terça-feira, 1 de março de 2016

Garanhões


Há dias, um prestigiado semanário (na sua versão electrónica, que também é diária, horária, minutária...) sentiu necessidade de fazer uma referência às "origens portuguesas" da Julia Roberts (aliás para dizer que elas a envergonhavam, ou que as usaram para a humilhar). Ainda estou para saber se essas "origens portuguesas" existem mesmo, ou são uma criação de quem escreveu o precioso artigo motivada pela necessidade de mostrar que, afinal, tudo está relacionado connosco, por sermos o centro do mundo (nem que seja para todo o mundo nos tratar como seu penico).

Correcção: Afinal, não foi a Julia Roberts que se envergonhou das suas raízes, mas a Daisy, uma das suas incarnações (“Pizza, Amor e Fantasia” / “Mystic Pizza” -1988), embora o Expresso afirme (expressamente) que foi a actriz quem teve esse sentimento (que foi, principalmente, uma atitude — da Daisy, claro).

Já agora, não tinha mal nenhum a Julia ter origens portuguesas (tem outras e bastante variadas). Andamos há quinhentos anos a espalhar pelo mundo a nossa bem hibridada semente. O que não somos é os protagonistas desse filme: estivemos lá primeiro, tal como estivemos primeiro na Austrália, mas passarinho que muito esvoaça pouco poisa… Não fomos nós quem construiu aqueles países nem demos nessa tarefa contributo assinalável. Demo-lo sim, noutras paragens, mas nem em todas é agradecido, como se vai vendo.