sábado, 30 de dezembro de 2017

O carrapeteiro


Imagem de pesquisa Google


A "angústia" do nome em falta...

Tenho o nome debaixo da língua...
Mas não é aqui o caso. Eu tenho aqui o nome, agora mesmo relembrado por um amigo "virtual", oriundo desta mesma zona e que, por essa razão, conhece o mesmo vocabulário local que eu aprendi, já que também tem uma idade aproximada à minha — e refiro este detalhe da idade porque sabemos bem como até as palavras, tal como muitos usos e tradições, rapidamente são esquecidas, nesta época de evolução acelerada e nem sempre substituídas por outras, já que nomeiam realidades que desapareceram ou perderam o foco de interesse...
O nome é o de uma planta que lhe ardeu nos últimos incêndios e que ele tinha numa pequena propriedade que conserva por apego e saudade, lá nos arredores da sua vila do pinhal beirão. Essa planta também existia na aldeia da minha infância e era conhecida exactamente pelo mesmo nome que ele agora usou. Só que o nome é um regionalismo muito localizado e nem sequer aparece referido onde quer que seja nas pesquisas da Internet. É como se não existisse mesmo.
Carrapeteiro. A planta que dá os carrapetos.
O Google só conhece carrapatos...
Mas o "carrapeteiro", que nós conhecemos por este nome mas que decerto tem outro, é uma planta bem real, de porte arbustivo por vezes bem desenvolvido, farta de espinhos e folhagem miúda, que produz uma assinalável quantidade de umas bagas vermelhas, comestíveis mas não doces, os tais "carrapetos".
Lembro-me de os haver com toda a certeza nas encostas mais húmidas e sombrias do "Tapadão", do "Gaião" e da "Horta do Jorge", onde também, por esta quadra, se ia apanhar musgo para os presépios. Hoje restam lá os esqueletos  dos pinheiros ardidos, mas a memória das nascentes frescas que por lá havia permanece, porque as memórias, por vezes, conseguem durar mais do que os lugares. Sim, as coordenadas podem ser as mesmas, mas um lugar que perdeu todas as suas características é um lugar morto, desaparecido. Vamos lá revisitá-lo, mas muitas vezes já não o reconhecemos. 

E afinal o nome não é tão estranho assim. Às vezes é uma questão de fonética. Se uma consoante for acentuada, por exemplo. Carrega-se num "rr" que era apenas "r" e tudo fica diferente. O carrapeteiro pode ser carapeteiro e os seus frutos são carapetos...

Podia-se até pensar que esta minha "preocupação" era original, mas nem isso... Por exemplo, aqui http://fernando-outroladodahistoria.blogspot.pt/2015/11/do-carapeto-ao-carrapito.html alguém teve semelhantes e mais elaboradas dúvidas, tão semânticas quanto botânicas, porque "isto está tudo ligado" — e não é por ser lugar-comum que deixa de ser verdade.





segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Para além das boas intenções...



A argumentação usada em certos textos que por aqui circulam sobre os caudais e armazenamentos nas barragens do Fratel e de Belver revelam desconhecimento de como funcionam aquelas estruturas e é susceptível de contribuir, por essa razão, para o descrédito de uma causa válida como é a defesa do Tejo contra os poluidores.

Tentando, como leigo minimamente informado, explicar a razão desta falha:
Trata-se de aproveitamentos hidroeléctricos de fio-de-água, o que quer dizer que funcionam para produção de energia apenas no nível máximo, entendendo-se por nível máximo o enchimento total com pequenas e momentâneas flutuações. Quando não chega de montante água para utilizar, elas simplesmente são mantidas desligadas como forma de manter o nível máximo. No caso destas barragens, que estão (teoricamente) sempre cheias, não faz qualquer sentido falar em variações do armazenamento como forma de comparar os caudais do rio em diferentes momentos. Faria sentido, sim, falar das quantidades de energia produzidas em diferentes períodos. Isso já seria matéria para comparação, porque está directamente relacionada com os caudais.

A Barragem de Alcántara, que é de armazenamento, já pode exercer a função de regular caudais. Se a sua função fosse unicamente essa, seria possível manter um caudal regular ao longo do tempo, baseado na aportação de água recebida. Mas ela foi concebida para a produção de energia. E sendo de armazenamento, a operadora tem todo o interesse em produzir energia nos períodos em que isso seja comercialmente conveniente. É por essa razão que pode haver certa dificuldade em manter caudais regulares, pois, para isso, a empresa seria muitas vezes obrigada a "largar" água contra a sua própria conveniência. Certamente que essas questões técnicas estão reguladas pelos tratados internacionais, mas talvez não tenham descido ao nível de pormenor que evitaria eventuais arbitrariedades cometidas por quem "guarda" a água.


Para dar um contributo válido, não basta ter as melhores intenções. É bom, também, estar-se informado ou procurar o apoio de quem o esteja. Os leitores minimamente informados vão perdoar as incorrecções (tal como, por exemplo, se têm que perdoar os erros ortográficos em muitos contextos — repito: só para exemplificar). Mas nem todos os leitores são minimamente informados e, entre os que o são, há que contar ainda com os mal-intencionados, neste caso, incluindo os que estão ao lado dos poluidores e que vão explorar essas fraquezas.


sábado, 18 de novembro de 2017

Não lutes contra um porco


Explorar um ignorante total não deve dar resultado. Pelo menos não deve dar um resultado previsível. E o que não é previsível pode ser até inconveniente. Não é caminho a seguir. A menos que se eduque um pouco (mas não em excesso) o ignorante total, de modo a que ele tenha aquele mínimo de quase ignorância susceptível de ser explorado.

(Esta era a parte maquiavélica...)

Advirto desde já que me estou nas tintas para o facto, mais do que comprovado, de que aquilo que é vantajoso geralmente não deve ser assumido. A velhacaria está em fazer sem dizer, ou dizendo até coisas contra a velhacaria que, ao mesmo tempo, se pratica. A sinceridade não ajuda ninguém a enriquecer (a não ser os insinceros que estejam por perto e se aproveitem).
Para dizê-lo com maior rapidez: os macacos têm esperteza suficiente para enganar os outros macacos e não só. No entanto, são incapazes de escrever ensaios filosóficos. Do mesmo modo que há muito filósofo a passar por pateta, sem necessariamente o ser. De maneira que não é muito útil ser filósofo no meio dos macacos... Qualquer macaco põe com a maior facilidade cuspo atrás da orelha de um filósofo. Cuidado, portanto.
Tendo a sua dose de macaquice (dose moderada, senão lá se vai a autoridade do macaco chefe), qualquer macaquito derruba, pela rapidez ou pela popularidade, ou por uma espertice qualquer, um argumento inteligente (não esquecendo que, tantas vezes, um argumento inteligente é aquele que não se fez...).
E nunca esquecer que, em última instância e para te vencer definitivamente, o macaco vai atirar-te merda à cara, em qualquer altura. Não tens hipótese contra o macaco. Contra nenhum dos macacos. Nem contra o macaquito que te atira merda à cara, nem muito menos contra o macaco chefe que não o faz, porque o seu estatuto já não lhe permite sujar as mãos. Estás perdido se caíste no meio dos macacos. Foge daí assim que puderes.


O ignorante total não sabe nada. Para os devidos efeitos, não existe. Não se conta com ele. Pode ser perigoso, porque é imprevisível, mas não tão perigoso como aquele que sabe qualquer coisa mas que não passa daí. O quase ignorante é o candidato perfeito a soldado da desinformação. Disse soldado, não oficial. Pode até ser furriel ou sargento, mas daí não passa. Os oficiais da desinformação estão bem informados. O soldado não. O soldado sabe disparar uma arma com perícia, mas não tem a menor ideia de que material é feita. Nem precisa de ter. Desde que abata quem lhe aparecer pela frente, tudo o mais é supérfluo.

Especialmente a filosofia.

Como é que é aquela frase?
Nunca discutas com um estúpido...
Nunca lutes corpo a corpo com um porco...
Por aí anda a coisa.

O macaco, o estúpido, o soldado, o porco — podem estar a ser explorados. Mas quem na verdade te venceu foi o macacão que os explora. E que, a seguir, até pode vir dar-te uma palmadinha de conforto nas costas, para que, em qualquer altura, o julgues teu amigo.

A política é tramada.
A política e não só.

Perigosos mesmo são os macacões.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Os padrinhos


O caciquismo, o nepotismo, o amiguismo, o compadrio não são bem culpa daqueles que os praticam. É preciso um grande esforço para alguém deixar de dar preferência a quem lhe inspire maior confiança, como pode ser o caso dos mais próximos. Quando uma determinada família política, que pode ser também família em sentido restrito, se instala no poder durante muito tempo, dificilmente de lá sai. Tudo começa a girar à volta daquele núcleo e fora dele pouco existe. Num tal sistema, a palavra democracia começa a fazer cada vez menos sentido. As decisões importantes nunca são tomadas dentro das instituições próprias, mas sim pela "capelinha" e, dentro dela, pelo(s) cacique(s) de turno. Eles são cada vez mais poderosos, é certo, mas será que se deve esperar que renunciem a esse poder? 


terça-feira, 24 de outubro de 2017

Evitar o esquecimento




Um amigo meu gastou centenas, milhares de horas a desenvolver uma paixão sua: criar miniaturas de elementos arquitectónicos da paisagem rural da sua terra de nascimento. Moinhos e lagares, fornos, eiras e fontes, castelos e pontes, janelas... Mas não fez aquilo com uns materiais quaisquer. Foi aos próprios locais, às ribeiras da sua infância, buscar seixos com que construir aquelas paredes, recolheu pedaços de arbustos com os quais fazer os telhados, reproduziu minuciosamente os artefactos associados a cada uma das miniaturas, as pás e vassouras do forno, as medidas da farinha dos moinhos... Depois de ter dezenas dessas miniaturas, com as quais fez algumas exposições, achou, e bem, que elas mereciam ficar em mostra permanente, talvez num lugar da sua terra. Acabou por as oferecer a uma colectividade local, que disponibilizou um espaço para o efeito, mas que, tendo outras preocupações e afazeres, talvez não tenha dado à colecção uma atenção mais continuada, que merece. Entretanto, as coisas foram mudando, o espaço acabou por ficar encerrado, rumando a um esquecimento que o meu amigo, muito justamente, quer evitar.

Pela minha parte, pouco mais posso fazer do que divulgar o assunto, esperando até que o eco chegue a quem tenha os poderes e os meios.

As orelhas entretanto arrefecem


Agora o Costa fica no papel do miúdo que, depois de levar um belo puxão de orelhas por ser descuidado, fez os trabalhos de casa num instante. Até o C. A. Amorim já lhe fez umas festinhas na cabeça. O professor abanou a cabeça afirmativamente e por aí adiante...

Isto é o que eu tinha escrito há dois dias.

E por aí adiante... E por aí adiante é que foram pedidos esforços a algumas instituições dependentes do Estado, prontamente atendidos (até porque, no calor das festinhas, beijos e arrependimentos tardios, ia parecer mal recusar). Apesar disso, alguma instituição alertou que sim, mas precisava de mais meios. Resta saber se, quando tudo arrefecer e as chuvas, se vierem, arrastarem as cinzas pela encosta abaixo, as tais dificuldades de meios não pesarão mais do que as boas vontades de agora.

A história do poupa aqui, poupa ali, foi levada longe de mais. A diminuição do défice... nem só de défices baixos vive o país.


terça-feira, 5 de setembro de 2017

Madeira queimada





Diz quem sabe (viu, assistiu, esteve por dentro , não intervindo directamente no processo, mas acompanhando de perto o seu desenvolvimento) que depois dos fogos de 2003/2005 foi um regabofe de lucros no negócio da madeira queimada, sempre à conta da desgraça alheia.

A lógica do mercado e da iniciativa privada é aquilo que é, mas podia haver mais escrúpulos por parte dos "empresários" oportunistas — sabendo que a oportunidade (oportunismo é o excesso, o abuso) faz parte do negócio…
Os negócios por aquela zona também sofreram, e de que maneira, um grande abalo com a crise de 2008, mas a maior parte da madeira de pinho que saía do chamado Pinhal Interior, mas não só, acabava  no Levante espanhol, especialmente na zona de Castellón, onde estava e está concentrada a indústria de azulejos e pavimentos, grande consumidora de paletes. Os produtos daquela indústria são extremamente pesados, fabricam-se em enormes quantidades e são transportados para as construções do mundo inteiro. As paletes de madeira são, por enquanto, mais baratas do que qualquer alternativa feita de produtos sintéticos.


Não havendo, em Espanha, madeiras em quantidade suficiente para alimentar aquela indústria, foi necessário importar. Primeiro de Portugal, talvez por estar mais perto, com as vantagens sempre presentes na proximidade. Mas depressa a madeira portuguesa se tornou insuficiente para a crescente procura e houve que começar a importar de outras zonas da Europa — quase exclusivamente nos países bálticos, para ser mais preciso. Ainda assim, o negócio deu em crescer tanto que se tornou necessário adquirir ainda maiores quantidades de madeira, se possível a preços mais baixos. Daí que começaram a vir barcos inteiros carregados de pinho do Brasil e do Chile. Alguma desta madeira acabou por se estragar devido ao alto teor de humidade e às condições do transporte, mas mais tarde esse problema foi resolvido, ao que parece.

Na sequência de algumas épocas de  incêndios em Portugal, houve naturalmente um aumento da quantidade de madeira disponível, a baixos preços. Tal como agora, os proprietários estavam interessados em vender rapidamente, mas ao mesmo tempo viam os preços baixar para valores quase ridículos, ou não conseguiam mesmo encontrar comprador. Em tais condições, os intermediários (os donos das serrações) pagavam aquilo que que queriam e faziam-no quando lhes apetecia. Havia alguns que abusavam mais do que outros, mas ao que constava a prática era generalizada.

É claro que o espanhol é ainda mais esperto do que o português e não deixou escapar a oportunidade de lucrar também. Ia lá deixar todo o proveito nas mãos dos parceiros que tinha deste lado?... Espremeu tudo quanto pôde e depois, quando já não precisava deles, deu-lhes mais ou menos com os pés. Negócio é negócio e as madeiras do norte da Europa e da América do Sul eram as que lhe garantiam o crescimento da actividade. Amigos amigos, negócios à parte…


Existiu naquela parte de Espanha um bom número de produtores de paletes de madeira, mas o negócio tem sido ultimamente dominado por muito poucos. Esta testemunha teve oportunidade de assistir especialmente ao crescimento de um deles, aliás aqui relatado como exemplo, enquanto outros iam sendo absorvidos ou fechavam as portas (fenómeno este que por cá se repercutiu, ao nível das serrações, na sua maioria encerradas).


Espero que se tenha percebido como os altos e baixos do negócio da madeira de pinho portuguesa se tornaram irrelevantes neste contexto. Se os preços já estão comprimidos em condições normais, devido à concorrência de outras zonas, o que se pode esperar depois de uma época de incêndios em que, por um lado, a qualidade da madeira diminui — diminuição de qualidade essa que se agrava a cada dia que passa, por deterioração  —  ao mesmo tempo que aumenta a oferta de uma matéria-prima que já ninguém quer?
  

in vino veritas



Já a minha avó dizia que "quem não sabe latim fica assim" — e acompanhava com um gesto a significar incompreensão. Pois eu, que, tal como a minha avó, nunca aprendi latim, também fiquei assim. Mas só ao princípio, porque agora já não estou assim, embora continue… sem saber latim.
(Foi prometido. Aqui vai. Entendam isto como a dramatização de um pequeno incidente — na verdade já foram mais e vêm-se repetindo com alguma regularidade. Caso sem gravidade, evidentemente, que nem os tempos nem esta estância são apropriados para assuntos de maior calado.)
In vino veritas…
O português deriva do latim, mas parece que deriva pelo lado de baixo. A nossa relação com Roma (ou, melhor, a relação de Roma connosco) fez-se, não através da cultura das elites, mas no dia-a-dia da ocupação, da exploração dos recursos do território recorrendo a mão-de-obra escrava das populações locais.
Para ser mais gráfica a descrição, o ouro foi para Roma, mas quem escavou as minas foram os "ibéricos", comandados pelo chicote dos capatazes e a espada dos soldados romanos. E com quem haviam os imperadores e os senhores cultos de Roma de se relacionar por cá, se isto era povoado por seres mais ou menos "selvagens"?
Entretanto, reza a história, aquele império foi-se abaixo, vieram de todo o lado bandos de desordeiros que invadiram mais do que ocuparam, mas certamente deixaram por cá descendência, até porque é esse o costume. Quando para aqui começaram a vir os adoradores do profeta, teoricamente abstémios, já a população local era uma mistura de tudo e mais alguma coisa. Talvez porque o preconceito religioso é, ou era, um bom travão para a promiscuidade, não terá sido muito profunda a miscigenação com estes últimos ocupantes, oficial e publicamente esquisitos em coisas mundanas, mas ao que parece menos rigorosos quando em privado, que a hipocrisia não é exclusivo só de uns quantos. Por isso, deixemos na dúvida esta última conclusão.
Mas isto é tudo assunto para ser estudado, se é que não o foi ainda, por cientistas, historiadores e outra gente com mais paciência e perseverança — além da ciência, claro. Do que aqui se trata é de estabelecer porque é que uma frase romana, aliás incompleta, aparece aqui citada.
Uma coisa que têm as citações do latim é que são quase sempre traduzidas depois de citadas. Têm de ser, para que se entendam. Mas então, se a nossa língua deriva do latim, não deveria ser fácil, para nós, perceber tudo com facilidade? Responda quem souber…
In vino veritas, in aqua sanitas — no vinho a verdade, na água a saúde… Pronto! Lá tinha que aparecer um palavrão para estragar tudo. Sanitas? Tinham logo que falar de sanitas? Sanitas, sanitário, sanidade, mens sana in corpore sano, porra que não se percebe nada! E fica a conversa estragada.
Pois é isso mesmo que acontece. Fica estragada a paciente construção. Regada com vinho, fica à vista a verdade (sempre é verdade que "in vino veritas") dos fracos alicerces onde assenta. Sem vinho, tudo à vista é polido e organizado. Mas, quando a zurrapa ataca, está tudo estragado… Vê-se o que está por baixo.
Bom, em conclusão: como se vê, está-se-me a acabar a paciência e a ciência. De maneira que terão de me desculpar apenas mais um pequeno atrevimento, um conselho talvez, a oferta de uma daquelas CARAPUÇAS QUE SÓ SERVEM EM CABEÇA QUE AS ACEITE.
Se o vinho vos faz mal, não bebam.
Se não puderem evitar beber, evitem ao menos escrever quando estiverem com os copos.
Se, ainda assim, não conseguirem evitar escrever, não publiquem. Usem, para fins mais higiénicos, o papel (virtual) onde escreveram.
Tudo isto, claro está, apenas se o vinho vos faz mal.
(Já agora, parece que o vinho também dá sono. Se for o caso, durmam até que passe. Além de escrever, evitem também falar.)
Dominus vobiscum.


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Varrer as cinzas


««« As chamas que vão consumindo a floresta de Oleiros, no distrito de Castelo Branco, puseram esta quinta-feira a aldeia de Orvalho em alvoroço, com a população a acreditar que o fogo é mais um empurrão para as pessoas abandonarem o interior do país.
"Parece que querem correr com a gente, que querem que as pessoas saiam do interior do país", desabafa Jorge Marques, artista plástico que trocou este ano Lisboa pela aldeia de Orvalho, à procura de calma e de uma maior proximidade com a natureza. »»»




Isto começa a parecer demasiado óbvio. Eu há que tempos que o digo. E continuo a dizer. Exista ou não uma vontade deliberada — traduzida ou não em actos capazes de acelerar o processo, por parte de pessoas ou entidades interessadas —, haverá sempre quem beneficie da desertificação acelerada do interior. A queima extensiva do território não pode deixar de contribuir para isso. 
Prometem-se reformas, mas, das duas uma: ou as reformas são feitas com as pessoas que vivem no terreno ou são feitas unilateralmente por parte de alguma entidade que pode, ou não, ser o Estado, mas certamente sob a sua supervisão ou conivência. O que parece mais provável é que vingue a segunda hipótese.
A população das zonas atingidas pelos fogos é constituída maioritariamente por pessoas idosas (em muitos lugares quase exclusivamente), que vão paulatina e naturalmente desaparecendo, e não se vê que haja movimentos migratórios capazes de as substituir. Mesmo o regresso de uma parte dos migrantes que fizeram a sua vida activa noutras regiões é apenas uma forma de adiar o despovoamento total: são quase idosos, a partir dos 60 anos de idade, que vão eventualmente dedicar-se a uma agricultura de entretenimento, nem sequer de subsistência. Vão usar o dinheiro das suas reformas para dar uma suposta continuidade à vida dos seus pais, mas apenas isso. É apenas saudosismo e actividade lúdica (até porque parece mal ficar todo o dia em casa ou na taberna local, se ainda existir…) Podem construir umas vivendas com as poupanças acumuladas, adquirir mais umas parcelas de terreno para juntar àquelas que herdaram, comprar uns tractores e alfaias, adiando por 15, quando muito 20 anos, o abandono definitivo das terras. Pode até acontecer que as gerações seguintes façam uma surpresa regressando em força, mas de momento não é isso o que se vê. Em todo o caso, a julgar pela aldeia onde nasci — que se enquadra muito bem neste retrato —, os terrenos que há 20-30 anos ainda estavam cultivados encontram-se agora totalmente abandonados, cheios de mato e em grande parte nem sequer florestados. Muitos dos reformados já perceberam que o esforço não lhes ia compensar e que talvez não fosse o regresso à agricultura a melhor maneira de gastarem as suas prestações mensais.
Alguns, entretanto, plantaram eucaliptos, tanto quanto lhes foi permitido. Mas, como periodicamente as matas são consumidas pelo fogo antes de darem o esperado proveito, os proprietários vão desistindo, cansados. Um dia aparecem por aqui uns representantes de certas empresas ou grupos industriais com propostas para a aquisição de terrenos. Vão comprando e depois plantam eucalipto, que é o mais rentável no curto prazo. Isso já aconteceu no passado, quando essas empresas compraram pequenas courelas e as juntaram em parcelas de 50 hectares, condição necessária para que a plantação fosse, na altura, financiada pelo Banco Mundial (recorde-se que é uma instituição das Nações Unidas).

Nada indica que esta estratégia global de florestação em grande escala com espécies de rendimento rápido (leia-se eucalipto) esteja a ser revertida e seria até ingenuidade ou mesmo idiotice acreditar que tal fosse possível no momento político actual. A legislação que suspende o aumento da área plantada é meramente temporária. Quando chegar um ciclo político de sinal contrário, ela será revertida, se é que alguma vez chegará a produzir efeito.
As tiradas poéticas dos que julgam possível travar o processo de desertificação não passam disso mesmo: são poesia, frases bonitas para aquecer o coração e alimentar saudades. Estas terras não têm a capacidade de sustentar uma população com base na agricultura, porque simplesmente elas não têm qualquer capacidade agrícola. A agricultura, como qualquer outra actividade económica, precisa de ser sustentável. E isso, nos tempos que correm, não tem nenhum outro significado senão o de serem capazes de se pagarem a si próprias e, se possível, gerarem algumas mais valias. Se alguém considera agricultura aquilo que fazem os reformados quando se esforçam por arremedar aquilo que faziam os seus pais e os seus avós… Essa "agricultura" não foi capaz de os sustentar. Empurrou-os daqui para fora. O êxodo rural começou já há muitos anos. O regresso parcial é apenas uma forma de criar a ilusão de que pode ser revertido.
Bem sei que este discurso é inconveniente, especialmente para os políticos locais,  que precisam de votos para se manterem nos seus lugares cada vez mais esvaziados de conteúdo, mas eu não sou político nem tenho aspirações a sê-lo. Posso dar-me ao luxo de ser (quiçá apenas parecer) um tremendo pessimista. O pessimismo não é simpático e por isso não atrai votos. E sofre ainda do grave mal que é a capacidade de acelerar o processo que critica. Mas neste caso o optimismo também não impede o desfecho, apenas o vai adiando, porque, aliás, "resistir é preciso". "Só saio daqui arrastado à força", "Enquanto há vida há esperança", "Isto não pode morrer", …  são tudo frases que apelam ao sentimento. Mas o xisto e o granito são duros, os calhaus improdutivos, a água é cada vez mais escassa e já passa contaminada com a química da indústria que vive da única matéria-prima existente… até o ar é mal-cheiroso, por causa dessa mesma química que sai das chaminés… vieram os fogos e os poucos turistas — pobre miragem salvadora… —  foram embora assustados quase todos, porque só resta cinza numa paisagem enegrecida.
Olha-se para o mapa das áreas ardidas e parece que até o vento foi cúmplice. Os fogos vieram lá de longe, foram alastrando em leque, alargando e espalhando as frentes, até se encontrarem todos junto ao rio, chegando a transpô-lo, a avisar esta outra área de que também não está a salvo.

Optimismo?...

terça-feira, 11 de julho de 2017

A minha casa (não) é um castelo...

Alguém pôs uma foto no Facebook,...




... num grupo de fotos de locais abandonados.
Uma das fotos era de um painel de azulejos existente numa casa abandonada...



... que até tem uma torre com ameias.

Com algum (bastante) trabalho, conseguiu-se a tradução (para francês) do que está escrito nos azulejos.

Nahiz ez den gaztelua,
Maite dut nik sor-lekhua,
Aiten aitek hautatua.
…….Etxetik kanpo zait iduritzen
Nonbeit naizela galdua,…….
Nola han bainaiz sorthua,
Han utziko dut mundua,
Galtzen ez badut zentzua.


ce n'est pas un château
c'est ma maison natale
construite par les ancêtres
...(si je m'en éloigne
je me sens perdu)...
c'est là que je suis né
c'est là que je mourrai
ou alors? que je perde la raison!

Jean-Baptiste ELIZAMBURU (1828-1891)



sábado, 8 de julho de 2017

Garantias


Bam'lá ber…

Eu até tenho ali uns milhares de toneladas de cobre, que são reais, existem mesmo, são minhas e posso dá-las como garantia de empréstimo.
Chego ao banco A, peço um empréstimo, que me é concedido, dando como garantia o metal.
Vou ao banco B e faço o mesmo.
Ao banco C e assim sucessivamente…
Empréstimos quase ilimitados sobre o mesmo stock de metal...
Quando eu começar a deixar de pagar os empréstimos, porque entretanto já coloquei a massa a bom recato, quem é que vai ficar com o cobre?
Isto é possível no mundo real?



domingo, 5 de março de 2017

Imprecisão vocabular



Excelente notícia para a economia do país, mas é pena contribuir para o "avacalhamento" da Língua. Quem tem ambições de excelência não pode ser tão impreciso no uso do vocabulário: a metalurgia não é aquilo que aparece referido no texto (embora também possa estar incluída).
Percebe-se o que se quer dizer, por se tratar de realidades muito próximas, mas é aí precisamente que está o mal. Aderiram à moda de usar os termos arbitrariamente. Precisa-se de maior eficácia no ensino do Português.

(Dentro do conjunto das indústrias do metal, a metalurgia engloba só aquelas que vão até aos chamados produtos acabados, como chapas, tubos, perfis diversos — que, por sua vez, vão ser empregues nas indústrias metalomecânicas.)

(Aliás, a imagem que ilustra o "post" do Facebook esclarece bem a que se refere a notícia.)




sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Diz-se que as aparências não contam






É de tal ordem o dramatismo da paisagem do Grand Canyon, que o elemento ali mais destacado pela sua natureza passa quase despercebido.
Eu gosto de pesquisar imagens no Google Maps, porque permitem (quando estão bem referenciadas) perceber melhor como é o sítio que se vê no mapa ou na imagem de satélite.
Pois não consegui encontrar uma única imagem (a excepção é esta última) onde se pudesse ter uma vista do cone de cinzas vulcânico designado como Vulcan's Throne.
Numa paisagem dominada pelo espectáculo dos penhascos a perder de vista do canyon, um pequeno monte arredondado nem chega a dar nas vistas.
No entanto é ele que, ali, constitui a excepção, o elemento que se destaca. Apesar de não ser o único aparelho vulcânico da zona, quase tudo o resto que há em redor é o rio e as ravinas que ele escavou ao longo de milhões de anos.
O vulcão não passa de um discreto espectador do drama que está em cena (a menos que se lembre de tossir).


 

domingo, 22 de janeiro de 2017

O polvo que abre o frasco






Às vezes, uma experiência mostra uma coisa diferente daquilo que parece mostrar (o que não quer dizer que mostra exactamente o contrário). Isso pode ser o normal resultado de um conjunto de circunstâncias aleatórias (o acaso) ou pode acontecer que a experiência esteja manipulada para produzir o efeito desejado. Se a nossa atitude for de um razoável cepticismo e tivermos alguns conhecimentos sobre o que estamos a ver, não seremos enganados — não tiraremos a conclusão pretendida por quem nos mostra a "experiência", mas outra quiçá mais próxima da realidade.
Um polvo é colocado dentro de um frasco, por sua vez dentro de um aquário ou tanque. O frasco é fechado com uma tampa roscada, tendo pintadas umas setas para indicar ajudar a perceber a rotação. A tampa não é fechada com muito aperto para que, como é compreensível, o polvo possa "fazer" aquilo que se quer mostrar que ele faz: que ele consegue abrir o frasco e escapar. Parecendo que ele cumpriu a primeira parte, ver-se-á no final que ele não saiu do frasco. Ele gosta de se acomodar em cavidades, mas desde que não estejam totalmente fechadas. A parte menos rigorosa da demonstração consiste na rotação da tampa do frasco. O autor pretende mostrar que o polvo aprende a rodar a tampa, o que supõe ele saber também que, rodando num determinado sentido, ela se abrirá. O polvo estaria a fazer aquilo intencionalmente. Mas talvez não esteja, pelo menos ao princípio: ao ver-se encerrado, sem possibilidade de escapar (isso, percebe ele muito bem), começa a mexer-se de forma aleatória, tentando interagir com o recipiente para o reabrir, explorando as possibilidades. Ele empurra e arrasta não só a tampa, mas qualquer superfície com a qual consiga entrar em contacto, o que inclui, naturalmente, a tampa do frasco. Ah, mas ele roda-a para o lado correcto — dirá o espectador mais crédulo. Ele sabe para que lado rodar. Sabe?
Vejamos, para que a tampa rode, ele terá de exercer alguma pressão sobre ela. Como não existe nenhuma parte que ele possa empurrar, ele desloca-a por atrito. Mas ele, além da pressão, tem uma capacidade adicional: a sucção das ventosas, que lhe permite aderir às superfícies sobre as quais são aplicadas. Com isso, pode atrair para si a tampa e, aliviando a pressão que ela iria exercer sobre a rosca se apenas empurrasse — o que a impediria de rodar —, deixá-la como que a flutuar. Se, ao mesmo tempo, girar a parte do corpo que está em contacto com a tampa, ela irá girar também. Isso não acontece de forma contínua, porque ele faz movimentos aleatórios (embora aos mais crédulos pareçam conscientes e intencionais). Se ele girar no sentido em que a tampa se fecha (o que também se vê acontecer no vídeo), ela não se moverá com tanta facilidade, porque é muito maior a probabilidade de ficar a fazer pressão sobre a rosca. Quando ele gira no sentido em que a tampa se abre, a tampa ficará mais vezes a flutuar e, com isso, o movimento fica facilitado. É uma questão de probabilidades.
Mas temos de conceder que o polvo tem a capacidade de aprender por tentativa e erro. Se ele perceber que determinados movimentos — e até, para maior complexidade, determinada conjugação de movimentos — fazem com que a tampa se mova afastando-se, vai alterar o seu comportamento, adequando-o ao meio sobre o qual interage.
Nem tudo é casualidade no modo como o frasco abre. Mas não é, de forma alguma, o resultado exclusivo de um acto premeditado.
O polvo abre o frasco não por saber como abri-lo, mas por conseguir aprender a fazê-lo. Se isso aconteceu por algumas circunstâncias terem sido mais favoráveis… isso nada tem de extraordinário. Afinal, a sorte sempre ajuda, o azar sempre contraria. Não ficou cem por cento demonstrado que o polvo aprendeu a abrir o frasco. Para os cépticos, nunca poderia ser demonstrado que ele já sabia como fazê-lo. Mas é extraordinário que consiga aprender a adaptar o seu comportamento, lá isso é.
No vídeo, nós vemos uma parte da relação que existe entre o polvo e aquele frasco, mas não a vemos toda. Quando a tampa é colocada, o polvo parece não estar a fazer nada para tentar sair, o que lhe seria fácil. É sabido que os polvos gostam de se alojar em cavidades, o que muito bem sabem os pescadores, ao oferecerem-lhes recipientes onde se esconder — e posteriormente serem capturados, porque o Homem tem maior capacidade de previsão do que o polvo… O frasco poderia muito bem já estar ali há algum tempo. O polvo já o considerava o seu esconderijo. A tampa foi um elemento estranho que importava remover, especialmente porque fechava a saída do esconderijo, o que o polvo sempre detecta e de imediato tenta resolver. Por falta de dados concretos, não sabemos como o polvo reage às cores. A tampa era vermelha. Era seguramente bastante diferente do resto do frasco. Se tivesse sido colocada uma tampa de material transparente que, simultaneamente, não fechasse totalmente a saída — por ter algum orifício suficientemente largo — talvez o polvo nem tivesse feito nada. Afinal, ele expulsou a tampa, mas permaneceu dentro do frasco (apesar de o título ser "Octopus Escapes Jar"). Ele não queria simplesmente escapar. Ele queria poder escapar quando necessário. A tampa veio ameaçar essa possibilidade. Por isso ele a removeu. Mas o polvo é um animal de inteligência mais evoluída. Muito poucos outros bichos, admitindo que eram capazes de abrir um recipiente onde tivessem sido encerrados, teriam ficado do local. Teriam antes fugido, aterrorizados. Ele ficou. As circunstâncias mudaram, voltaram a não ser ameaçadoras. A palavra-chave para o polvo é a adaptabilidade... (*)
A experiência está manipulada, mas isso apenas se pretendeu demonstrar que o polvo sabia, desde o início, como abrir o frasco (até porque podia já ter sido ensinado…). É, por outro lado, inconclusiva, se pretendeu demonstrar que o polvo aprendeu a abrir o frasco. A abertura pode ter resultado de circunstâncias aleatórias mais favoráveis (era mais fácil ao polvo abrir o frasco do que fechá-lo). Que o polvo é mais inteligente do que grande parte da bicharada, também parece estar fora de questão.
Depois de ler este texto, parece que não se chegou a conclusão alguma. O leitor podia esperar que se quisesse desmentir a visível intenção de quem fez o vídeo. Mas não é assim. A única demonstração que aqui se pretende fazer é a de que as coisas evidentes que vemos quase nunca são tão evidentes como parecem.
O polvo é que a sabe toda… Tentem lá encarcerá-lo...



***

(*) Um comentário que está no YouTube diz a maior parte disto gastando menos tinta:

I like how in the end he's like "actually I'm pretty comfy here, I just wanted you to know I can leave whenever I want".


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O ouro do Tejo




O presente texto não pretende nem pode pretender ser um documento exaustivo nem rigoroso, pela simples razão de que o seu autor não está "certificado" para tal. Deve ser lido sob esta reserva e entendido apenas como um contributo interessado, na tentativa de descobrir pistas para a compreensão do que foi — ou pode ter sido — o passado de uma parte da população do território onde nascemos.


* * *

Recordamo-nos de ouvir histórias relacionadas com pessoas que no passado se dedicaram à pesquisa do ouro na freguesia de Belver, em especial no curso inferior da Ribeira de Canas.
Algumas viagens por zonas próximas e a procura em diversas fontes de informação revelaram-nos a presença de importantes vestígios de exploração aurífera a céu aberto na Ribeira de Codes, principalmente no concelho de Vila de Rei e também, em menor escala, no de Mação.
A curiosidade pelas ciências da Terra, em especial a geologia, permitiu-nos relacionar, ainda que de uma forma que não se presume  rigorosa, as características dos locais desses vestígios com outros locais próximos, situados na mesma estrutura geológica e formular a hipótese de também existirem, nestes últimos, na freguesia de Belver, depósitos de aluvião semelhantes àqueles no passado explorados, podendo eles ser a origem das pequenas quantidades de ouro que, segundo a tradição oral, foram no passado retiradas da Ribeira de Canas e de outros locais da freguesia.


 (Foi consultada bibliografia dispersa, especialmente na Internet.)



* * *


Olhando de relance para a Carta Geológica, nas regiões de Milreu, Codes, Mação e também na freguesia de Belver, verifica-se a ocorrência de dois tipos de conglomerados que, nas zonas referidas situadas mais a Oeste, estão quase sempre associados. Pela topografia suposta ou conhecida, parece que os conglomerados de Lousa (P_Lo) estão subjacentes aos conglomerados de Mação (P_M).

Apesar de a carta não o indicar expressamente para as zonas mais a Leste (freguesia de Belver), fica ainda a possibilidade de que a mesma situação ocorra, apesar de não se encontrar assinalada (talvez por não ser evidente ou estar insuficientemente verificada?).
As conheiras assinaladas (e não estarão todas na carta) situam-se todas elas nos Conglomerados da Lousa. Sendo esses conglomerados os que estão em posição inferior, mais próximos do substrato rochoso, pode-se considerar a hipótese de existirem também nas regiões não assinaladas, próximo das zonas de contacto.

A existir algum ouro aluvial, ele estaria aí. A não existência de conheiras nas zonas a Leste não é, só por si, prova da não existência de depósitos. Significa apenas que eles não foram encontrados ou não foram procurados. Se encontrados, teriam provavelmente sido explorados, a menos que não fossem de todo rentáveis e, nesse caso, poucos vestígios teriam deixado. As conheiras encontradas são trabalhos de grande envergadura, para a sua escavação ter demorado dezenas e — quem sabe?— centenas de anos. Aquilo, foi escavado "à mão", não foi escavado com bulldozers... Pesquisas ocasionais e localizadas corresponderiam a pequenas escavações, rapidamente apagadas pela erosão. Assim, não podemos saber de todos os sítios onde procuraram.



Conheira do Caratão

A presença de ouro nos calhaus ("cascalho russo", rochas quartzíticas), é de outra natureza ou, melhor, é  a fase anterior da presença do metal. O ouro disseminado nos sedimentos (conglomerados) já é resultante da prévia erosão dos filões quartzíticos onde originalmente se acumulou. Devido ao seu elevado peso, tem tendência para se concentrar em certas zonas, dependendo da dinâmica fluvial presente no processo de transporte e deposição dos sedimentos. Se tivermos indicação de que uma determinada zona do sedimento corresponde à parte mais profunda do leito de uma corrente de água importante, é aí que é mais provável encontrar os depósitos. Por outro lado, o chamado "cascalho russo" aparece na nossa região na forma de filões ou intrusões nas rochas xistosas que constituem o substrato rochoso xisto-grauváquico (NC-P, Unidade Padrão da Silveira, como está referenciado. Em linguagem da região, é o terreno de "pedra lousinha" que está por baixo das areias e calhaus que constituem os conglomerados, sendo que outras formações que se encontrassem sobrepostas podem ter sido removidas pela erosão.

Há que ter presente que os aluviões (arcoses, conglomerados... etc...) são aqui muito mais recentes do que qualquer formação rochosa existente de natureza granítica ou xistosa.
Também é de observar que as formações que constituem a(s) serra(s) do Bando (da fronteira entre o Silúrico e o Devónico) são mais recentes do que todas as outras do substrato rochoso em redor, que se encontram em níveis inferiores. Não considerando os efeitos do enrugamento ou cavalgamentos, pode-se concluir que a serra do Bando é um vestígio que ficou. Nas outras zonas em redor, essas rochas devem ter existido (não faz nenhum sentido pensar que só existiram estas), mas foram entretanto removidas pela erosão (300 metros de camadas de rocha que foram levados pelo "Tejo", pelo menos junto a estas serras...). Desse processo, alguns sedimentos terão restado, e são esses que interessam ao nosso tema...


Serra do Bando (esq. de Codes; dir. dos Santos)

A folha 28-A (a que nos temos estado a referir) tem um critério de classificação diferente da 28-C (a sul desta) e apresenta uma legenda de identificação muito mais pormenorizada. (visualizador de mapas no GEO-PORTAL LNEG - http://geoportal.lneg.pt/geoportal/mapas/index.html).

Independentemente disso (e até pela mera observação) nos apercebemos de que a variedade litológica é muito maior a norte, bem como a complexidade da morfologia. É possível, sem sair das estradas asfaltadas, encontrar locais onde se encontram presentes, em poucas dezenas de metros, estruturas geológicas muito diferentes (zonas de contacto).

Os depósitos sedimentares da bacia do Tejo cobriram a dada altura toda esta zona até à actual cota de cerca de 300m. Os indícios disso estão na existência de uma planície virtual nesse nível, tanto numa como na outra margem, com formações detríticas correspondentes: os conglomerados de Mação e outros similares. Essa planície virtual é facilmente perceptível se nos colocarmos em pontos estratégicos, situados no topo da formação e observarmos em redor, por exemplo em Gavião, ou entre a Ortiga e Mação. A altitude aumenta (até aos 300 m) de Oeste para Leste, o que é concordante com a posição da bacia do Tejo, que corre de Leste para Oeste.
A colina conhecida como Pernada/Vale da Fonte, a norte da povoação da Areia, apresenta uma altitude próxima dos 300m. Os dois cabeços das Cabecinhas, a norte de Domingos da Vinha, já não passam dos 280-290m. A "charneca" que vai até próximo da Torre Cimeira, diminui dos 260 aos 240 metros e depois desaparece já perto do Tejo.

O ponto mais elevado desta formação parece ser próximo da Atalaia (Gavião), justamente nos 300 metros. No antigo aeródromo da Comenda (Polvorão), a altitude é de 275 metros, mas já não passa dos 180 metros nos Foros do Arrão.


Durante o processo erosivo que fez desaparecer as camadas rochosas atravessadas pelos filões quartzíticos — eventualmente aquelas que constituem ainda as Serras do Bando, ou outras — o metal que aí pudesse existir foi arrastado e ter-se-á depositado por gravidade em determinadas zonas dos sedimentos — alguns dos quais ainda permanecem nos seus lugares—, normalmente nas maiores profundidades dos leitos das correntes de água, como já antes foi referido.

É do conhecimento público que empresas mineiras canadianas se interessaram e procederam a prospecções na zona de Milreu (Vila de Rei), tendo dado publicidade à descoberta de elevados teores de minério, apontando para a eventual rentabilidade da exploração — os mercados e as cotações têm flutuações importantes... Até agora, ainda não foi feita exploração comercial naquelas zonas e, mesmo descontando a possibilidade de a publicidade feita por essas empresas ter também o objectivo de valorizar os seus títulos em bolsa, algo devem ter encontrado. E, do passado, as evidências arqueológicas estão lá. Ninguém teria deslocado tantos calhaus se não fosse encontrando algo para compensar o trabalho feito. A Barragem do Souto do Penedo, bem como os restos do canal que levava a água para as conheiras, ainda lá estão, ao lado da EN2 — para não falar das enormes conheiras, das quais a água conseguiu arrastar impressionante quantidade de material, formando o fundo plano da Ribeira de Codes, que se pode observar do viaduto da mesma EN2, a sul de Milreu.

* * * 

Algumas ideias e iniciativas interessantes já tiveram expressão prática no reavivar das memórias da nossa terra. Elas tiveram pernas para andar e tiveram o impulso de quem as pôs em movimento e organizou os meios para lhes dar expressão. Uma ideia começa muito pequenina, mas, se tiver algo de concreto para a sustentar, ela vai crescer e aguentar-se de pé. Mas não basta deitar-lhe artificialmente adubo. É preciso que a semente seja genuína para que possa germinar.
Neste caso dos eventuais "trilhos do ouro", parece-me necessário, com alguma urgência — antes que desapareçam todos os que ainda podem conservar alguma memória pessoal ou próxima — fazer uma investigação junto da população mais idosa, nomeadamente nos Outeiros, mas eventualmente também na Areia e noutros lugares, onde ainda deve haver algumas pessoas que se recordem de algo mais corpóreo do que as histórias que ouvimos contar, por vezes eivadas de mais ou menos fantasia. E é sabido que a fantasia tem sempre tendência para alimentar as nossas expectativas e ao mesmo tempo que se alimenta também delas; um círculo vicioso…
Mas as histórias não são todas inventadas e algo de concreto tem de haver, para lá de toda a imaginação. Pode não ter a dimensão que teve noutros locais, não haver paisagens espectaculares de calhaus amontoados, como na Ribeira de Codes (ou até mesmo no Caratão, que muita gente esquece, talvez por estar isolada…).


Teria de se saber nomes, locais e até algumas datas. Se eles aparecerem, a coisa começa a tomar a autenticidade que merece. Quem foi que teve um pai, um avô, ou ele próprio a garimpar na ribeira? Que quantidades conseguiu recolher? A quem vendeu? Como era feito o negócio? Que ferramentas utilizavam? Ainda existe alguma? Talvez não… uma bateia pode ser uma simples bacia de lavar… um pequeno alguidar, a tampa grande de uma panela… Talvez se usassem uma pá, uma enxada para remover o barro. Qual era a técnica para encontrar os melhores locais? Iam experimentando até encontrar ou tinham uma ideia dos locais mais prováveis?
Que documentação concreta existe sobre a actividade nos arquivos da Câmara Municipal, ou noutros? Que documentação histórica ou literatura de investigação existe sobre o assunto?
Isto não é coisa que dê para museu, mas talvez dê para trilho. Um passeio até ao Outeiro, atravessando a ribeira na ponte medieval (ainda lá deve estar). Os trilhos do ouro da Ribeira de Canas, que tal?...
A melhor prova era conseguir uma descoberta. Não se pode negar a existência daquilo que há…
Quanto às cavernas existentes, elas podiam não ter servido para extracção de outro, mas de outros metais. Não foi referida a existência de pirite ferrosa no interior das ditas?

* * *

(Uma pequena nota, um interregno, para falar de uma possível e bastante provável metalurgia artesanal do ferro? Os nomes das "Ferrarias" — há tantas — não surgiram por acaso… Obtinha-se o metal e forjavam-se depois com ele as alfaias… Ao fundo da Herdade da Marchuqueira, abaixo da Ferraria e do Vale da Vinha, detrás dos antigos lagares da Casa Rebelo, ainda é possível encontrar restos de escórias metálicas. Mas o maior depósito, grande mesmo, a uma escala mais do que artesanal — devia ser uma pequena indústria — estava junto à Ribeira do Sor, abaixo da foz da Ribeira de Margem. A quantidade de escórias era de tal ordem que foi aproveitada pela Câmara Municipal de Gavião para com elas fazer pavimentação de caminhos, uma vez que os tornavam muito menos lamacentos, por permitirem um bom escoamento da água e não terem nenhuma viscosidade. Recordo-me de todas ou quase todas as ruas de Domingos da Vinha estarem pavimentadas com esse material, antes de lhes terem colocado o asfalto que agora têm. Mais tarde, já depois de viver nesta freguesia (Margem), visitei o local do depósito e tive oportunidade de recolher amostras que ainda ali encontrei, de escórias de várias densidades, algumas delas fortemente magnetizáveis — são atraídas por um íman, evidência de que contêm ferro — e outras tendo agregado material cerâmico, tipo tijolo, talvez tendo feito parte de um recipiente ou fornalha. Seria interessante saber de onde era extraído o minério. Provavelmente, não viria de muito longe. As dificuldades do transporte nessa altura não justificariam trazer pedras de grandes distâncias...)



* * *

Estas terras talvez acabem por se despovoar — a tendência actual para aí aponta e  sua majestade o eucalipto quer ficar senhor deste reino — mas por enquanto nós ainda cá estamos, os nossos filhos estão ou vêm de visita e, mesmo que deixem de vir, hão-de gostar de saber que, no tempo dos seus antepassados não muito longínquos, vivia aqui muita gente, que teve de aprender artes tão variadas na difícil arte de sobreviver num meio tão pobre. Antigamente não se emigrava. Nascia-se e morria-se na mesma cama ou no mesmo palheiro, sem nunca ter visto o mar ou o comboio a vapor. Trabalhava-se de sol a sol por dez réis ou até só por uma côdea de pão todos os dias — e ainda era preciso agradecer bastante e pedir a bênção aos padrinhos assim generosos.


Os minérios, especialmente os preciosos e, acima de todos, o ouro, sempre alimentaram o sonho e a fantasia. Se, para além disso, puderem alimentar uma História autêntica e documentada, tanto melhor.





domingo, 15 de janeiro de 2017

Ele não precisava de bolsos





Pergunta um tipo a outro:
«Responde-me lá a esta: porque é que o Salazar usava fatos sem bolsos?»
«Como?! Sem bolsos?»
«Sim, as calças e os casacos que ele usava não tinham bolsos…»
«Não sei… diz lá tu por que era…»
«Ele não precisava de bolsos para meter as mãos, porque metia as mãos nos bolsos dos outros…»


A história contava-se, mas está mal contada. Ou, melhor, está incompleta.
Então porque é que ele iria precisar de meter as mãos nos bolsos, dele próprio ou dos outros? Para as aquecer?
Ela contava-se para dar a entender que o homem ia ao bolso aos portugueses.
Entretanto confirmou-se que ele, quando morreu, não estava na penúria, mas também não deixou nada de jeito aos herdeiros. Ou seja: ele não enriqueceu com o poder durante mais de 50 anos. Mas se ele metia a mão no nosso bolso…

Pois é. É que ele metia a mão no bolso de uns para retirar. Depois, ia colocar o que tinha retirado no bolso de outros. Como o Robin dos Bosques, mas ao contrário. E entretanto deixava lá a mão para a aquecer. Era a forma de obter agradecimento.

Hoje parece que há muita gente que lhe está agradecida. Se as pessoas que lhe estão gratas por ele ter existido forem meter a mão no seu próprio bolso, verão que vão lá encontrar… a mão do morto, que ainda lá está, a aquecer. Vejam bem se encontram mais qualquer coisa...

sábado, 14 de janeiro de 2017

A gralha






Em defesa da gralha…
A gralha (ave aparentada com o corvo) não está em perigo de extinção. E, mesmo que estivesse, não era esse o tema, porque a gralha, aqui, é outra.
As gralhas na escrita ou, por extensão, as "gaffes" de comportamento ou ainda as bizarrias de comunicação — nada disso está em extinção.
Se isso é bom ou mau, eis a questão…
Se detectamos as gralhas (e especialmente se o fazemos notar…), somos uns picuínhas coca-bichinhos sempre prontos a assinalar o argueiro em vez da trave (até ia a escrever "agreiro", porque era assim que ouvia pronunciar na minha aldeia). Se não fazemos caso, somos uns desmazelados sem um pingo de respeito pelas regras…
Como diziam ali ao lado, façamos bem ou façamos mal, seremos sempre criticados. Assim, o melhor é mesmo seguir em frente e não ligar, o que nos valerá uma terceira opção: a alcunha de "narizes-empinados". Não há volta a dar. Não há mesmo.
Há tempos, li em qualquer lado que um aviso afixado, possivelmente numa sala de aula, a dizer "PEMSE" era muito mais eficaz do que se estivesse correctamente escrito como "PENSE" (até era "THIMK" por alternativa a "THINK",  se bem recordo).
Cá está aquilo de a capacidade do gato de apanhar ratos ser, dependendo das circunstâncias, mais importante do que a cor do seu pelo… Eficácia. A eficácia é algo que depende de objectivos. Se algo serve um propósito, é eficaz. Claro que às vezes o benefício obtido nem era procurado, mas não deixa de ser benéfico.
A gralha, como a desordem, introduz a nota discordante que estimula reacções, exactamente o contrário da rotina ou monotonia de um ambiente eternamente perfeito.
Daí que — suspeita minha, desconfiado encartado — nem todas as gralhas, "gaffes" e bizarrias com que somos presenteados se devam a distracção, falta de jeito ou ignorância dos seus autores. Alguns já usam técnicas menos convencionais. Chamar a atenção pode requerer truques, tantas são as vozes a solicitá-la...



quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Indirectas


Imagem: Wikimedia Commons


Cada um ouve aquilo que quer ouvir…

Mandar indirectas no Facebook (ou em qualquer sítio onde se possa ser lido ou ouvido) é sujeitar-se a ser mal-interpretado. É certo que as indirectas vão sempre destinadas a alguém. São avisos à navegação, mas têm destinatários particulares que, em princípio, só o autor/emissor sabe quem são. Mas é evidente que, como sucede com todas as bocas, pode alguém não previsto achar-se injustamente aludido. Os mais desabridos vão logo dizer que o chapéu só serve a quem o enfia, mas outros dirão que quem não se sente não é filho de boa gente e entre as duas interpretações há todo um mar de indefinições onde é fácil alguma coisa naufragar.

Mas isto é a visão extremista da coisa…

No limite, se não pudéssemos dizer algo que se arrisque a ser interpretado como indirecta, ficaria muito pouca coisa que se pudesse dizer ou, então, teríamos todos de usar sempre linguagem de relatório de contas ou de contrato jurídico, sempre com um índice remissivo no final… uma seca dos diabos.

Assim, em que ficamos?...

Pois… em águas de bacalhau, que é como quem diz… deixa ver… bacalhau… Terra NovaAtlântico Norte… ehpah, aí foi onde se afundou o Titanic… e foi a pique por causa de alguém que andou a dizer coisas que não devia… mandaram bocas e calhou-lhes um iceberg pela frente… bom, foi de raspão mas o resultado foi o mesmo…



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As restrições à liberdade de expressão serão só aquelas que o próprio quiser impor.
Entre os indivíduos responsáveis, a expressão é um acto como outro qualquer: tem responsabilidades.
A irresponsabilidade só vigora entre os inimputáveis.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Granada


Imagem: wikiHow, conforme legenda.

Sobre o Novo Banco, como a maioria dos portugueses, tenho uma opinião, se calhar pouco fundamentada. Mas tenho. Ela é generalista, difusa e resulta da falta de conhecimento que todos temos (incluindo, acho eu, as sumidades que têm o poder de decisão) sobre aquilo que pode vir a acontecer — e até sobre aquilo que aconteceu. O assunto é vasto, complexo e escondido por múltiplas cortinas de silêncio e de interesses nem sempre claros. Não podia ser de outra maneira.
Portanto, o que eu penso sobre o Novo Banco é mais um desejo do que uma opinião.
Concretamente, sobre a possível venda do Novo Banco.
Sobre a opção entre a venda e a nacionalização do Novo Banco.
Eu dou por adquirido que as garantias dadas pelo PM de que os contribuintes não vão ser afectados por aquilo que venha a acontecer ao Novo Banco não são garantia nenhuma. Se há coisas que não se podem garantir, esta é uma delas. Eu preferia que me dissessem que tudo vai ser feito — que o possível vai ser feito — para minorar o impacto que o destino do Novo Banco vai ter sobre os bolsos dos contribuintes. Mas não acredito nem um bocadinho que o destino do Novo Banco não vai ter nenhum efeito no bolso dos contribuintes. Mais: acho que os contribuintes vão pagar tudo aquilo que houver para pagar, embora não haja garantias de que vão beneficiar, se algum benefício houver para repartir. Não sabemos todos que o que se reparte sempre são os prejuízos e, se possível, se guardam os benefícios? Não foi sempre assim?
Sobre a opção entre vender ou nacionalizar, eu penso o seguinte: se vou ter de pagar por uma coisa, prefiro ficar com ela do que pagar para ficar sem ela. Em princípio — sublinho que em princípio. Nem sempre é preferível ficar com as coisas. Se a coisa em questão for uma granada sem cavilha, é preferível que ela esteja no bolso de outro e — mais do que preferível — que esse outro esteja bem longe de mim.
O meu problema é não saber se o Novo Banco é uma granada e, muito menos, se está "descavilhada". Alguém sabe? Ou será, em vez de uma granada, uma bomba de cheiro? É que cheira mal desde o início, desde antes do início... 
Em qualquer dos casos, não era melhor levar aquilo para uma praia deserta e proceder à detonação controlada?