quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Negócios



Antiga máquina a vapor decorando a entrada da fábrica onde em tempos funcionou.
(Em La Riba, Tarragona, Espanha)


Um dos meus programas de televisão preferidos, neste momento, é o "Mestres do Restauro", no canal Discovery.  A preferência pode não durar muito, mas isso até é bom sinal, pensando bem. O certo é que, por enquanto, dura.
A preferência deve ter as suas razões. Não fica bem dizer que se gosta de uma coisa e pronto. Hoje em dia até há uma corrente de opinião segundo a qual "gostos não se discutem" e, por extensão, também não precisam de ser explicados. Mas creio que não estão a ser sinceros os que aderiram a ela. Este mundo está cheio de gente que só tem determinadas atitudes e opiniões por acreditar que é isso que os outros apreciam. Acho que se enganam uns aos outros e, infelizmente, também a si próprios. Não porque, lá no fundo, não tenham consciência das suas pequenas ou grandes hipocrisias e cedências, mas porque perdem a oportunidade de gozar a vida na sua plenitude — o que poderiam fazer se não estivessem amarrados nessa teia de falsas cumplicidades.

O programa consiste numa série de pequenas reportagens encadeadas sobre a actividade de um negociante de velharias, especialmente vocacionado para aquelas que têm a ver com a arquitectura em geral, elementos de construção, mobiliário doméstico e industrial, artigos de iluminação, pequenas máquinas e veículos, etc. O tema é assunto de um sem número de programas de televisão, sendo a maioria dos que aqui aparecem de origem americana. O estilo americano de fazer televisão não me agrada muito, entre outras razões, por causa do espalhafato e do sensacionalismo sempre presentes. Mas o programa a que me refiro é de origem britânica, o negociante tem a sua loja no País de Gales e os negócios — refiro-me às compras — são quase sempre feitos no Reino Unido (as vendas, pela Internet, podem ser feitas para qualquer parte do mundo). O estilo da  apresentação enquadra-se perfeitamente naquilo a que estamos habituados a ver vindo das ilhas.
Mas também não é essa a razão principal da minha preferência. Tem mais a ver com uma certa filosofia do negócio. Como em qualquer actividade especulativa, o objectivo é fazer lucro no conjunto das operações e, em princípio, em cada uma delas. Mas o nosso negociante nunca pretende ficar em vantagem. Não começa nem conclui nenhum negócio sem sentir que a outra parte também fica satisfeita. Chega a repartir os lucros com os seus fornecedores, quando eles superam as suas expectativas e, por vezes, paga preços superiores àqueles que lhe pedem, por achar que assim são mais justos. Em resumo: não há engano. Há luta, competição, mas ele não tem adversários, tem parceiros. Pensa sempre em voltar na próxima oportunidade, para poder fazer mais negócios.
Por outro lado, o negócio das antiguidades e velharias, tal como ali se vê praticar, gera sempre riqueza. No meio da tralha velha condenada, mais cedo ou mais tarde, às máquinas trituradoras, aterros, lixeiras, há sempre objectos capazes de despertar a atenção e o desejo de os fazer reviver noutro ambiente, noutra função, criando valor e satisfação para todos.