário que não chegou a ser iniciada, sendo que as restantes se encontram todas em serviço.) Esta travessia iria permitir uma melhor ligação entre a A23 e a EN-118, esta última a ter visto também suspensa a construção da variante entre Constância-Sul e Gavião (limite dos distritos).

http://www.oribatejo.pt/2016/08/04/abrantes-nova-ponte-sobre-o-tejo-so-depois-de-2020/

A nova ponte de Mouriscas revelou-se um elemento fundamental no eixo rodoviário Torres Novas-Badajoz, especialmente depois da introdução das portagens na A23. O trânsito que seguia até ao Fratel(IP2), desviou-se nessa altura novamente para o Gavião, com um grande número de camiões, especialmente espanhóis. Também aqui se faz sentir a necessidade da variante, que evitaria a travessia das povoações da freguesia de Alvega. Na parte entretanto beneficiada, entre o limite dos distritos até ao Gavião, ficou a fazer-se sentir a falta de uma faixa de lentos (como as existentes na EN2 entre Abrantes e a Sertã), ao tratar-se de um troço em desnível com alguma falta de locais apropriados para as ultrapassagens em caso de trânsito mais denso.

(Esteve disponível na rede o Estudo de Impacto Ambiental da Variante à EN118, mas não se encontra já acessível).

sábado, 3 de dezembro de 2016

Atenção ao cliente





Sempre a aprender... 

Quando se abre o Facebook depois de estar algum tempo inactiv0, o feed de notícias fica em posts mais importantes, em vez de mais recentes primeiro

Isto não é casual. Tem um objectivo: 
Fazer com que não nos esqueçamos de dar uma revisãozinha nas estórias que nos podem ter passado despercebidas enquanto estivemos a dormir. 

O Marquinho, como qualquer bom comerciante, sabe bem que a atenção ao cliente é benéfica para a carteira dele, o que não tem mal nenhum, ora essa...


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Arriscar demasiado


Morrem pessoas para que alguns possam seguir as suas estratégias empresariais "on the edge", seja por perseguirem maiores lucros, seja porque a concorrência "low cost" não lhes deixa alternativa.

Um avião voa no limite das suas capacidades, sem reserva de segurança de combustível porque, quanto menos levar, menos pesa, o que reduz o consumo. Teoricamente, levar menos combustível era por isso susceptível de aumentar o raio de acção. Mas aumentaria o suficiente para atingir a mesma distância? E, quando o combustível estava prestes a acabar, a comunicação entre a tripulação e o controlo aéreo foi suficientemente assertiva para compensar a desatenção, o cansaço ou a incompetência de alguém?

Os acidentes não acontecem por acaso e estão sempre no fim de uma cadeia de erros e falhas que não foi interrompida até o desastre acontecer. São sempre um desfecho cumulativo, a não ser quando ocorrem por causas completamente fora de controlo, como por exemplo uma catástrofe natural.



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Jade





As duas imagens representam uma pequena porção de território do norte da Birmânia (Myanmar). Na ausência de informações fiáveis, ignoro qual das duas fotos é mais recente, mas é possível concluir, pela observação, que deve ser a da direita. Há mais casas, mais caminhos e, sobretudo, mais vegetação arrancada e terreno revolvido.
Nesta região, hordas de miseráveis chafurdam no lodo à procura das preciosas pedras verdes que, depois, hão-de ser contrabandeadas, principalmente para a vizinha China.




Uma visão mais aproximada do local mostra que muito tem sido o trabalho feito.




Noutro local não muito distante dali, as explorações parecem ter um aspecto um pouco mais "industrial".

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Shut up!


Se não és uma pessoa importante, a tua opinião também não o é.
A prova é que toda a gente discute as bacoradas do Trump e ninguém liga às pérolas que tu vais deitando cá para fora...

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Que venha o progresso, dê por onde der



Uma ponte que não leva a lado nenhum. Mesmo por terminar, aponta para mais uma zona industrial a encher-se de mato, em Fraga, junto à "fronteira" de Espanha (Aragão) com a Catalunha, sobre a autovía A2/N-II.


Comentário num artigo (2012) de imprensa espanhola sobre a proliferação de zonas industriais sem uso.

««« Cada AUTONOMÍA su TELEVISIÓN PUBLICA
Cada ciudad su METRO.
Cada pueblo su polígono industrial.
Cada aldea su estación de AVE
Cada pedanía Facultad universitaria.
Luego los impuestos ... que los pague también el ESTADO. »»»


http://www.eleconomista.es/comunidades_autonomas/noticias/4340202/10/12/Estalla-la-burbuja-de-los-poligonos-industriales.html

(Muy apropiado, digo yo...)

Nós, por cá, também tivemos essa época, apesar de não termos construído tantos polígonos, menos quilómetros de autovía e nenhum de comboio de alta velocidade. Mas mais de um tem os bolsos bem forrados por causa disso...

Vamos pagar (já estamos a pagar) tudo isto com juros, muitos juros. A usura nunca perdoa.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O computador é estúpido





O computador é estúpido...

A impressora até podia estar suja ou com algum pedaço de papel encravado. Desmontou-se, limpou-se, voltou-se a montar.
Após isso, já puxava bem o papel e imprimia cópias do scanner.
No entanto, o PC continuava a dar a impressora como não tendo papel, apesar de a ter desligado e voltado a ligar várias vezes.

Reiniciado o computador, o problema ficou resolvido. Seria mesmo necessário? Não podia ter detectado sem reiniciar?

domingo, 18 de setembro de 2016

O Casino


Imagem: Google Search "casino"

 Duas fortunas podem ser do mesmo montante mas terem  natureza muito diferente. Às vezes distingue-se, tentando saber o valor de uma pessoa rica, se ganhou a fortuna ou a herdou. Certo: há pessoas diferentes com capacidades diferentes, ou com distintas histórias e origens. Mas o dinheiro também não é todo igual. Como foi ele adquirido? Produzindo ou especulando? Um fulano pode ter acumulado muitos milhões — e existem uns quantos assim — e nunca ter produzido algo válido nem acrescentado qualquer valor à riqueza do mundo. Limitou-se a ir capturando para si parte do dinheiro enquanto ele ia mudando de mãos. Em contrapartida, aqueles que criam e produzem arriscam-se — caso não tomem precauções —  a que o produto do seu trabalho, por muito grande que seja, desapareça nos bolsos dos especuladores que nada fizeram.
Dará isto para perceber como é que o fruto do trabalho dos agricultores e outros produtores vai acabar nos bolsos sem fundo dos senhores Azevedo e Santos? E é que estes (e uma multidão de gente em seu nome, afinal — daí que se vangloriem de ser grandes criadores de emprego) ainda tiveram o trabalho de fazer chegar as "coisas" às pessoas que tinham dinheiro ou crédito para as comprar. Mas e aqueles que nem isso fizeram? Os que se limitaram a apostar na variação das cotações que eles próprios influenciam?
A riqueza do mundo joga-se toda num "casino". E a "banca" sai sempre a ganhar.
(Já agora: digam-me lá se o Zé Manel Carapau de Corrida não é um finório… Ele até protesta por lhe tirarem a passadeira, mas, se não a puder ter, olha… que se lixe! Os donos do casino até lhe pagam bem.)


terça-feira, 19 de julho de 2016

As pedras que vão ficando




Na margem esquerda do Tejo, entre Alvega e Ortiga, um pequeno amontoado de pedras de maiores dimensões, no meio de uma cascalheira. Dezenas de metros em redor, nada de parecido existe. O pequeno amontoado parece indicar tratar-se dos restos de alguma antiga construção humana: resto de pilar, moinho ou açude...


domingo, 3 de abril de 2016

Que se lixe


Houve tempo em que ainda alertava os membros dos grupos do Facebook para as 'postagens' (especialmente fotos) que não se vêem por causa das definições de privacidade. Como os destinatários do alerta sempre viam as suas coisas (naturalmente, não?...) e são tantas vezes — também com muitas honrosas excepções — incapazes de perceber de que se está a falar, houve alturas em que só faltou chamarem-me paizinho (por não perceberem nem quererem perceber). É por isso que agora, quando vejo uma nota de "attachment unavailable" (anexo indisponível), refreio a curiosidade e passo adiante. Com a paciência que vou tendo, adoptei o lema de "vale mais ignorantes e felizes que zangados". Por isso, de cada vez que as fotos que alguém quis mostrar estão 'felizmente indisponíveis', que se lixe!

quarta-feira, 16 de março de 2016

Pela sua saúde, agache-se para cagar!

Devemos aos romanos alguns avanços civilizacionais importantes, mas também alguns erros graves: cagar sentado foi um destes.
(o vernáculo é propositado, para chocar, mas não para ofender)
From barefoot running to caveman-style eating, what's supposedly
REALCLEARSCIENCE.COM

quarta-feira, 2 de março de 2016

Gato escondido com o plágio de fora




https://pedlowski.files.wordpress.com/2015/06/plagio-academico.jpg

Isto:

«Conta a lenda que o rei D. Dinis, informado sobre as ações de caridade da rainha D. Isabel e das despesas que implicavam para o tesouro real, um dia decidiu surpreender a rainha numa das suas habituais caminhadas para distribuir esmolas e pão aos necessitados. Perspicaz, reparou de imediato que a Rainha procurava disfarçar o que levava no regaço. Questionada sobre o seu destino, D. Isabel respondeu que se dirigia ao mosteiro para ornamentar os altares. Não satisfeito com a resposta, o rei quis ver o que ela levava no regaço. Após alguma atrapalhação, D. Isabel respondeu: "São rosas, meu senhor!". Desconfiado, o rei acusou-a de estar a mentir, uma vez que não havia rosas em janeiro. Foi então que a rainha D. Isabel mostrou, perante o espanto geral, as belíssimas rosas que guardava no regaço. Por milagre, o pão escondido tinha-se transformado em rosas. O rei ficou sem palavras e acabou por pedir perdão à rainha.»

http://expresso.sapo.pt/blogues/blogue_sem_cerimonia/2016-03-01-O-milagre-da-s--rosa-s--na-Educacao-e-Ciencia

… é uma adaptação bastante mal disfarçada disto:


«Conta a lenda que o rei D. Dinis foi informado sobre as ações de caridade da rainha D. Isabel e das despesas que implicavam para o tesouro real.

Um dia, o rei decidiu surpreender a rainha numa das suas habituais caminhadas para distribuir esmolas e pão aos necessitados.

Reparou que ela procurava disfarçar o que levava no regaço.

D. Dinis perguntou à rainha onde ia e ela respondeu que se dirigia ao mosteiro para ornamentar os altares.

Não satisfeito com a resposta, o rei mostrou curiosidade sobre o que ela levava no regaço.

Após alguns momentos de atrapalhação, D. Isabel respondeu: "São rosas, meu senhor!".

Desconfiado, o rei acusou-a de estar a mentir, uma vez que não era possível haver rosas em janeiro.

Obrigou-a, então, a abrir o manto e revelar o que estava lá escondido.

A rainha Isabel mostrou, perante os olhos espantados de todos, as belíssimas rosas que guardava no regaço.

Por milagre, o pão que levava escondido tinha-se transformado em rosas.

O rei ficou sem palavras e acabou por pedir perdão à rainha que prosseguiu com a sua intenção.

A notícia do milagre correu a cidade de Coimbra e o povo proclamou santa a rainha Isabel de Portugal.»


http://www.infopedia.pt/$lenda-do-milagre-das-rosas


O senhor deputado estava cheio de pressa para escrever o artigo e, como não sabia a lenda bem de cor, recorreu à pesquisa na Internet, não respeitando aquilo que os seus professores, eventualmente, lhe recomendaram quando andou na escola: que relatasse as coisas com palavras suas.

Mas a Internet, se permite a pesquisa rápida de textos para copiar, também permite, pelo mesmo mecanismo, detectar as cópias feitas. Houve quem descobrisse e acusasse o ilustre articulista maçaense de plágio. Queriam que ele fizesse referência à origem do texto… Mas sua excelência, obviamente, não quis rebaixar-se assumindo que usa métodos tão primitivos.

É uma vergonhaça, mas é momentânea. Ele brevemente descobrirá maneira de, com outra canelada, nos fazer esquecer esta. São constantes…

(E logo agora que ele se estava a mostrar tão eficiente na denúncia da poluição no rio Tejo…)

Nem tanto ao mar...




Diz-se que, para aceitar ou rejeitar alguma coisa, é preciso conhecê-la.
Não sei se é bem assim.
A vida seria impossível — por falta de tempo — se não pudéssemos fazer opções apenas com base no conhecimento prévio ao facto ou coisa abordada e tendo em conta a origem de onde provém.

(A maneira como o tal Raposo defendeu o seu livro não me leva a exigir que o dito seja queimado, mas também não me leva a procurar conhecê-lo em pormenor).

Nota: esta opinião não interessa para nada. É só para vincar que "nem tanto ao mar, nem tanto à terra" e nem tudo é tão simples — nem tão complicado — quanto parece. 
Depende sempre do ponto de vista. 
Muito ao mar, corremos o risco de nos afogarmos ou ser levados pela corrente. Muito à terra, nunca nos aperceberemos da profundidade do oceano. 


As pedras da História




Para se perceber o passado, ajuda muito tentar reproduzi-lo no presente e, depois, rever esse processo subtraindo-lhe tudo aquilo que ainda não existia na época em apreço.
A visão idílica de uns camponeses  praticando agricultura nos terraços de Machu Pichu e vivendo nas casas que estão mais acima é capaz de não ser exacta. Tendo em conta as dificuldades que, mesmo hoje, com o auxílio de máquinas, se tem para talhar um único bloco de pedra semelhante àqueles com que as casas de Machu Pichu estão construídas, é fácil perceber que o seu custo seria talvez excessivo para as possibilidades de uma pessoa vulgar. 

E uma pessoa vulgar, em qualquer época da História, é uma pessoa pobre. A superioridade numérica dos pobres não é coisa de hoje, por muito que se fale do acentuar das desigualdades. Um agricultor, para prover de alimento a ele e a sua família, teria de dedicar a maior parte do seu tempo à produção de alimentos e, a menos que conseguisse produzir muito mais do que aquilo que consumia, nunca conseguiria obter recursos para pagar a quem lhe construísse uma sólida casa de blocos de pedra bem talhados. 
A Natureza tem os seus efeitos sobre todas as coisas materiais e, no seu eterno processo de reciclagem, vai destruindo o que existe, sempre na busca de um novo equilíbrio. Sobrevive aquilo que é mais resistente: as casas de pedra e não as choupanas de palha e ramos toscos. Como as casas de pedra — mais sólidas mas muito mais caras e, por isso, raras — não chegariam para todos e como, mais do que provavelmente, houvesse uma enorme diferença de riqueza entre as populações e as suas elites, as melhores casas seriam para os ricos, que não precisavam de trabalhar a terra porque tinham ao seu serviço quem o fizesse por eles. 
Assim, aquilo que nos chega como testemunho do passado é a parte mais sólida das construções humanas, as casas onde viviam os poderosos, os templos e fontes que eles mandavam construir. As cabanas apodrecem em pouco tempo, as casas de barro leva-as a água da chuva. E nem todos teriam casa. Não é preciso recuar muito no tempo nem sair de onde vivemos: ainda podemos falar directamente com pessoas que, quando jovens, nunca viveram em casas, porque dormiam nos palheiros e currais, ao lado do gado que lhes estava entregue para cuidarem e pastorearem ou numa cabana junto às terras que tinham de cultivar para os seus senhores; comiam o que calhava e quando lho davam. 
Ficamos empolgados com aquilo que o que resta da Roma imperial nos permite conhecer do seu esplendor, mas, enquanto pensamos nisso, costumamos esquecer que essa riqueza toda não foi produzida ali, na cidade, nem pelos que nela viviam. 
Todos os caminho vão dar a Roma por uma razão: levar a ela aquilo que os que nela não viviam era forçados a produzir. O que nos chega como testemunho material da história humana são as estruturas resistentes com que uns exerceram o seu domínio sobre outros. 
Existem sólidas pontes romanas na Península Ibérica que duraram até hoje porque elas permitiam transportar para Roma o ouro que de cá levaram, escavado e lavado pelas populações locais, sob o chicote dos soldados do império. 
Sobram templos majestosos e enormes pirâmides mas praticamente nada sabemos sobre aqueles que morreram a construí-las. 
Escavam-se túmulos sempre reais, porque a populaça,  foi para a vala comum ou atirada para um poço ou algar, onde às vezes aparecem ossos empilhados, ou ficava a apodrecer nos campos de batalha para onde era enviada pelos seus amos.


terça-feira, 1 de março de 2016

Velhas do Restelo


Ia pôr aqui um link, mas não ponho: quem for capaz que adivinhe. Era sobre "velhas do restelo" (e não velhos, desta vez) que parecem não saber (ou sabem, mas... por isso mesmo) que, quando falam de perigos, fazem aumentar o próprio perigo. A quem tem altas responsabilidades devia ser exigida alta prudência na língua. Há certos conselhos que, se não forem dados, tornam-se desnecessários. E, por outro lado, tornam-se mais necessários apenas por terem sido dados. Confuso? Nem por isso. 

Tópico:
#a_velha_que_de_vez_em_quando_gosta_de_atirar_lenha_para_a_fogueira


(sem ofensa para os velhos nem para a velhice da senhora)


Garanhões


Há dias, um prestigiado semanário (na sua versão electrónica, que também é diária, horária, minutária...) sentiu necessidade de fazer uma referência às "origens portuguesas" da Julia Roberts (aliás para dizer que elas a envergonhavam, ou que as usaram para a humilhar). Ainda estou para saber se essas "origens portuguesas" existem mesmo, ou são uma criação de quem escreveu o precioso artigo motivada pela necessidade de mostrar que, afinal, tudo está relacionado connosco, por sermos o centro do mundo (nem que seja para todo o mundo nos tratar como seu penico).

Correcção: Afinal, não foi a Julia Roberts que se envergonhou das suas raízes, mas a Daisy, uma das suas incarnações (“Pizza, Amor e Fantasia” / “Mystic Pizza” -1988), embora o Expresso afirme (expressamente) que foi a actriz quem teve esse sentimento (que foi, principalmente, uma atitude — da Daisy, claro).

Já agora, não tinha mal nenhum a Julia ter origens portuguesas (tem outras e bastante variadas). Andamos há quinhentos anos a espalhar pelo mundo a nossa bem hibridada semente. O que não somos é os protagonistas desse filme: estivemos lá primeiro, tal como estivemos primeiro na Austrália, mas passarinho que muito esvoaça pouco poisa… Não fomos nós quem construiu aqueles países nem demos nessa tarefa contributo assinalável. Demo-lo sim, noutras paragens, mas nem em todas é agradecido, como se vai vendo.







domingo, 28 de fevereiro de 2016

A universidade YouTube


Canais didácticos do YouTube.

O YouTube é uma excelente ferramenta de aprendizagem para autodidactas. Há sempre uma boa dose de trabalho da escolha dos conteúdos que merecem ser aproveitados, mas até esse trabalho de selecção tem valor formativo — e não é pequeno.


Desde que me conheço, sempre tive uma grande curiosidade pelo trabalho em fábricas e oficinas. Sou capaz de ficar horas a ver a execução das tarefas, máquinas a funcionar, etc. Claro que isso nem sempre é prático ou possível (e há ainda aquele cartaz que diz "NÃO HÁ NADA MAIS PREJUDICIAL PARA QUEM TRABALHA DO QUE A PRESENÇA DOS QUE NADA TÊM PARA FAZER").


No YouTube, não vemos exactamente aquilo que queremos ver (aliás, no "terreno" também não). Vemos aquilo que as pessoas entenderam ali partilhar e que pode interessar ou não — a tal tarefa de selecção… No entanto, a quantidade e variedade são tais que, a pouco e pouco, é possível ir construindo uma lista de "favoritos", ou subscrições que nos vão fazer chegar avisos ou notificações sobre matéria nova adicionada por aqueles que previamente escolhemos.


Com o tempo, vamos deixando cair muitos autores. Podem ter ficado inactivos ou os seus contributos podem ter deixado de interessar.

Um aspecto interessante é a capacidade de comunicação dos contribuidores. Como é evidente, nem toda a gente tem a mesma capacidade de comunicação. Há muitas pessoas que possuem valiosos conhecimentos mas não são capazes de os transmitir através de um vídeo. Podem não ter habilidade para organizar e efectuar a captação e edição das imagens e sons da forma que pretendem. Podem não ter a capacidade de apresentar e realçar aquilo que interessa, ocultando ao mesmo tempo tudo aquilo que possa prejudicar a mensagem. Podem exibir comportamentos e atitudes que aparecem excessivamente autocentrados, de mau-gosto, exibicionistas, despropositados, etc.


Mas há pessoas que, sem se limitarem à seca e aborrecida exposição de uma série de imagens e explicações técnicas, conseguem transmitir uma presença simpática e capaz de prender, também por essa via, a atenção do público.


Um dos problemas de ter de seleccionar aquilo que se vai ver é o tempo — a falta dele. Muitos vídeos são excessivamente longos e poderiam ser reduzidos através de edição, sem prejudicar a apresentação. Pode-se ir avançando durante a visualização, mas é certo que alguma matéria se vai perder.

Dois exemplos de canais com conteúdos interessantes (neste caso a metalomecânica praticada à escala individual, quase sempre amadora, embora os praticantes possam também ter actividade profissional nessa área — e pelo menos um destes tem):

https://www.youtube.com/user/Abom79

https://www.youtube.com/user/ksruckerowwm

Em ambos os casos, os vídeos são bastante extensos e geralmente teriam a ganhar com uma edição que fizesse uma melhor gestão dos tempos "mortos".
E em ambos os casos, também, estamos em presença de dois excelentes comunicadores.

……………………...


(Estes textos escritos ao correr da p…do teclado (!) ficam uma bagunça… Há que fazer um esquema e depois desenvolvê-lo. Mas deu para perceber, certo?)


sábado, 27 de fevereiro de 2016

Soldar




Aprendendo coisas.

O Inglês é mais sintético e, ao mesmo tempo, mais exacto do que o Português, quando se trata de descrições técnicas.
Nós usamos o termo "soldadura" para referir diferentes realidades que se designam como "soldering", "brazing" e "welding". Nenhuma delas é o mesmo que qualquer das outras, apesar de traduzirmos tudo por "soldar".



http://www.weldguru.com/
(vale a pena visitar demoradamente, para aprender)


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Wikibabel


Os leitores de língua portuguesa do site Wikipedia debatem-se com um problema que não é de somenos e que deve ser comum a outras enciclopédias, com a agravante de esta, sendo de edição aberta, receber contributos de onde quer que seja.
O universo do Língua Portuguesa abrange uma miríade de núcleos, se nos abstrairmos da sua dimensão e potencial relevância — já que os luso-falantes estão praticamente por todo o mundo —   mas destacam-se, até agora e neste contexto,  Portugal e Brasil.
A Língua pode ser comum, embora não tanto como possa parecer, nem tão pouco que não sirva para nos entendermos, mas as realidades geográficas, políticas, económicas e de outro carácter podem ser tão distintas que aquilo que interessa a um brasileiro, em certos temas, pode ser matéria exótica para a generalidade dos portugueses — ainda que todos falem a "mesma" língua.
Uma enciclopédia, diferentemente dos dicionários generalistas, versa mais sobre especialidades — e é aí que as diferenças se acentuam e fazem com que uma mesma base de conhecimento possa não interessar à generalidade dos leitores, havendo que separá-los segundo as suas potenciais preferências.

Escolhi um único exemplo para justificar o que acabo de dizer. "Parcerias Público-Privadas", abreviadamente "PPP".

Existe um verbete (termo este curiosamente não aceite pelo corrector ortográfico do Google, que estou a utilizar...) em Língua Portuguesa, que já obteve contributos de colaboradores de ambos os países (Portugal e Brasil), sendo que apenas a definição genérica do conceito deve poder ser considerada comum, já que toda a realidade envolvente do mesmo é claramente distinta, ainda que possa haver coincidências (e aqui abstraindo-nos de quaisquer considerações de natureza política ou ideológica).

https://pt.wikipedia.org/wiki/Parceria_p%C3%BAblico-privada

 Não será difícil encontrar muitos — inúmeros, mesmo — exemplos da necessidade de diferenciar as bases de conhecimento, para que não tenha de se especificar, em cada particular conceito ou definição, se eles se aplicam a uma ou outra realidade.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Óleo fino





(Comentário existente no artigo)

««« ...
12 Fev, 2016 Alcains 01:13
Em Alcains, castelo Branco, foi autorizada à empresa Valamb lda autorização para instalar uma fábrica tipo Centroliva de VVRódão. A Câmara ofereceu a esta empresa um terreno que adquiriu para o efeito por 65mil euros. O Sr. Samuel Infante da Quercus recebeu da Câmara de castelo branco uma sede para a Quercus. A Quercus ofereceu um parecer à Câmara de não oposição à instalação da Valamb, valorização do bagaço de azeitona. A fábrica vai poluir via ribeira da Líria, afluente do rio Ocreza, por sua vez afluente do Tejo. Portanto, passem pelo meu blogue Terradoscães e saberão mais sobre a canalhice ambiental que o autarca de castelo branco, pretende implementar em Alcains, castelo branco.
»»»



 O autor do comentário fornece, no blogue que refere, nomes, datas e lugares. Fica-se com a ideia de que esta indústria do bagaço não é coisa que se cheire (e não é apenas em sentido figurado), apesar de contar com circunstanciais aliados onde não seria de esperar, por vias das tais teias que a massa tece. Diz-se que quem tece teias são as aranhas, mas o polvo também tem muitas pernas... E a massa — como o azeite — desde tempos ancestrais tem feito a vez de óleo para untar. Umas vezes as máquinas, outras vezes as mãos.


sábado, 6 de fevereiro de 2016

Megafones





A Internet em geral e as redes sociais em particular, tal como antes (e agora um pouco menos) a blogosfera, vieram dar a cada um de nós a possibilidade de participar (muito menos do que às vezes julgamos) na circulação da informação, partilhando aquela já existente, eventualmente acrescentando alguma nova ou emitindo opinião.
Muitas pessoas acreditam ainda que, escrevendo num estilo panfletário, exortando expressamente os outros, amplificando ou exagerando o conteúdo ou a opinião apresentados, conseguem atrair maior audiência ou atenção. Não devem ter ouvido a história de "Pedro e o Lobo"…
Quando levamos muito a peito uma determinada causa, é quando ficamos mais expostos à tentação de fazer isso. Depois, os nossos amigos ou leitores, sensibilizados para o assunto, vão partilhando também…

Mas, se o conteúdo partilhado contiver falsidades ou inexactidões notórias (exageros incluídos), alguns leitores vão dar por isso e queixar-se publicamente. O assunto perde credibilidade (bem assim como quem o divulgou) e a causa sai por isso prejudicada.
Eu costumo dizer que não aprecio indirectas; e isto não é uma indirecta para ninguém: é uma reflexão "transversal" que pode apanhar a todos e a mim também.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Buenos Aires




Google StreetView: https://goo.gl/maps/CqRUvRsARj12

A imagem é rica em pormenores, mas também é de certo modo banal. Buenos Aires não é a única cidade a ter bairros de lata paredes meias com as zonas mais chiques, "sobrevoadas" por auto-estradas que não podiam desviar-se nem evitar-se porque, apesar de tudo, as pessoas precisam de se deslocar, e quanto mais depressa melhor.
Até há vias que ainda não foram construídas, mas foram previstas e assim o indicam os pilares que ainda não têm tabuleiro.
Também se pode reparar no pormenor, por cima do BMW, de a favela ter crescido para  a própria auto-estrada, através do separador. O "bairro" não está urbanizado, mas as pessoas que lá vivem precisam de água, tal como aquelas que vivem nas torres lá ao fundo. Não havendo rede de distribuição pública, improvisam, colocam reservatórios individuais como este no topo das habitações. O pilar está mesmo a jeito e até deve contribuir para dar resistência às construções que a ele estão encostadas. 




Esta outra imagem é ainda mais expressiva.

Além disso, os tabuleiros da rodovia servem de telhado secundário. Quanto ao ruído dos carros a passar junto à cabeceira, uma pessoa habitua-se a tudo...
A particularidade deste bairro porteño (que afinal não é assim tão particular) é a de ter aparecido por estes dias nas notícias a propósito de uma operação de embelezamento que lhe vão fazer.
A villa já existe há perto de um século e nem ditaduras sanguinárias nem democracias populistas conseguiram acabar com ela. Até já existe plano de urbanização, mas o busílis é pô-lo em prática, já que não é fácil realojar aquelas almas todas. Ou talvez não se tenham empenhado o suficiente nisso.
O certo é que o novo presidente, achou que fica muito mal os automobilistas que ali passam terem de reparar na miséria que está por baixo deles. Uma pessoa a tudo se habitua, mas não podem, ao menos uma vez por outra, deixar de reparar. Não fica bem. E se forem forasteiros, estrangeiros, turistas, então é que vão reparar de certeza e isso causa bastante dano à imagem da cidade. 

Ora como tirar da vista algo tão grande que não pode simplesmente desaparecer? Fazendo o mesmo que alguns fazem ao lixo: varrem-no para debaixo do tapete. Neste caso, acrescentando ao viaduto uns painéis, integrando-os, segundo as notícias, numa estrutura com ambições artísticas, mas que não passa de uma forma de esconder a favela dos olhos de quem passa.
Nada que não tenhamos visto fazer bem mais perto de nós.


http://www.infobae.com/2015/07/31/1745297-polemica-la-construccion-un-techo-verde-la-villa-31

http://www.infobae.com/2015/10/06/1760460-la-villa-31-como-nunca-se-vio


sábado, 30 de janeiro de 2016

Angelus



Na História da Arte, são muitos os exemplos de obras que inspiraram outras. 
Cada recriação leva em si a marca daquele que a fez e os sinais do seu tempo.
Salvador Dali pintou, em 1935, Archaeological Reminiscence of Millet's Angelus, inspirado na obra L'Angélus de Jean-François Millet (1857).
O Museu de Dali na Florida (The Dali Museum) tem a decorrer uma exposição da qual faz parte um vídeo interactivo (360º) inspirado nesta recriação, permitindo uma viagem por uma paisagem virtual inspirada, por sua vez, naquela recriação do pintor surrealista.


L'Angélus  de Jean-François Millet

Salvador Dali - Archaeological Reminiscence of Millet's Angelus

 Fragmento de frame do vídeo -1

  Fragmento de frame do vídeo -2

Fragmento de frame do vídeo -3


Vídeo YouTube interactivo:
https://www.youtube.com/watch?v=F1eLeIocAcU 

Mais informação aqui:
http://thedali.org/dreams-of-dali/



quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Pobre Língua Portuguesa





Num mesmo artigo, a autora conseguiu juntar uma boa quantidade de incongruências e erros.

Logo no início, parece indicar que escreve segundo o AO90, pois usa arquitetura, refletem, projeto

No entanto, ao longo do texto, quem faz a arquitetura é sempre um arquitecto...

Há uma habitação excepcional

Há também um contacto directo, mostrando que nem tudo se perdeu… (Teria sido capaz de escrever contato directo  ou contacto direto?)

E há paredes de pedra — o que lhes confere uma grande solidez — mas, mais adiante, há outras que são em pedra e esboroam-se facilmente, como é de supor.

Depois, há um desenvolve-se que não contribui nada para o desenvolvimento, porque o pretérito imperfeito do conjuntivo usado na frase é desenvolvesse.

A matéria prima perdeu o hífen, coitada, mas mão foi por culpa do chamado acordo.

Perdoa-se a mezzanine sem nenhuma decoração de itálico ou comas, porque aparentemente, é um artigo sobre arquitectura/arquitetura e não se sabe ao certo se o palavrão se manteve no inglês (mezzanine) ou no original italiano (caso em que seria mezzanino) ou já aderiu a um qualquer idioma ibérico. Em todo o caso, talvez devesse converter-se em mezanine, porque nós não usamos dois ZZ seguidos (aliás, parece que a forma portuguesa é mesmo mezanino). Se é italiano, deve realçar-se usando itálico ou comas.

Há uma estrutura de duvidosa solidez construída em madeira de pinho.

O projetual, que aparece várias vezes, também assume mais adiante uma forma algo arcaica: projectual. Em todo o caso, muito sofisticada.

Pobre Língua Portuguesa...



Negócios



Antiga máquina a vapor decorando a entrada da fábrica onde em tempos funcionou.
(Em La Riba, Tarragona, Espanha)


Um dos meus programas de televisão preferidos, neste momento, é o "Mestres do Restauro", no canal Discovery.  A preferência pode não durar muito, mas isso até é bom sinal, pensando bem. O certo é que, por enquanto, dura.
A preferência deve ter as suas razões. Não fica bem dizer que se gosta de uma coisa e pronto. Hoje em dia até há uma corrente de opinião segundo a qual "gostos não se discutem" e, por extensão, também não precisam de ser explicados. Mas creio que não estão a ser sinceros os que aderiram a ela. Este mundo está cheio de gente que só tem determinadas atitudes e opiniões por acreditar que é isso que os outros apreciam. Acho que se enganam uns aos outros e, infelizmente, também a si próprios. Não porque, lá no fundo, não tenham consciência das suas pequenas ou grandes hipocrisias e cedências, mas porque perdem a oportunidade de gozar a vida na sua plenitude — o que poderiam fazer se não estivessem amarrados nessa teia de falsas cumplicidades.

O programa consiste numa série de pequenas reportagens encadeadas sobre a actividade de um negociante de velharias, especialmente vocacionado para aquelas que têm a ver com a arquitectura em geral, elementos de construção, mobiliário doméstico e industrial, artigos de iluminação, pequenas máquinas e veículos, etc. O tema é assunto de um sem número de programas de televisão, sendo a maioria dos que aqui aparecem de origem americana. O estilo americano de fazer televisão não me agrada muito, entre outras razões, por causa do espalhafato e do sensacionalismo sempre presentes. Mas o programa a que me refiro é de origem britânica, o negociante tem a sua loja no País de Gales e os negócios — refiro-me às compras — são quase sempre feitos no Reino Unido (as vendas, pela Internet, podem ser feitas para qualquer parte do mundo). O estilo da  apresentação enquadra-se perfeitamente naquilo a que estamos habituados a ver vindo das ilhas.
Mas também não é essa a razão principal da minha preferência. Tem mais a ver com uma certa filosofia do negócio. Como em qualquer actividade especulativa, o objectivo é fazer lucro no conjunto das operações e, em princípio, em cada uma delas. Mas o nosso negociante nunca pretende ficar em vantagem. Não começa nem conclui nenhum negócio sem sentir que a outra parte também fica satisfeita. Chega a repartir os lucros com os seus fornecedores, quando eles superam as suas expectativas e, por vezes, paga preços superiores àqueles que lhe pedem, por achar que assim são mais justos. Em resumo: não há engano. Há luta, competição, mas ele não tem adversários, tem parceiros. Pensa sempre em voltar na próxima oportunidade, para poder fazer mais negócios.
Por outro lado, o negócio das antiguidades e velharias, tal como ali se vê praticar, gera sempre riqueza. No meio da tralha velha condenada, mais cedo ou mais tarde, às máquinas trituradoras, aterros, lixeiras, há sempre objectos capazes de despertar a atenção e o desejo de os fazer reviver noutro ambiente, noutra função, criando valor e satisfação para todos.


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Dúvidas existenciais dos internautas


Pergunte-se "ao google", que ele sabe.


E nem sequer é preciso concluir a pergunta.
"Ele" adivinha.

Ele é o maior.
Ele é a maior das dúvidas.




Ele é dúvida, mas não duvida.
Não duvida sequer em responder, mesmo que não haja pergunta!



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Irresponsabilidade




A irresponsabilidade começa por coisas bastante fúteis. Saber se o "tesouro" referido no título é real ou fictício (na verdade é hipotético: ele tinha muito dinheiro, tinha dificuldade em fazer a lavagem e tinha o hábito de o esconder nas propriedades que possuía) não é uma questão de importância crucial. Só que, com a mesma legitimidade com que o autor do título ali colocou um tesouro hipotético, também alguém podia especular com a hipotética pertença desse tesouro ao próprio autor do título. Afinal, se ele mostra tanta certeza na existência do dito tesouro (que não é confirmada no texto, vá lá...), por algo será... Não seria ele sócio do traficante? As hipóteses não são como as lebres: é que as orelhudas só se levantam quando estão mesmo lá...