sábado, 30 de dezembro de 2017

O carrapeteiro


Imagem de pesquisa Google


A "angústia" do nome em falta...

Tenho o nome debaixo da língua...
Mas não é aqui o caso. Eu tenho aqui o nome, agora mesmo relembrado por um amigo "virtual", oriundo desta mesma zona e que, por essa razão, conhece o mesmo vocabulário local que eu aprendi, já que também tem uma idade aproximada à minha — e refiro este detalhe da idade porque sabemos bem como até as palavras, tal como muitos usos e tradições, rapidamente são esquecidas, nesta época de evolução acelerada e nem sempre substituídas por outras, já que nomeiam realidades que desapareceram ou perderam o foco de interesse...
O nome é o de uma planta que lhe ardeu nos últimos incêndios e que ele tinha numa pequena propriedade que conserva por apego e saudade, lá nos arredores da sua vila do pinhal beirão. Essa planta também existia na aldeia da minha infância e era conhecida exactamente pelo mesmo nome que ele agora usou. Só que o nome é um regionalismo muito localizado e nem sequer aparece referido onde quer que seja nas pesquisas da Internet. É como se não existisse mesmo.
Carrapeteiro. A planta que dá os carrapetos.
O Google só conhece carrapatos...
Mas o "carrapeteiro", que nós conhecemos por este nome mas que decerto tem outro, é uma planta bem real, de porte arbustivo por vezes bem desenvolvido, farta de espinhos e folhagem miúda, que produz uma assinalável quantidade de umas bagas vermelhas, comestíveis mas não doces, os tais "carrapetos".
Lembro-me de os haver com toda a certeza nas encostas mais húmidas e sombrias do "Tapadão", do "Gaião" e da "Horta do Jorge", onde também, por esta quadra, se ia apanhar musgo para os presépios. Hoje restam lá os esqueletos  dos pinheiros ardidos, mas a memória das nascentes frescas que por lá havia permanece, porque as memórias, por vezes, conseguem durar mais do que os lugares. Sim, as coordenadas podem ser as mesmas, mas um lugar que perdeu todas as suas características é um lugar morto, desaparecido. Vamos lá revisitá-lo, mas muitas vezes já não o reconhecemos. 

E afinal o nome não é tão estranho assim. Às vezes é uma questão de fonética. Se uma consoante for acentuada, por exemplo. Carrega-se num "rr" que era apenas "r" e tudo fica diferente. O carrapeteiro pode ser carapeteiro e os seus frutos são carapetos...

Podia-se até pensar que esta minha "preocupação" era original, mas nem isso... Por exemplo, aqui http://fernando-outroladodahistoria.blogspot.pt/2015/11/do-carapeto-ao-carrapito.html alguém teve semelhantes e mais elaboradas dúvidas, tão semânticas quanto botânicas, porque "isto está tudo ligado" — e não é por ser lugar-comum que deixa de ser verdade.