sábado, 30 de janeiro de 2016

Angelus



Na História da Arte, são muitos os exemplos de obras que inspiraram outras. 
Cada recriação leva em si a marca daquele que a fez e os sinais do seu tempo.
Salvador Dali pintou, em 1935, Archaeological Reminiscence of Millet's Angelus, inspirado na obra L'Angélus de Jean-François Millet (1857).
O Museu de Dali na Florida (The Dali Museum) tem a decorrer uma exposição da qual faz parte um vídeo interactivo (360º) inspirado nesta recriação, permitindo uma viagem por uma paisagem virtual inspirada, por sua vez, naquela recriação do pintor surrealista.


L'Angélus  de Jean-François Millet

Salvador Dali - Archaeological Reminiscence of Millet's Angelus

 Fragmento de frame do vídeo -1

  Fragmento de frame do vídeo -2

Fragmento de frame do vídeo -3


Vídeo YouTube interactivo:
https://www.youtube.com/watch?v=F1eLeIocAcU 

Mais informação aqui:
http://thedali.org/dreams-of-dali/



quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Pobre Língua Portuguesa





Num mesmo artigo, a autora conseguiu juntar uma boa quantidade de incongruências e erros.

Logo no início, parece indicar que escreve segundo o AO90, pois usa arquitetura, refletem, projeto

No entanto, ao longo do texto, quem faz a arquitetura é sempre um arquitecto...

Há uma habitação excepcional

Há também um contacto directo, mostrando que nem tudo se perdeu… (Teria sido capaz de escrever contato directo  ou contacto direto?)

E há paredes de pedra — o que lhes confere uma grande solidez — mas, mais adiante, há outras que são em pedra e esboroam-se facilmente, como é de supor.

Depois, há um desenvolve-se que não contribui nada para o desenvolvimento, porque o pretérito imperfeito do conjuntivo usado na frase é desenvolvesse.

A matéria prima perdeu o hífen, coitada, mas mão foi por culpa do chamado acordo.

Perdoa-se a mezzanine sem nenhuma decoração de itálico ou comas, porque aparentemente, é um artigo sobre arquitectura/arquitetura e não se sabe ao certo se o palavrão se manteve no inglês (mezzanine) ou no original italiano (caso em que seria mezzanino) ou já aderiu a um qualquer idioma ibérico. Em todo o caso, talvez devesse converter-se em mezanine, porque nós não usamos dois ZZ seguidos (aliás, parece que a forma portuguesa é mesmo mezanino). Se é italiano, deve realçar-se usando itálico ou comas.

Há uma estrutura de duvidosa solidez construída em madeira de pinho.

O projetual, que aparece várias vezes, também assume mais adiante uma forma algo arcaica: projectual. Em todo o caso, muito sofisticada.

Pobre Língua Portuguesa...



Negócios



Antiga máquina a vapor decorando a entrada da fábrica onde em tempos funcionou.
(Em La Riba, Tarragona, Espanha)


Um dos meus programas de televisão preferidos, neste momento, é o "Mestres do Restauro", no canal Discovery.  A preferência pode não durar muito, mas isso até é bom sinal, pensando bem. O certo é que, por enquanto, dura.
A preferência deve ter as suas razões. Não fica bem dizer que se gosta de uma coisa e pronto. Hoje em dia até há uma corrente de opinião segundo a qual "gostos não se discutem" e, por extensão, também não precisam de ser explicados. Mas creio que não estão a ser sinceros os que aderiram a ela. Este mundo está cheio de gente que só tem determinadas atitudes e opiniões por acreditar que é isso que os outros apreciam. Acho que se enganam uns aos outros e, infelizmente, também a si próprios. Não porque, lá no fundo, não tenham consciência das suas pequenas ou grandes hipocrisias e cedências, mas porque perdem a oportunidade de gozar a vida na sua plenitude — o que poderiam fazer se não estivessem amarrados nessa teia de falsas cumplicidades.

O programa consiste numa série de pequenas reportagens encadeadas sobre a actividade de um negociante de velharias, especialmente vocacionado para aquelas que têm a ver com a arquitectura em geral, elementos de construção, mobiliário doméstico e industrial, artigos de iluminação, pequenas máquinas e veículos, etc. O tema é assunto de um sem número de programas de televisão, sendo a maioria dos que aqui aparecem de origem americana. O estilo americano de fazer televisão não me agrada muito, entre outras razões, por causa do espalhafato e do sensacionalismo sempre presentes. Mas o programa a que me refiro é de origem britânica, o negociante tem a sua loja no País de Gales e os negócios — refiro-me às compras — são quase sempre feitos no Reino Unido (as vendas, pela Internet, podem ser feitas para qualquer parte do mundo). O estilo da  apresentação enquadra-se perfeitamente naquilo a que estamos habituados a ver vindo das ilhas.
Mas também não é essa a razão principal da minha preferência. Tem mais a ver com uma certa filosofia do negócio. Como em qualquer actividade especulativa, o objectivo é fazer lucro no conjunto das operações e, em princípio, em cada uma delas. Mas o nosso negociante nunca pretende ficar em vantagem. Não começa nem conclui nenhum negócio sem sentir que a outra parte também fica satisfeita. Chega a repartir os lucros com os seus fornecedores, quando eles superam as suas expectativas e, por vezes, paga preços superiores àqueles que lhe pedem, por achar que assim são mais justos. Em resumo: não há engano. Há luta, competição, mas ele não tem adversários, tem parceiros. Pensa sempre em voltar na próxima oportunidade, para poder fazer mais negócios.
Por outro lado, o negócio das antiguidades e velharias, tal como ali se vê praticar, gera sempre riqueza. No meio da tralha velha condenada, mais cedo ou mais tarde, às máquinas trituradoras, aterros, lixeiras, há sempre objectos capazes de despertar a atenção e o desejo de os fazer reviver noutro ambiente, noutra função, criando valor e satisfação para todos.


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Dúvidas existenciais dos internautas


Pergunte-se "ao google", que ele sabe.


E nem sequer é preciso concluir a pergunta.
"Ele" adivinha.

Ele é o maior.
Ele é a maior das dúvidas.




Ele é dúvida, mas não duvida.
Não duvida sequer em responder, mesmo que não haja pergunta!



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Irresponsabilidade




A irresponsabilidade começa por coisas bastante fúteis. Saber se o "tesouro" referido no título é real ou fictício (na verdade é hipotético: ele tinha muito dinheiro, tinha dificuldade em fazer a lavagem e tinha o hábito de o esconder nas propriedades que possuía) não é uma questão de importância crucial. Só que, com a mesma legitimidade com que o autor do título ali colocou um tesouro hipotético, também alguém podia especular com a hipotética pertença desse tesouro ao próprio autor do título. Afinal, se ele mostra tanta certeza na existência do dito tesouro (que não é confirmada no texto, vá lá...), por algo será... Não seria ele sócio do traficante? As hipóteses não são como as lebres: é que as orelhudas só se levantam quando estão mesmo lá...



Pão p'ró sertão


Pão português para brasileiro comer. Claro que é uma maravilha dar de comer pão ao povo irmão (será do bom casqueiro alentejano?).

Tão bom, que dá um espavento noticioso do caraças.


Mas eu por acaso até reparei que um dos empresários envolvidos no negócio — por sinal uma empresária, tem o mesmo nome da nora de um dos candidatos à Presidência da República (de Portugal, que a Dilma parece que ainda se aguenta por lá...).
Mas quem é que ia reparar em tais detalhes que, obviamente, nada têm a ver uns com os outros?


The Third World




Terceiro mundo é terceiro mundo...

Na zona mais luxuosa de Bogotá, no bairro de Classe Seis (a mais alta) de Los Rosales, à porta da residência do senhor Embaixador dos Estados Unidos da América, cheia de sistemas de segurança e outras subtilezas que mal podemos adivinhar — eis que a electricidade chega por via aérea, com um transformador no alto de um poste, que nem numa aldeia transmontana ou no Bairro das Fontaínhas...
E a coisa não tem nada de provisório: se dermos um passeio (virtual, claro está), pelas ruas do bairro (de Los Rosales, que no outro não é possível...), veremos que os postes e cabos aéreos estão por todo o lado.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A invenção da roda



Não se pode passar a vida toda a repetir evidências, por mais que os outros se estejam sempre a esquecer delas e queiramos ajudá-los na inglória tarefa de levar o barco a bom porto, evitando, já não digo naufrágios, mas ao menos aquelas águas revoltas capazes de provocar enjoo.
Toda a gente sabe nadar — e nadar é uma coisa que, uma vez aprendida, nunca mais se esquece. A roda já foi inventada há tanto tempo… e mesmo assim algumas das grandes criações humanas não precisaram dela.
Como não somos capazes de dizer aquelas coisas novas que merecem ser ditas, o melhor é ficarmos em silêncio. É sensato. É prova de sabedoria, dizem.
Só que — há sempre um "só que", um reparo, um senão — o silêncio é capaz de fazer com que pareçamos mortos.
Por isso precisamos de, uma vez por outra, soltar um "eh pá, pera aí qu'eu ainda não morri…" , nem que seja apenas para ouvir como resposta um "Vá, não sejas desmancha-prazeres"...


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A Barragem


http://www.antenalivre.pt/2016/01/psd-de-santarem-pede-reuniao-urgente-com-ministro-devido-a-poluicao-no-tejo/

Trabalha-se mais quando se está na oposição?
Lembraram-se só agora do ambiente e do rio Tejo?
Agora é que se questiona o ministro? 

Pois… antes não havia!





A designação Barragem de Belver-Ortiga, utilizada na notícia, só pode ser da autoria do deputado Duarte Marques, que é de Mação. A denominação oficial, desde sempre, foi Barragem de Belver (actualmente Aproveitamento Hidroeléctrico de Belver). De há alguns anos a esta parte tem-se assistido, por parte de algumas pessoas e instituições relacionadas ou relacionáveis com o concelho de Mação, como a própria Câmara Municipal de Mação ou a antiga RTT-Região de Turismo dos Templários, ao uso de expressões como Barragem de Ortiga. Mais tarde, talvez achando que a mudança completa de nome não colhia, alguns passaram a usar Barragem de Belver-Ortiga, como agora fazem uns senhores deputados, liderados — presume-se e faz sentido — por um deles que até é de Mação...


Em Mação, fariam bem em usar e respeitar a denominação Belver, sem a omitir e sem necessidade de lhe acrescentar outras.

Belver é uma freguesia que já em tempos fez parte do concelho de Mação e até já foi sede de concelho do qual Mação fez parte.

A freguesia de Belver tem fortes e mais do que evidentes ligações de todo o tipo ao concelho de Mação: geográficas, históricas, culturais, familiares, etc.

Não se justifica, mesmo compreendendo a atitude bairrista, a deturpação do nome da barragem.


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Maneiras

Maneiras, no plural ou no feminino singular maneira, aparece nos dicionários sempre como substantivo. Quando muito, aparece como adjectivo no masculino maneiro, frequentemente usado no diminutivo maneirinho. Como advérbio, o seu aparecimento limita-se às expressão informal à maneira ou na expressão à maneira de.

Os usos acima referidos dispensam — suponho — apresentação de exemplos, por serem bem conhecidos.

Mas eu recordo-me de uma forma adverbial de uso popular, eventualmente local, que aprendi na terra onde nasci e cujo sentido pouco ou nada tem a ver com aqueles: maneiras, como sinónimo de mal ou apenas.


Maneiras caíu uma pouca de neve, cortaram logo a estrada da serra.
(Mal nevou, cortaram logo a estrada da serra. Quase nem nevou, cortaram... ).


Na frase também se usa uma pouca no feminino, em concordância de género que a linguagem mais elevada tende a rejeitar e é considerada um arcaísmo.

A mesma forma maneiras também a ouvi empregue muitas vezes no sentido de mais ou menos, quase, aproximadamente, um pouco.

 — Então isso que te pedi já está feito ou não?
 — Hum... já está maneiras...


 


sábado, 2 de janeiro de 2016

Falta de sinalização



A sinalização das estradas em Portugal é inimiga dos condutores.

Isto, dito assim, parece um bocado radical, mas é tão verdade que não é difícil encontrar uma maioria de condutores a concordar com a afirmação.

Apesar de a maior parte da sinalização, especialmente — muito especialmente — nas vias mais recentes, existir e estar bem colocada, não é nessa que reparamos. É talvez acertado dizer que, quando a sinalização é boa, não se dá por ela: está lá, informa como deve ser, seguimos o nosso caminho; e é tudo. Reparamos, claro, quando não está ou nos induz em erro. Nem podia ser de outra maneira. Não reparamos tanto na normalidade.

Claro que isto não o sabem os responsáveis pela gestão das vias.

Li algures muito recentemente que Portugal é considerado um país com uma das melhores redes rodoviárias da Europa e mesmo do Mundo. Embora muitos utilizadores dessa rede possam discordar de tal avaliação, é bem possível que tenhamos — graças a anos de excessivo investimento — uma rede de estradas sobre-dimensionada para as nossas necessidades (e especialmente para as nossas capacidades). Mas isso são outros contos...

E é bem possível que a sinalização existente nas novas vias — as tais que constituem a rede de excelência — seja a adequada e não cause problemas de maior.

Motivado por um "post" do diário espanhol "El País" sobre o bairro lisboeta de Marvila, fui ver os mapas e as imagens de rua, como se foi tornando meu hábito (até por ter na memória um pequeno conflito com o local). Não é uma zona de Lisboa que eu conheça especialmente bem. Sei onde está, sei como se vai para lá (nem é assim tão difícil), mas não posso dizer que conheço.

O acesso ao Porto de Lisboa (doca de Xabregas) fica situado precisamente em Marvila, mais exactamente na Praça 25 de Abril, que funciona como rotunda (ou quase!). Acontece que o dito acesso ao porto, parecendo estar na rotunda, não está: para entrar nele, é preciso vir pela Av. Infante Dom Henrique do lado de Santa Apolónia. Claro que existe uma via para quem vem do lado do aeroporto ou de Cabo Ruivo. Na rotunda, segue como se fosse para Santa Apolónia e sai de imediato na via à esquerda, virando novamente à esquerda para o sentido ascendente da Av. Infante Dom Henrique.

Esta configuração não teria nada de especial, apesar de não parecer óbvia, uma vez que o acesso ao porto se encontra ainda dentro dos limites da rotunda. Mas acontece que, pura e simplesmente, não existe nenhuma sinalização que a indique. Quem quiser entrar na zona portuária ou já conhece o caminho ou fica "às aranhas".

Foi o que me aconteceu na primeira vez que tive de ir ali em trabalho. Chegado à rotunda vindo do lado norte (Rua da Cintura do Porto de Lisboa), dei-me logo conta da existência do acesso à zona portuária. Contornei a rotunda e dirigi-me para ele. Só então me apercebi que não podia sair naquele ponto. Arranjei um sítio onde parar e fui estudar o mapa (acho que não levava GPS na altura, ou o mapa não dava a informação correcta do percurso, como faz agora muito bem o Google).

Mas sinalização é coisa que lá não existe.



Ao chegar a uma rotunda, espera-se encontrar uma placa com a respectiva configuração e os destinos onde levam as saídas. Aqui, não existe.



Na saída para a Av.Infante Dom Henrique (norte) a única sinalização existente encontra-se já dentro da própria via. É normal que ela esteja ali, especialmente se a rotunda for de pequenas dimensões (o que não é o caso), mas não existe nenhuma informação prévia sobre esta ou qualquer outra das saídas.



Na saída para Santa Apolónia, a sinalização também já se encontra fora da rotunda (aqui, na imagem, estupidamente desfocada pelo Google *, como é costume).

Como se pode ver pela foto, a saída à esquerda não tem qualquer indicação sobre o seu destino.





Na saída para a zona portuária, também só existe sinalização de confirmação, isto é: aquela que só está visível depois de se ter feito a opção do percurso.

Não existe nesta rotunda nenhuma pré-sinalização que informe os condutores sobre as saídas que vão encontrar.

É sempre mais fácil encontrar alguém que seja culpado de algo que existe do que atribuir culpas pelas lacunas de que nos damos conta. 


Mas os culpados existem. Em último caso, somos todos nós, cidadãos, que "refilamos" muito nas redes sociais, mas não levamos a nossa exigência até às últimas instâncias, quer seja punindo os poderes políticos nos actos eleitorais quer seja — talvez mais adequadamente — accionando os mecanismos que, apesar de tudo, existem para reclamar ou chamar a atenção de quem de direito.
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* Nas imagens de rua do Google, estão desfocadas informações textuais que possam ser sensíveis por razões de segurança ou privacidade, como é o caso das matrículas dos veículos. Mas o programa está mal afinado e desfoca também as indicações de trânsito, que seria importante manter legíveis.