sábado, 27 de dezembro de 2014

Google Street View, escassa cobertura



Freguesia de Belver

Só nesta freguesia do Norte Alentejano encravada na Beira-Baixa (ou da Beira-Baixa emprestada ao Alentejo), ficaram por fotografar TODOS os núcleos urbanos existentes, incluindo o da sede de freguesia, que foi fotografado apenas em travessia pela estrada que liga a Mação, por sinal aquela que praticamente não tem trânsito (a partir da ligação à A-23 até Mação), embora esse troço faça parte da EN-244.

A ligação de Belver (e de Gavião) à A-23 foi ignorada, bem como todas as estradas asfaltadas que ligam os diversos núcleos populacionais (assinaladas no mapa com traço vermelho). Estão de fora do mapa, na parte superior, as povoações de Furtado e de Vale de Coelho, ladeadas pela EN-3 (Mação-Envendos), essa sim fotografada.

A escassa cobertura feita não se observa apenas neste local, mas na generalidade do território português, em especial no interior, mas não exclusivamente. Pode dizer-se que foi uma passagem "pela rama".


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Os biscateiros


Os  que publicam na net também precisam de comer. Publicar de borla até dava lucro, mas isso era nos tempos áureos em que os custos da publicação gratuita eram cobertos pelo retorno em ganhos com a publicidade. Mas os tempos são de vacas magras e as empresas no seu conjunto (nem todas, claro, mas uma boa parte delas) já não investem tanto em promoção (falta verificar e comprovar esta afirmação com  dados, mas vamos aceitá-la como suposição razoável) *.
Ora eles precisam de comer. E eu também, obviamente. Tenho fome de pão e tenho fome de conhecimento — vamos aceitar que notícias são conhecimento. Se pago pelo pão que como, parece lógico que também pague por qualquer serviço que me seja prestado por particulares (quando eu o tenha requisitado, pois não é razoável pagar por aquilo que me é imposto) *.
Também é certo que, na Internet como em qualquer outro ambiente, funciona uma estratégia de marketing que se baseia na criação de dependência (vício). A princípio dão-se as coisas de borla para, depois, quando o cliente já está habituado, lhe cobrar tudo com juros. Não sei de que ponto de vista isto pode ser censurável, desde que eu esteja na posse de todas as minhas faculdades e seja capaz de detectar e perceber a manipulação que me tentam fazer. Mas isso não é tão óbvio se eu for vulnerável, se tiver as minhas defesas limitadas por diminuição de qualquer capacidade ou circunstância desfavorável. Existe legislação contra a exposição de certos grupos a práticas desonestas. Se é cumprida e eficaz, isso já é outro assunto.
Mas vamos admitir que eu sou o tal tipo que não precisa de nenhuma protecção especial, por estar plenamente consciente da natureza das acções que terceiros possam tentar com a intenção de tirar partido da minha pessoa. Pior ainda: vamos admitir que eu sou crítico o suficiente para, mais do que detectar a marosca, agir contra ela, alertando os outros quando ela surge. Aí, se o emissor da propaganda souber disso, até terá vantagem em evitar que eu veja o que ele faz. Os delinquentes, quando se sentem observados, também vão para outro sítio ou, não podendo, passam a portar-se bem (refiro-me aos dissimulados, não aos agressores) *.

Voltando ao assunto, pagar ou não pelo que nos impingem: eu abro a página de uma rede social e aparece-me, entre outras publicações de variada natureza (menos jogos e afins, que tenho tudo isso bloqueado), uma que me oferece um artigo ou notícia sobre uns aviões russos que andam cada vez mais a sobrevoar zonas onde não era costume serem vistos. Ora eu, que até acho indigno o uso da frase "vêm aí os russos" para ridicularizar quem receie possíveis ameaças vindas desse lado, fico logo alerta e com vontade de ler. Mordi o isco. Sigo a ligação e, passadas cinco linhas de introdução ao assunto, recebo a informação de que, para continuar a ler, devo (tenho de) fazer login ou subscrever o artigo pago. A dose de champô que vinha no saquinho da amostra, afinal, não deu nem para uma lavagem da cabeça. E agora? Fico com a cabeça meio lavada ou compro o frasco?
Pego em três ou quatro termos mais relevantes do texto promocional, traduzo-os ou não para outra língua em que, mais provavelmente, o assunto ande a ser noticiado, coloco-os no motor de busca e obtenho, na minha própria língua ou noutra qualquer, um montão de resultados que me permitem aceder à fonte sem pagar.
Eu sei que isto é como a questão da água engarrafada. Não passa pela cabeça de ninguém pretender que ela seja gratuita, muito embora a estejam a vender muito mais cara do que a própria gasolina. Estavam a tentar vender-me algo que obtiveram gratuitamente ali mesmo ao lado. Eu sei que todos precisam de sustentar a vidinha, mas há maneiras mais esforçadas do que outras.
Só espero que não me cobrem demasiado pela portagem no caminho que leva à fonte.
Eu ainda posso passar sem notícias. Sem água é que não.
E mesmo assim continuo a pagar pelo copy/paste (muitas vezes mal traduzido) que me impingem. Ou não? Pago e bem. É que eu não roubo o wifi do vizinho. Pago a minha própria ligação. Ultimamente até me têm andado a fechar a torneira sem reduzir o preço, mas eu troco-lhes as voltas e mudo de abastecedor.


  * (As notas e observações entre parêntesis são mais lidas do que se forem colocadas no fundo da página, embora tornem o discurso menos fluido. Paciência: não se pode ter tudo…)


sábado, 6 de dezembro de 2014

Arquitecturas de faz-de-conta



Grossas paredes de alvenaria com reboco pintado de branco, cantarias de granito, pavimentos cerâmicos.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Clarabóias — Iluminação natural em espaços interiores


Esta divisão da casa — que é já o resultado de sucessivas remodelações e demolições parciais de uma casa antiga de paredes de taipa e tem servido ultimamente apenas como local de passagem —, por confinar apenas com o resto do edifício e com propriedades de terceiros, não possui janelas. Isso fez com que se tornasse necessário, para ter alguma fonte de iluminação natural, usar umas telhas de vidro. Essa solução funcionou de forma satisfatória enquanto esteve em telha-vã. Duas telhas do mesmo modelo das que compõem a cobertura deixavam passar para o interior a luz possível.
Como agora se colocou um tecto falso (não sei porque se chama tecto falso, porque o tecto é verdadeiro; o que é falso é o pavimento que estaria, mas não está, por cima dele...), foi necessário deixar duas clarabóias para deixar passar a luz fornecida pelas telhas.
Só que esta modificação ia acarretar um pequeno problema: como as clarabóias se encontram a mais de um metro das telhas, a maior parte da luz ia dissipar-se ao espalhar-se pelo "falso sótão" e não chegaria cá abaixo onde faz falta, já que a área das clarabóias é uma fracção mínima da área iluminada acima.
Então, optou-se pela única solução possível: encaminhar o máximo possível de luz para as clarabóias. Isso é possível colocando barreiras que a impeçam de se espalhar e, ao mesmo tempo, revestir essas barreiras com material reflector, para que as perdas sejam mínimas.




Construiram-se umas "torres" (na verdade, uns caixotes de esferovite), revestidas por dentro com papel de alumínio. Estão colocadas exactamente por baixo das telhas e por cima das clarabóias. O efeito é espectacular. A iluminação é muito superior àquela que existia antes da aplicação do tecto (ainda em acabamento). Para reforçar ainda a quantidade de luz disponível, adquiriram-se mais duas telhas de vidro (€16.00 cada uma), que foram colocadas ao lado das que já existiam.


 Foto sem flash.

Foto com flash.




Nem só a andar se faz caminho


Em rigor, o título da mensagem não é verdadeiro. O caminho faz-se ao andar. Pode é, depois, ser alargado, melhorado, pavimentado, recuperado — ou até abandonado.

O caminho da foto começou decerto quando alguém precisava passar para o seu terreno no outro lado do ribeiro e não queria, ou não podia, atravessar as propriedades dos vizinhos. Como os caminhos em cada uma das margens se encontram desalinhados, desviados entre si uns 15 metros, não teve remédio senão passar pelo próprio ribeiro e, assim, alcançar a vereda que já existia no outro lado, ligando-a de novo à assaquia (*) que vem da aldeia.

Nem todos os caminhos são públicos. Nem todos são completamente privados. Há os caminhos vicinais, meio-termo entre as duas situações. Não são de acesso a todos, mas apenas aos que, vivendo na zona ou estando a ela ligados, tenham necessidade de os utilizar, o que exclui os forasteiros ou curiosos. Este é um caminho vicinal.

Passando o caminho pelo ribeiro — mais exactamente ao lado —, é natural que esteja sujeito às contingências da própria evolução do curso de água. As cheias podem erosionar a plataforma que constitui o caminho, ela mesma feita com a areia e o lodo retirados do leito do ribeiro durante as limpezas, com restos de vegetação e outros detritos que caem do camalhão (**) do terreno contíguo. A falta ou demora das limpezas causam assoreamento, entupindo o ribeiro e deixando a água a correr quase ao nível do caminho. Isso sucede com a propriedade a jusante, quintal avantajado dos donos da herdade local, que não cultivam e raramente limpam os terrenos nesta zona. Desde que herdaram a propriedade, nunca limparam, como lhes competia, a parte do ribeiro que ali corre. Para evitar o total assoreamento da parte onde está o caminho (que fica a montante e já fora desse terreno), sou eu próprio quem, de vez em quando, entro ali, mesmo sem autorização, e desvio a vegetação aquática que cresce livremente, para abrir caminho à água. Mas há-de chegar o dia em que o ribeiro esteja tão entupido dali para baixo que já não tenha desnível nem corrente para arrastar as areias e os lodos e fazer auto-limpeza.


Sendo este um caminho vicinal, seria de supor que pelo menos alguns vizinhos/utilizadores estivessem interessados na sua conservação. Não é assim. O número dos interessados é bastante escasso (apenas três famílias o utilizam com alguma regularidade, exactamente o mesmo das que têm ali terrenos cultivados). Sendo pessoas de certa idade e habituadas a só fazer este tipo de coisas quando "tem mesmo que ser", é natural que não se preocupem com "conservação preventiva", especialmente quando ela aparece feita por algum mais voluntarioso. Chegam a atribuir à Junta de Freguesia o trabalho feito por mim... (!) "Parece que  andaram aí os da Junta a limpar o ribeiro", dizem.

A última operação de limpeza resultou numa subida de uns 10 a 15cm do nível do caminho, bem como a um abaixamento de uns 30cm do leito do ribeiro, numa extensão de uns 15 metros, mais outros 15 metros na "quinta" — mesmo assim insuficiente para atingir o que tinha ainda não há muitos anos. Chega, no entanto para evitar que a passagem esteja permanentemente alagada e convertida num lameiro intransitável.


______________


Notas:

(*) assaquiaregionalismo —  rua estreita que dá acesso às traseiras e/ou às garagens de edifícios.

(**) camalhão = o m.q. combro, ou cômoro, designando  parede ou talude de suporte de terreno em socalco.

 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Desfragmentação do disco



Eu sei mais a dormir do que… eu próprio acordado!


Costuma-se dizer, quando uma pessoa é manifestamente muito mais inteligente (ou, melhor, mais esperta — o que não é bem a mesma coisa) do que outra, quando as comparamos, geralmente a propósito de uma situação com que estão ambas relacionadas e na qual a primeira levou lógica e esperada vantagem. Também pode ser usada por uma pessoa em relação a outra, como forma de tentar valorizar o seu próprio argumento de autoridade numa discussão.
Mas desta vez é o chamariz para o tema da actividade cerebral durante o sono.

Muitas vezes, ao acordar, recordamos intensamente os sonhos que acabámos de ter e experimentamos a sensação de termos sido, enquanto personagens desses sonhos, capazes de viver situações inimagináveis enquanto acordados. Interrogamo-nos como é que foi possível construir todas aquelas peripécias em que estivemos envolvidos, com uma minúcia e profundidade dignas de um grande romancista (aliás há quem diga que muita ficção é inspirada pelos sonhos — ou pesadelos — dos seus autores).


Dizem os entendidos que, durante o sono, o nosso cérebro se ocupa a pôr ordem naquilo que por lá está guardado e que, sem tal reorganização, o caos acabaria por nos levar à loucura. E até usam isso como argumento para recomendar o hábito de dormir sempre um determinado número de horas, geralmente entre sete e oito, embora também se noticie que grandes génios ou pessoas em destaque nas mais diversas áreas se gabam de apenas dormirem umas três ou quatro horas diárias. 


As ciências que tratam do nosso comportamento e estado de saúde mental têm sido até aqui baseadas, mais do que em dados laboratoriais mensuráveis, na observação e relacionamento empíricos do comportamento humano. Algo como "eh pá, isto tem jeito de ser assim e olha que é mesmo, pois ainda agora Fulano relatou um caso idêntico e Sicrano já o tinha feito também" (isto da identidade entre casos e situações tem que se lhe diga)… A conclusão de que o cérebro faz "arrumações" durante o repouso faz algum sentido, se nos basearmos na observação de que as situações então vivenciadas estão sempre relacionadas com algo que nos impressionou, que teve importância para nós, mesmo que de forma pouco consciente, enquanto acordados. O cérebro não inventa, apenas recria.


Uma característica do tipo de sonhos a que me estava a referir é que são extremamente voláteis, levando a que quase nunca se consiga tirar partido da clarividência demonstrada durante o sono! — o que é uma chatice e um grande desperdício. O nosso cérebro parece ser bastante cioso das suas próprias coisas, partilhando connosco apenas algumas delas e guardando as melhores para si próprio.




sexta-feira, 31 de outubro de 2014

resposta calada

(Resposta que não dei, mas fica escrita, a um tipo de Évora que se referia de forma depreciativa a uma pequena cidade do Alto Alentejo).


Cada sítio é o que é e aquilo que foi e nem tudo são évoras no Alentejo… e, aqui, a Bacia Sedimentar do Tejo não é muito propícia a guardar pedras, porque não as há; só calhaus e areia… É só andar por aí para ver (ou, melhor, não ver) aquilo de que estou a falar, a pobreza de património construído nessa vasta zona. Apenas existem uns monumentos pontuais, mas são coisas de ricos, da Igreja, ou seja de quem tinha dinheiro para mandar vir as pedras de longe. O resto é taipa, que os pobres levantam e a chuva teima em derrubar, mal o telhado apodrece.... No Norte, até os galinheiros e as pocilgas são de granito lavrado. Duram séculos, até milénios...

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O eucaliptal





Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0LMq5JkO1-mqobcvXNhRPZbmhdAFU9QW1d5XHBiST52n-jX6tfKfuRHrgROej8Dh27TPaLaix_GDGwif3lVnKWv0xf7TudvXOgL1NXI2lOzjE2hgRhQdmjct_SrhXadK0LsGl2kZuL6o-/s1600/97833.jpg


 
O interior é para plantar de eucalipto. É rentável, bom investimento, a receita compensa largamente a despesa (será que as plantações com mais de 50 hectares — área mínima, para deixar os pequenos produtores fora dos apoios! — ainda são subsidiadas pelo Banco Mundial?).

As populações envelhecidas que aí vivem são quase exclusivamente constituídas por reformados e pensionistas e ainda pelos funcionários dos serviços que lhes dão apoio.

Tudo fontes de despesa.

A escolha é óbvia.

Para desencorajar o repovoamento dessas zonas, que iria ainda agravar mais o problema, é preciso ir dificultando gradualmente as condições de vida e a prestação de cuidados e serviços públicos, como a Saúde ou a Justiça (nos privados já nem se fala: se não dá lucro, não se faz, como é óbvio — estou a lembrar-me das patifarias que a PT me faz, a mim e aos meus vizinhos, com a velocidade da Internet, por exemplo; ou dos transportes públicos que quase não existem; ou da absoluta ausência de actividade empresarial na zona). 

Isto desencoraja os candidatos a moradores (caso não possuam fortes recursos próprios) e ainda pressiona os residentes actuais a procurarem outros locais, se bem que a maioria não tem sequer condições para se mudar.

É isso!  
A escolha é óbvia.
Para todos.



sábado, 25 de outubro de 2014

Descansando na rede



Nas redes sociais, as pessoas só gostam de ler coisas agradáveis.
Vou ver se encontro alguma.



quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O burro e eu





Em 1956, ano do meu nascimento, era atribuído o Prémio Nobel de Literatura a Juan Ramón Jiménez, escritor e poeta espanhol andaluz, autor, entre muitas obras, de Platero y Yo.
Na mini-biblioteca da escola primária da minha aldeia (hoje lugar de reunião de caçadores associados), havia um exemplar da tradução portuguesa, "Platero e Eu". Quero recordar, mas não consigo ter a certeza, se alguma vez o li. E julgo até que essa leitura, a ter existido, foi já posterior à minha saída da escola. Fiz algumas visitas à escola nos primeiros meses do ano lectivo que já não frequentei, curto período sabático antes de passar à "vida activa" — que nesse tempo não existia ainda o conceito de trabalho infantil. Do que me recordo bem é do carinho da minha professora ao receber-me nessas visitas, da satisfação que tinha estampada no rosto sorridente.
Nada de estranho no facto de não conseguir recordar se li ou não li esse livro. A minha memória nunca foi famosa ou, melhor dizendo, sempre foi bastante caprichosa. No entanto, alguma eu devia ter, pois era considerado o melhor aluno da escola, se é que isso significa alguma coisa (e não deve significar, como a vida posteriormente parece sugerir).
A história do livro (não que eu me lembre, mas por que mo recordou a consulta de algumas páginas web) trata de um burro ou, melhor, trata de o autor dizer em fábula o que queria, pretendendo que era a história de um pequeno e simpático burrico.
Mas o melhor é ler (ou reler) a obra.



sábado, 27 de setembro de 2014

Antonio Muñoz Molina





Chega sempre uma altura na vida em que qualquer pessoa tem direito ao repouso, usufruindo daquilo que conseguiu alcançar, ou simplesmente porque o corpo, já velho e cansado, pede tréguas.

Mas é difícil para qualquer leitor, que foi criando de um dos seus autores favoritos uma certa imagem, assistir a certas transformações.

No caso de Antonio Muñoz Molina, …
 (ia a fazer aqui umas considerações sobre o "aburguesamento" do escritor, mas, de repente, dei-me conta de que não conheço suficientemente a obra dele para poder ter uma ideia firme da sua evolução).

Mas uma coisa dou por certa: quem escreve as crónicas semanais no "El País", quem recentemente deixou de escrever no seu muito seguido blog a um ritmo tendencialmente diário para passar a deixar aí apenas a ligação para as referidas crónicas semanais, a pretexto de que alguns seguidores/comentadores lhe estavam a estragar o ambiente, já não é o mesmo de "El Viento de la Luna" ou de "El Jinete Polaco".

O miúdo pobre e tímido que cresceu no meio dos olivais sem fim da Andaluzia, deslumbrado com as cidades e o mundo, reformou-se — quiçá merecidamente — depois dessa viagem que o levou de Granada a Nova Iorque, passando por Madrid.
 
As suas crónicas de hoje reflectem, talvez em demasia, o modo como se acomodou a todas as amenidades e prazeres que as cidades e o mundo são capazes de proporcionar a quem dispõe de certo desafogo material.
 
É pena.


Por outro lado, ele diz que precisa de tranquilidade para escrever uma outra novela  —  talvez até algo de maior fôlego, supomos nós. Por isso, temos de aguardar.




sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Falsos amigos




Un camino largo não é um caminho largo, mas um caminho longo.
Nos queda un largo camino por delante = Temos um longo caminho à nossa frente.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

You shall not spread ignorance!




Quem escreve que se trata de um volume de xis metros quadrados não está apto a redigir nem traduzir notícias desta natureza. Nem desta nem de qualquer outra.

Claro que erros e deslizes destes admitem-se a qualquer pessoa, desde que não esteja no exercício de uma actividade profissional. Errare humanum est...


Ali, não! 


Não parece deslize, mas ignorância. E quem vai dar crédito ao que escreve uma pessoa que ignora coisas básicas?


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Comparação de antas



Foto obtida no Facebook
com a indicação de "Anta do Sobral - Elvas", retirada do Panoramio


Ao observar a anta da foto acima, não pude deixar de reparar na semelhança entre as rochas com que foi erigida e as da "Anta das Pedras Brancas" (foto seguinte).


Anta das Pedras Brancas (Atalaia - Gavião)
Foto minha

 
Esta última encontra-se bastante degradada e em estado de quase total abandono e risco de destruição, ao estar agora dentro de uma área plantada de eucalipto, sujeita a renovações de terraplenagens e outros trabalhos de preparação.

As rochas com que foram construídas ambas as antas (xistos/turbiditos) são pouco resistentes à acção dos agentes atmosféricos, bem como a ataques mecânicos (muito friáveis), pelo que a degradação é bastante acentuada, o que ambas as imagens confirmam.

No caso da "Anta das Pedras Brancas", os esteios têm já uma altura bastante reduzida, possivelmente por efeito da erosão e agressões diversas, mas é de supor que foram bastante mais altos.

Apesar de nenhuma das estruturas exibir a laje que servia de tampa, é de admitir que existisse, pois está presente na maioria dos monumentos deste tipo.


Notas:

"Anta das Pedras Brancas" é a designação que me parece mais apropriada, pois é assim que é conhecido o local onde se encontra. Este sítio arqueológico ainda não se encontra suficientemente referenciado.

O autor deste post não tem formação nas disciplinas aqui abordadas, pelo que as referências de natureza técnica devem ser encaradas com a adequada reserva.




sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Adjectivos



Cuidado com o uso dos adjectivos. O ouvinte ou leitor pode interpretar o adjectivo num sentido diferente daquele que tu lhe quiseste dar. Pior: pode pensar que tu quiseste dar-lhe  um sentido diferente porque querias que ele interpretasse… eu sei que tu sabes que eu sei que tu queres que eu pense que…

O melhor é falar claro. E, as mais das vezes, o melhor mesmo é ficar calado.


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Arquitectura antipática








Imagem: Google Maps/StreetView

A casa encontra-se à beira da via rápida em Malibu, Califórnia. Não é nada raro por ali as construções estarem quase dentro do mar (basta ver o mapa:  https://www.google.pt/maps/@34.0256347,-118.7641005,460m/data=!3m1!1e3 ). A Lei protege o uso público das praias, mas já quanto ao acesso as coisas às vezes já não são tão claras (ver: http://www.nbcnews.com/news/investigations/beach-closed-keep-out-billionaire-tries-block-surfers-n191441 ).

A casa está construída sobre um pequeno afloramento rochoso que interrompe o areal, o que não é visível nesta imagem. O que se destaca na construção é o modo como a casa está toda ela virada para o mar (a costa, em Malibu, está virada a sul), com varandas e amplas áreas envidraçadas. A fachada norte, do lado da estrada, é um muro liso e opaco de betão, hostil.

Quem faz uma casa tem todo o direito de a fazer à sua maneira e ao seu gosto, dentro dos condicionamentos legais. Mas não se pode negar o aspecto antipático que esta construção apresenta aos utentes da estrada, aos quais vira ostensivamente as costas.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Os caixotes estão por todo o lado


Eles têm várias formas, mais ou menos complicadas, mas têm todos uma coisa em comum: estão ali a mais. São intrusivos.


Às vezes, até tentam enquadrar-se, harmonizando as suas proporções, mas continuam a dar nas vistas.

sábado, 16 de agosto de 2014

Carta para Santarém




Teatro Rosa Damasceno, em Santarém.
(Consultar o historial das últimas duas décadas).
(A propósito da recente derrocada da encosta).
 
Os tribunais acabaram por decidir inviabilizando outros usos para o edifício, que não o original, pretendidos pelo actual proprietário, embora legitimassem a propriedade.
Veio o incêndio, inviabilizar — ou, no mínimo, tornar ainda mais difícil — a sua recuperação para o uso original.
Em relação ao incêndio (não esquecer que também há fogos acidentais…), até se poderia formular a pergunta "quem lucra", mas aparentemente a resposta é "ninguém". Claro que também podia ser um caso de "depois de mim, o dilúvio", ou de "se eu não posso comer, ninguém mais come", ou então outra maldade qualquer feita de verdade ou aparência, que há gente para tudo.
E por falar em dilúvio, até vinha a calhar, melhor na própria madrugada do incêndio, caso em que ele não teria ocorrido, fosse por ser interrompido, fosse por nem sequer ter deflagrado, por não poder, ou por não valer a pena. E um dilúvio desproporcional (haverá dilúvios moderados?), por outro lado, poderia ter antecipado a derrocada da encosta que agora aconteceu nas traseiras do edifício, a qual, se continuar, acabará por deitá-lo ao chão. A Natureza e a incúria poderão vir, com o tempo,  a selar a decisão dos juízes e a consumar a tarefa do lume, decisão e tarefa que  — nem de outro modo poderia ser — não levaram a cabo em comum nem com idênticas intenções.
Ou seja: tudo o que ali for feito daqui em diante (excluindo meras obras de conservação do estado actual) vai ser ou bastante dispendioso ou ilegal. Ou seja ainda: nada será feito. Razão pela qual apenas acabará por se salvar apenas a fachada — em qualquer sentido do termo —  que dá para a rua, como é habitual nas fachadas e que fica no lado contrário ao da derrocada. 


As memórias preservam-se até que o esquecimento as apague — como poderia ter dito La Palice.


domingo, 10 de agosto de 2014

casco viejo

Imagem: Google Maps

Núcleo antigo, casco viejo ou casco velho da localidade de Bram, na região de Carcassonne (sul de França), com uma estrutura circular em nítido contraste com o traçado mais ortogonal da parte recente que o envolve.

Imagem: Skyscrapercity




quarta-feira, 21 de maio de 2014

Democrata, de longa data



Sou um democrata
De longa data
E ao longo

Da minha carreira
De democrata
De longa data
Subi na vida
Tornei-me alguém
E desta maneira
Já não preciso
De falar com ninguém
A não ser com quem
Tal como eu
É democrata
De longa data
E ao longo
Da sua carreira
De democrata
De longa data
Se tornou alguém.

(A democracia é uma coisa óptima para pessoas como nós…)




domingo, 18 de maio de 2014

Bota abaixo


Imagem: Google Street View
Não me parece que se tenha ganho muito em substituir isto...


Imagem: Google Street View
 ... por isto

De vez em quando, gosto de revisitar (ainda que de forma virtual) lugares que conheci. Este é um daqueles lugares que, num passado não muito distante, foi um ponto de destino em viagens de trabalho. Foi progressivamente perdendo importância, ao mesmo tempo que muitas coisas que conheci sólidas se foram desagregando.

Trata-se de uma localidade situada na província de Castellón, junto à auto-estrada que liga a Comunidade Valenciana com a de Aragón e que parte de Sagunto, passando por Teruel até Saragoça e Huesca. A estrada que se vê na foto, antes da construção da auto-estrada, fazia essa mesma ligação e, ao juntar volumes importantes de trânsito — em grande parte pesado — com zonas de topografia dífícil (sobem-se 1000 metros até ao alto de Ragudo, a 50km da costa), tornava complicado circular por ali.

Como dantes todo o trânsito passava por esta estrada (N-234), chegava a ser complicado, a certas horas, o uso dos meios de transporte afectos à fábrica de paletes de que se vêem algumas instalações. Com a auto-estrada, tudo isso mudou e esta passou a ser uma pacata rua de aldeia. 

Foto minha

O dono da fábrica de paletes foi expandindo o negócio. O auge — tanto o desta como o de outras — foi, naturalmente, nos anos de ouro da "bolha imobiliária". As fábricas de azulejos cresciam como cogumelos na zona de Castellón e precisavam de todas as paletes que os fornecedores fossem capazes de entregar. Muitos hectares de pinhal português foram, por essa altura, exportados para ali. Mais tarde, as serrações portuguesas começaram a não ter capacidade de resposta, quer por falta de matéria prima, quer por não conseguirem produzir mais. Entretanto, começaram a chegar camiões de países mais a norte, especialmente da Lituânia. Ignoro se eram competitivos em termos de preço, mas cada vez chegavam mais.

Depois, chegou a vez das importações de madeira de pinho do Brasil e do Chile, ao que se diz muito mais barata. Barcos inteiros, só para esta fábrica, que é aparentemente pequena na parte da produção propriamente dita, mas tem armazéns de madeira e de paletes por tudo quanto é quintal e terreno livre na povoação. Mas a fábrica está bastante automatizada, trabalha 24/24 horas e o negócio familiar é gerido de forma eficiente. A quebra da produção da zona azulejeira pode não ter tido por aqui consequências de maior, já que o gerente não anda a dormir e diversificou o tipo de clientela, fornecendo muitas grandes unidades industriais por todo o país e tendo adquirido participações noutras unidades do seu próprio ramo de negócio.

O edifício que existia na esquina (primeira foto) tinha sido adquirido já há alguns anos. Agora, como se vê na segunda foto, foi demolido para dar lugar a mais um pátio de armazenamento de paletes. Estava em muito mau estado, parecendo até estranho que não tivesse caído já. Noutro local e noutras condições, talvez tivesse sobrevivido. Podia ter sido recuperado e continuaria ser uma importante referência visual para os da terra e para os que ali passam.

A família dona da fábrica de paletes pode até estar cada vez mais rica. Não conheço o suficiente da vida local para perceber se esta riqueza ajuda de algum modo a povoação. Mas sei que, em termos de emprego, não têm razões para deitar foguetes. O pessoal é pouco, é quase todo de fora e não se mostra demasiado alegre com a paga. No entanto, talvez o dono do pequeno restaurante ali ao lado não esteja muito queixoso.

Imagem: Google Maps

A bolha imobiliária também chegou aqui, sob a forma de urbanizações inacabadas, semelhantes às que se vêem por toda a Espanha.

Imagem: Google Street View



domingo, 11 de maio de 2014

Farinhas com mofo





Se, com a actual bipolarização, isto não ata nem desata ("eles são todos iguais, tal-pedro-tal-paulo, é tudo farinha do mesmo saco, o que eles querem todos é poleiro, andam todos a ver do tacho"), agora imagine-se como seria com a cavacalmente proposta união nacional…




terça-feira, 6 de maio de 2014

Ponme vino y casera



Imagem: Google StreetView


"Eché a andar a la puerta de casa la otra mañana, planeando bajar por Broadway hasta la 82, donde hay un Barnes & Noble en el que esperaba encontrar un libro difícil." 

(Pus-me a andar à porta de casa uma manhã destas, planeando descer a Broadway até à Rua 82, onde há um Barnes & Noble no qual esperava encontrar um livro difícil).

Quem isto escreveu é um senhor que se dedica precisamente ao ofício da escrita e seria de esperar — pelo menos até há meia dúzia de anos — que fosse procurar um LIVRO numa LIVRARIA. Mas não é o caso. Em NYC e, possivelmente na maior parte do mundo onde existem livros, livraria é coisa do passado. O senhor dirigiu-se a uma livraria pertencente à empresa que, nos Estados Unidos, domina o mercado da venda de livros: Barnes & Noble tornou-se sinónimo de bookstore ou bookshop.

Nada de estranho, no entanto. Quando eu andava por aí a cirandar de um lado para o outro, sempre que me sentava para almoçar ou jantar em Espanha e o camarero me perguntava ¿Y de beber, qué te pongo?, eu pedia, como fazem quase todos os espanhóis ou estrangeiros quando querem o vinho traçado com gasosa, Ponme vino y casera. A mais tradicional das marcas de gaseosa em Espanha tem o nome de La Casera.

Voltando aos livros, se eu quiser um, em Portugal, basta passar pela mercearia do Sr. Azevedo ou pela do Sr. Santos, que eles têm lá... alguns. Bom, ainda há as FNAC...


segunda-feira, 5 de maio de 2014

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Cinismos na moda


Preparando o futuro:

« Quanto mais gastarmos agora em saúde, mais teremos de gastar depois em saúde e pensões. »


Perguntas (aparentemente) complicadas


Perguntas (aparentemente) complicadas.

Devo permitir que alguém me trate como se eu fosse aquilo que essa pessoa quer que eu pareça?

A resposta é, em princípio: Nunca. (Há que admitir a possibilidade de se tratar de um jogo).


Glaciares



Um glaciar não aumenta o nível do mar só por largar aí mais gelo.
Só fará isso, se ele próprio estiver a diminuir de tamanho.
Pode acontecer que largue mais gelo a jusante por estar a acumular mais gelo a montante, na entrada, o que faz aumentar a sua velocidade e pressão. Se assim não for, o glaciar acabará por extinguir-se.
Convém não esquecer que a água que constitui os glaciares provém do oceano, já que a contribuição das restantes massas de água é menor, se a considerarmos proporcional às respectivas dimensões.
A redução do tamanho ou a extinção do glaciar é que são sintomas de aumento local (e possivelmente global) da temperatura.



Leitura emocional


A leitura de um texto numa língua estranha — desde que razoavelmente dominada — pode ser mais proveitosa do que feita na língua materna. Pelas mesmas razões (e dependendo da natureza do texto e do conteúdo).

http://www.independent.co.uk/news/science/to-push-or-not-to-push-how-your-morals-depend-on-language-9303510.html


terça-feira, 29 de abril de 2014

De que lado estás?



Perguntas traiçoeiras.

De que lado estás?

Quando se pergunta a alguém "de que lado estás?", na verdade não se lhe está a perguntar nada. Está-se simplesmente a insinuar que a pessoa está a favor de um dos lados da (real ou suposta) questão ou divergência, subentendendo que devia estar a favor do oposto.

No extremo, é uma forma insidiosa de chamar traidor a alguém.

Quem permite que lhe façam essa pergunta arrisca-se a perder pontos na discussão.

Por outro lado, permite ao interrogado aperceber-se de que o seu interlocutor é quase de certeza uma pessoa do tipo "quem não está comigo está contra mim".





sexta-feira, 18 de abril de 2014

Certezas



Right now, 500 light years away from Earth, there's a planet that looks a lot like our own.

http://www.theatlantic.com/technology/archive/2014/04/this-is-big-scientists-just-found-earths-closest-cousin/360843/

Esta frase contém pelo menos um erro que pode não se tornar imediatamente óbvio.

Dizer que, neste preciso instante, existe algo que está a 500 anos-luz, é uma afirmação que não pode ser confirmada.

Se a informação, que viaja até nós à velocidade da luz, demora, por isso mesmo, 500 anos a chegar cá, como é que podemos ter a certeza de que o planeta ainda lá está neste momento? Pode ter colidido ontem (ou há 450 anos) com outro corpo celeste, saindo da sua trajectória, ou até ter sido mesmo destruído. No entanto, essa informação só chega até nós passados 500 anos, ou seja daqui a mais ou menos 500 anos (ou 50 anos, conforme o caso).



sábado, 12 de abril de 2014

Bitolas




Isto é mais ou menos assim: se nós adoptamos a bitola europeia, eles ficam com a ibérica; se adoptamos a ibérica, eles mudam para a europeia... o que interessa é que os nossos portos não tenham acesso à Europa, certo?




quinta-feira, 10 de abril de 2014

A queda do Corpo de Deus



No dia 19 de Junho de 1924 coincidiu o feriado do Corpo de Deus (presentemente suspenso). Nesse dia, nas proximidades de Olivença, caiu um meteorito de razoáveis dimensões, na altura fracturado por populares, todos com a intenção de guardar algum pedaço como recordação, ou até de o transaccionar, como já sucedeu em casos semelhantes.


Recordo ter ouvido de minha mãe uma espécie de lenda que descubro agora estar relacionada com o acontecimento.

Nesse dia de 1924, algumas pessoas andariam a ceifar no Alentejo e tinham assistido à queda do meteorito, o que não teria nada de estranho, apesar de ter ocorrido durante o dia, às 8/9 horas da manhã. Um objecto daquelas dimensões (foram recolhidos 125 kg de fragmentos) deve ter produzido um estrondo importante e um clarão capaz de ofuscar a luz do sol.

Como era feriado religioso, o fenómeno assustador foi de imediato interpretado por aqueles trabalhadores como uma ameaça divina que lhes era dirigida por estarem a trabalhar em tal dia. Houve até algum mais imaginoso que depois afirmou ter visto o meteorito, ao qual posteriores relatos fantasiosos atribuíam a forma de um corpo humano sem cabeça e sem membros, o que só confirmava a natureza sobrenatural da ocorrência...


(*) Nesta ligação, é feita  referência a uma "chuva" de meteoritos na zona de Olivença, um dos quais caiu em Castelo de Vide. Não é referida uma data precisa, mas apenas finais do ano de 1924 — o que não coincide com o mês de Junho —, mas essa imprecisão não exclui (à falta de melhor informação) que se possa tratar da mesma ocorrência.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Invasoras



O senhor (já falecido há vários anos) que plantou as "ervas-das-pampas" (cortaderia selloana) junto ao ribeiro, plantou também uns choupos dentro da própria linha de água (entretanto já felizmente mandados abater pelo herdeiro e novo proprietário).




Uma foto mais antiga. Cortaderia selloana, ou erva-das-pampas. O exemplar do meio teve de ser completamente eliminado, uma vez que entretanto caiu para o ribeiro, obstruindo-o. A massa de folhas secas (e mesmo das verdes da parte inferior) está constantemente a obstruir a passagem da água. O risco de propagação de incêndio é elevadíssimo. Detrás, existe uma área enorme, coberta de silvas, abrangendo algumas oliveiras e que se estende até junto das casas da povoação.

Ficou o problema dos choupos quase resolvido. Digo quase porque ainda restam os cepos e as raízes a afectar o leito do ribeiro. No que respeita à erva-das-pampas (também ela classificada como espécie invasora), nada foi feito, salvo que, quando há limpezas, são tratadas de forma agressiva. É o mínimo que se pode fazer, já que o proprietário do terreno não procede à limpeza da sua margem, à qual está obrigado. Felizmente, não têm alastrado de forma espontânea e, como a propriedade se encontra em estado de quase abandono, não é feita nenhuma replantação. No entanto, os novos brotos vão crescendo sobre a matéria morta da própria planta, aumentando constantemente o seu volume.


Além destas plantas, foi ainda introduzida na mesma época uma outra, bastante mais perigosa e difícil de eliminar do que as duas referidas. Trata-se da robínia pseudoacácia (robinia pseudoacacia), também ela classificada como invasora.

Sendo uma "falsa acácia" tem, no que toca à sua reprodução e alastramento, o mesmo comportamento das "acácias mimosas" que todos vemos à beira das nossas estradas e não só: rebenta pelas raízes, o que que dizer que, ao longo das raízes expostas ou existentes a pequena profundidade, vão aparecendo sucessivamente inúmeros novos exemplares.


Os ramos mais altos que sobressaem das silvas são os novos exemplares, de maiores dimensões, que cresceram a partir das raízes das árvores cortadas. Em primeiro plano, à esquerda e junto à rede, um rebento um pouco menor. Embora todas tenham abundantes espinhos, as robínias e as silvas parecem dar-se bem, pelo menos nesta fase.

No terreno a que me refiro, é isso que está a acontecer. As robínias foram cortadas na mesma altura dos choupos. Mas, enquanto estes ficaram definitivamente eliminados (o material restante está a apodrecer), as robínias continuaram a alastrar, agora com muito mais força, a partir das raízes. Em vez de um reduzido número de árvores grandes com alguns pequenos rebentos em baixo, vemos agora um número enorme de novos exemplares, muitos deles a tornarem-se em árvores (recorde-se que podem atingir 25m de altura).


Nesta foto, podem ver-se alguns dos cepos das robínias cortadas. Os cepos em si estão a apodrecer, mas as raízes deram origem a um elevado número de novos exemplares. Alguns rebentos foram cortados durante a limpeza do caminho, mas só esses, porque impediam ou dificultavam a passagem. Os restantes continuam a crescer até se tornarem árvores, se nada for feito entretanto.

Crescem para o caminho onde passamos para as hortas. É fácil, ao desviar algum ramo ou rebento que esteja atravessado, sermos picados pelos afiados e robustos espinhos que possuem. A picada é bastante dolorosa e provoca inflamação que persiste ao longo de vários dias.


Esta foto de um pequeno ramo que eu trouxe não faz justiça aos picos (espinhos) existentes nos ramos mais grossos, que são capazes de pôr uma ferida a sangrar bastante. Na imagem seguinte, obtida numa pesquisa, é possível vê-los.








domingo, 2 de março de 2014

Vladimiro

Quem fica a ganhar com os acontecimentos na Ucrânia?
Putin, evidentemente.
Excelente pretexto para se reafirmar.
Quem vai impedi-lo de o fazer?

Obama? Hum… Olha bem para mim, rapaz! Olha bem para a minha cara! Óptimo… já viste quantos baraques eu como ao pequeno almoço? Vá, vai lá para o teu quarto, que tens tudo desarrumado...

A União Europeia? Hum… quem são estes? Olha, comecem já a cavar à procura de gás… Estão com frio? Ehpah, que chatice… não parem: enquanto cavam, aquecem!

Os próprios ucranianos? Hum… queridos filhos pródigos, venham cá à vossa Grande Mãe protectora… Esta é a vossa casa. Podem olhar lá para fora sempre que quiserem, e até podem ir dar uns passeios, mas é aqui que pertencem. Não se esqueçam, meninos!...

A China? Nah... a gente tem muito que fazer aqui no nosso quintal… desculpem mas esse jardim é vosso. Nem sabemos como podar plantas aí... Estamos mas é preocupados com os bonsais que não param de crescer aqui à nossa porta…