quarta-feira, 16 de março de 2016

Pela sua saúde, agache-se para cagar!

Devemos aos romanos alguns avanços civilizacionais importantes, mas também alguns erros graves: cagar sentado foi um destes.
(o vernáculo é propositado, para chocar, mas não para ofender)
From barefoot running to caveman-style eating, what's supposedly
REALCLEARSCIENCE.COM

quarta-feira, 2 de março de 2016

Gato escondido com o plágio de fora




https://pedlowski.files.wordpress.com/2015/06/plagio-academico.jpg

Isto:

«Conta a lenda que o rei D. Dinis, informado sobre as ações de caridade da rainha D. Isabel e das despesas que implicavam para o tesouro real, um dia decidiu surpreender a rainha numa das suas habituais caminhadas para distribuir esmolas e pão aos necessitados. Perspicaz, reparou de imediato que a Rainha procurava disfarçar o que levava no regaço. Questionada sobre o seu destino, D. Isabel respondeu que se dirigia ao mosteiro para ornamentar os altares. Não satisfeito com a resposta, o rei quis ver o que ela levava no regaço. Após alguma atrapalhação, D. Isabel respondeu: "São rosas, meu senhor!". Desconfiado, o rei acusou-a de estar a mentir, uma vez que não havia rosas em janeiro. Foi então que a rainha D. Isabel mostrou, perante o espanto geral, as belíssimas rosas que guardava no regaço. Por milagre, o pão escondido tinha-se transformado em rosas. O rei ficou sem palavras e acabou por pedir perdão à rainha.»

http://expresso.sapo.pt/blogues/blogue_sem_cerimonia/2016-03-01-O-milagre-da-s--rosa-s--na-Educacao-e-Ciencia

… é uma adaptação bastante mal disfarçada disto:


«Conta a lenda que o rei D. Dinis foi informado sobre as ações de caridade da rainha D. Isabel e das despesas que implicavam para o tesouro real.

Um dia, o rei decidiu surpreender a rainha numa das suas habituais caminhadas para distribuir esmolas e pão aos necessitados.

Reparou que ela procurava disfarçar o que levava no regaço.

D. Dinis perguntou à rainha onde ia e ela respondeu que se dirigia ao mosteiro para ornamentar os altares.

Não satisfeito com a resposta, o rei mostrou curiosidade sobre o que ela levava no regaço.

Após alguns momentos de atrapalhação, D. Isabel respondeu: "São rosas, meu senhor!".

Desconfiado, o rei acusou-a de estar a mentir, uma vez que não era possível haver rosas em janeiro.

Obrigou-a, então, a abrir o manto e revelar o que estava lá escondido.

A rainha Isabel mostrou, perante os olhos espantados de todos, as belíssimas rosas que guardava no regaço.

Por milagre, o pão que levava escondido tinha-se transformado em rosas.

O rei ficou sem palavras e acabou por pedir perdão à rainha que prosseguiu com a sua intenção.

A notícia do milagre correu a cidade de Coimbra e o povo proclamou santa a rainha Isabel de Portugal.»


http://www.infopedia.pt/$lenda-do-milagre-das-rosas


O senhor deputado estava cheio de pressa para escrever o artigo e, como não sabia a lenda bem de cor, recorreu à pesquisa na Internet, não respeitando aquilo que os seus professores, eventualmente, lhe recomendaram quando andou na escola: que relatasse as coisas com palavras suas.

Mas a Internet, se permite a pesquisa rápida de textos para copiar, também permite, pelo mesmo mecanismo, detectar as cópias feitas. Houve quem descobrisse e acusasse o ilustre articulista maçaense de plágio. Queriam que ele fizesse referência à origem do texto… Mas sua excelência, obviamente, não quis rebaixar-se assumindo que usa métodos tão primitivos.

É uma vergonhaça, mas é momentânea. Ele brevemente descobrirá maneira de, com outra canelada, nos fazer esquecer esta. São constantes…

(E logo agora que ele se estava a mostrar tão eficiente na denúncia da poluição no rio Tejo…)

Nem tanto ao mar...




Diz-se que, para aceitar ou rejeitar alguma coisa, é preciso conhecê-la.
Não sei se é bem assim.
A vida seria impossível — por falta de tempo — se não pudéssemos fazer opções apenas com base no conhecimento prévio ao facto ou coisa abordada e tendo em conta a origem de onde provém.

(A maneira como o tal Raposo defendeu o seu livro não me leva a exigir que o dito seja queimado, mas também não me leva a procurar conhecê-lo em pormenor).

Nota: esta opinião não interessa para nada. É só para vincar que "nem tanto ao mar, nem tanto à terra" e nem tudo é tão simples — nem tão complicado — quanto parece. 
Depende sempre do ponto de vista. 
Muito ao mar, corremos o risco de nos afogarmos ou ser levados pela corrente. Muito à terra, nunca nos aperceberemos da profundidade do oceano. 


As pedras da História




Para se perceber o passado, ajuda muito tentar reproduzi-lo no presente e, depois, rever esse processo subtraindo-lhe tudo aquilo que ainda não existia na época em apreço.
A visão idílica de uns camponeses  praticando agricultura nos terraços de Machu Pichu e vivendo nas casas que estão mais acima é capaz de não ser exacta. Tendo em conta as dificuldades que, mesmo hoje, com o auxílio de máquinas, se tem para talhar um único bloco de pedra semelhante àqueles com que as casas de Machu Pichu estão construídas, é fácil perceber que o seu custo seria talvez excessivo para as possibilidades de uma pessoa vulgar. 

E uma pessoa vulgar, em qualquer época da História, é uma pessoa pobre. A superioridade numérica dos pobres não é coisa de hoje, por muito que se fale do acentuar das desigualdades. Um agricultor, para prover de alimento a ele e a sua família, teria de dedicar a maior parte do seu tempo à produção de alimentos e, a menos que conseguisse produzir muito mais do que aquilo que consumia, nunca conseguiria obter recursos para pagar a quem lhe construísse uma sólida casa de blocos de pedra bem talhados. 
A Natureza tem os seus efeitos sobre todas as coisas materiais e, no seu eterno processo de reciclagem, vai destruindo o que existe, sempre na busca de um novo equilíbrio. Sobrevive aquilo que é mais resistente: as casas de pedra e não as choupanas de palha e ramos toscos. Como as casas de pedra — mais sólidas mas muito mais caras e, por isso, raras — não chegariam para todos e como, mais do que provavelmente, houvesse uma enorme diferença de riqueza entre as populações e as suas elites, as melhores casas seriam para os ricos, que não precisavam de trabalhar a terra porque tinham ao seu serviço quem o fizesse por eles. 
Assim, aquilo que nos chega como testemunho do passado é a parte mais sólida das construções humanas, as casas onde viviam os poderosos, os templos e fontes que eles mandavam construir. As cabanas apodrecem em pouco tempo, as casas de barro leva-as a água da chuva. E nem todos teriam casa. Não é preciso recuar muito no tempo nem sair de onde vivemos: ainda podemos falar directamente com pessoas que, quando jovens, nunca viveram em casas, porque dormiam nos palheiros e currais, ao lado do gado que lhes estava entregue para cuidarem e pastorearem ou numa cabana junto às terras que tinham de cultivar para os seus senhores; comiam o que calhava e quando lho davam. 
Ficamos empolgados com aquilo que o que resta da Roma imperial nos permite conhecer do seu esplendor, mas, enquanto pensamos nisso, costumamos esquecer que essa riqueza toda não foi produzida ali, na cidade, nem pelos que nela viviam. 
Todos os caminho vão dar a Roma por uma razão: levar a ela aquilo que os que nela não viviam era forçados a produzir. O que nos chega como testemunho material da história humana são as estruturas resistentes com que uns exerceram o seu domínio sobre outros. 
Existem sólidas pontes romanas na Península Ibérica que duraram até hoje porque elas permitiam transportar para Roma o ouro que de cá levaram, escavado e lavado pelas populações locais, sob o chicote dos soldados do império. 
Sobram templos majestosos e enormes pirâmides mas praticamente nada sabemos sobre aqueles que morreram a construí-las. 
Escavam-se túmulos sempre reais, porque a populaça,  foi para a vala comum ou atirada para um poço ou algar, onde às vezes aparecem ossos empilhados, ou ficava a apodrecer nos campos de batalha para onde era enviada pelos seus amos.


terça-feira, 1 de março de 2016

Velhas do Restelo


Ia pôr aqui um link, mas não ponho: quem for capaz que adivinhe. Era sobre "velhas do restelo" (e não velhos, desta vez) que parecem não saber (ou sabem, mas... por isso mesmo) que, quando falam de perigos, fazem aumentar o próprio perigo. A quem tem altas responsabilidades devia ser exigida alta prudência na língua. Há certos conselhos que, se não forem dados, tornam-se desnecessários. E, por outro lado, tornam-se mais necessários apenas por terem sido dados. Confuso? Nem por isso. 

Tópico:
#a_velha_que_de_vez_em_quando_gosta_de_atirar_lenha_para_a_fogueira


(sem ofensa para os velhos nem para a velhice da senhora)


Garanhões


Há dias, um prestigiado semanário (na sua versão electrónica, que também é diária, horária, minutária...) sentiu necessidade de fazer uma referência às "origens portuguesas" da Julia Roberts (aliás para dizer que elas a envergonhavam, ou que as usaram para a humilhar). Ainda estou para saber se essas "origens portuguesas" existem mesmo, ou são uma criação de quem escreveu o precioso artigo motivada pela necessidade de mostrar que, afinal, tudo está relacionado connosco, por sermos o centro do mundo (nem que seja para todo o mundo nos tratar como seu penico).

Correcção: Afinal, não foi a Julia Roberts que se envergonhou das suas raízes, mas a Daisy, uma das suas incarnações (“Pizza, Amor e Fantasia” / “Mystic Pizza” -1988), embora o Expresso afirme (expressamente) que foi a actriz quem teve esse sentimento (que foi, principalmente, uma atitude — da Daisy, claro).

Já agora, não tinha mal nenhum a Julia ter origens portuguesas (tem outras e bastante variadas). Andamos há quinhentos anos a espalhar pelo mundo a nossa bem hibridada semente. O que não somos é os protagonistas desse filme: estivemos lá primeiro, tal como estivemos primeiro na Austrália, mas passarinho que muito esvoaça pouco poisa… Não fomos nós quem construiu aqueles países nem demos nessa tarefa contributo assinalável. Demo-lo sim, noutras paragens, mas nem em todas é agradecido, como se vai vendo.