sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Viagens virtuais (limitadas)

Nunca houve, nem há, nem nunca poderá haver, um viajante que seja capaz de, no decurso da sua vida, por longa que ela seja e mesmo que se mova velozmente, conhecer o mundo inteiro em detalhe. Pode conhecer o mundo inteiro em resumo, mas há-de deixar quase tudo por ver.
A maioria dos seres humanos nem sequer terá a oportunidade de sair do lugar onde nasceu, ou do sítio onde a vida acabou por os deixar. Viajar é, infelizmente para os outros, um privilégio só de alguns. Mas o mundo não é perfeito, nem nunca o será, e é nele que temos de viver, conhecendo-o ou não.
Recentemente, a tecnologia aumentou em muito o número dos que podem ter acesso a sucedâneos virtuais das viagens. Não são um substituto das viagens reais, mas permitem a muita gente estar, de forma virtual, em sítios que, de outra forma, nunca teria oportunidade de conhecer.
Antigamente eram apenas os relatos, falados ou escritos, de grandes e pequenos viajantes. Os grandes espalhavam a sua fama pelo mundo e através do tempo, chegando a tornar-se figuras míticas, de que Marco Polo é possivelmente um dos  expoentes. Em todos os tempos, em todas as civilizações, os que ficaram sempre se juntaram, em maior ou menor número, em volta do viajante acabado de regressar. O desejo de conhecer o que está para lá do horizonte é, possivelmente, um dos instintos humanos mais básicos, logo a seguir às necessidades do organismo.
Mas hoje quase é possível viajar pelo mundo, ou por parte dele, tal a facilidade com que são divulgadas as imagens e os sons recolhidos e gravados em dispositivos electrónicos e difundidas, anteriormente pelos meios unidireccionais e agora de forma mais interactiva  através da Internet. Ferramentas da rede, como o Google Earth/Maps/StreetView (existem outros, mas não tão abrangentes) permitem quase estar nos locais por nós escolhidos. Mas obviamente têm limitações. Não é possível recolher em tempo útil imagens senão de um certo número de locais e itinerários. Por vezes, damo-nos conta de que até ficaram os mais interessantes por registar. E, se isto é verdade ao nível do pequeno recanto que conhecemos, também acontece a uma escala muito maior. Há países inteiros que, por esta ou aquela razão, ainda não foram fotografados. E isso acontece mesmo na Europa em zonas que, supostamente são do maior interesse para aqueles que gostariam de as conhecer, nem que fosse apenas desta forma. Estou a lembrar-me de países inteiros, como a Áustria, ou quase inteiros, como a Alemanha, cuja geografia seria interessante explorar, o que sabemos pelas imagens a que, apesar de tudo, temos acesso.

Curiosamente, ou talvez não, as razões para essa ausência de registo prendem-se com entraves legais ou burocráticos, como se essas sociedades pretendessem fechar-se sobre si mesmas, receosas de que a visualização das imagens por todo o mundo lhes violasse uma privacidade que muito prezam.


(Estava eu com vontade de passear-me à vontade por Salzburgo e tive de contentar-me com fotos dispersas que, apesar de tudo, são muitas. Mas não é a mesma coisa do que simular uma viagem por lá. Eis a razão — ou o pretexto — deste apontamento.)





Numa Europa quase toda "fotografada", nota-se a falta da Alemanha (só estão fotografadas algumas cidades), Áustria(totalidade), parte da Suiça, e quase todos os países dos Balcãs e a Grécia.


E mesmo quando temos imagens disponíveis de ruas alemãs, é frequente encontramos partes apagadas, porque é possível aos proprietários impedir legalmente a difusão pública de imagens dos seus edifícios que estão situados... numa rua pública!!!


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Hasta dónde puede llegar un cocodrilo



Até onde pode chegar um crocodilo?



O crocodilo encontra-se numa parede interior na igreja de Viso del Marqués (Ciudad Real).

Blogue com imagens e referência à origem do crocodilo, trazido do Nilo pelo marquês, no regresso de uma expedição:

http://caminandoporlaprehistoria.blogspot.pt/2012/03/iglesia-ntra-sra-de-la-asuncion-el-viso.html

Vista, no Google Maps, da "Plaza Pradillo", largo da localidade onde, ao lado da igreja,  se encontra o Palácio do marquês de Santa Cruz (Álvaro de Bazán, marquês de  Santa Cruz, almirante invicto da armada espanhola, comandante da frota que tomou Lisboa em 1580).

  

A existência deste crocodilo dissecado dentro da igreja não é caso único, havendo mais exemplos do mesmo tipo de ex-voto em Espanha, pelo menos em Sevilla (na catedral) e numa igreja deMadrid.


Outros exemplos, apenas em Espanha (em actualização):

Iglesia del Corpus Christi (Valencia): artigo com fotos
Iglesia de Santa María de Mediavilla (Medina de Rioseco): artigo com foto
Colegiata de Berlanga de Duero: artigo com fotos

Mais referências neste artigo (pdf, em catalão). 




sábado, 17 de agosto de 2013

Sobrado

Vocabulário.

Sobrado e placa.

Designava-se (e ainda se designa) por sobrado o pavimento superior das casas, ou sótão, geralmente de madeira. No caso de ser construído com betão ou alvenaria, tomava o nome de placa, passando a haver certa relutância em designar como sobrado o pavimento assim construído.

Uma casa "com placa" era um sinal de certa abastança ou desafogo. Se o sobrado podia ser feito com tábuas serradas dos pinheiros pertencentes ao próprio dono da casa (quase não havia ninguém que não tivesse, mesmo pequena, alguma parcela de terreno com árvores), não implicando uma  custosa aquisição de materiais, já a construção de uma placa envolvia a compra de tijolos, abobadilhas, vigas ou ferro, cimento, consoante o tipo de laje. 

Existiam pequenas serrações nas proximidades, onde se levavam os toros de pinho (1). O transporte era feito em carroças puxadas por burros (as mulas, mais caras, estavam reservadas aos de mais posses). O corte e o acabamento da madeira eram feitos à medida. A madeira "galgada", como era o caso da destinada aos sobrados das casas, ficava mais cara, por envolver um maior uso de máquinas para além da serra: a garlopa para a espessura e acabamento e a tupia para os perfis de encaixe das tábuas ou ainda para os filetes decorativos. Os restos dos toros dos que já não se podiam fazer tábuas eram aproveitados geralmente para fazer vedações. Estes restos de toros, muitas vezes destinados a serem consumidos como combustível, são designados por costaneiras.

(Baseado em observação pessoal na freguesia de Belver, Gavião)


(1) Existiu uma serração em Belver, até meados do séc.XX. Ainda pode ser visto o local com restos das construções, mas já sem vestígios das máquinas, junto à ponte sobre a Ribeira de Belver, na estrada para as Torres. Existe também uma outra serração na localidade de Envendos, concelho de Mação, aparentemente ainda a funcionar. 


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

La suerte que tuvo Rosa



Não conheço a quadra original, mas, pela tradução, devia ser mais ou menos assim:

La noche que la mataron
Rosa tuvo mucha suerte
De tres balas que le tiraron
Una sola le dio la muerte