quarta-feira, 21 de maio de 2014

Democrata, de longa data



Sou um democrata
De longa data
E ao longo

Da minha carreira
De democrata
De longa data
Subi na vida
Tornei-me alguém
E desta maneira
Já não preciso
De falar com ninguém
A não ser com quem
Tal como eu
É democrata
De longa data
E ao longo
Da sua carreira
De democrata
De longa data
Se tornou alguém.

(A democracia é uma coisa óptima para pessoas como nós…)




domingo, 18 de maio de 2014

Bota abaixo


Imagem: Google Street View
Não me parece que se tenha ganho muito em substituir isto...


Imagem: Google Street View
 ... por isto

De vez em quando, gosto de revisitar (ainda que de forma virtual) lugares que conheci. Este é um daqueles lugares que, num passado não muito distante, foi um ponto de destino em viagens de trabalho. Foi progressivamente perdendo importância, ao mesmo tempo que muitas coisas que conheci sólidas se foram desagregando.

Trata-se de uma localidade situada na província de Castellón, junto à auto-estrada que liga a Comunidade Valenciana com a de Aragón e que parte de Sagunto, passando por Teruel até Saragoça e Huesca. A estrada que se vê na foto, antes da construção da auto-estrada, fazia essa mesma ligação e, ao juntar volumes importantes de trânsito — em grande parte pesado — com zonas de topografia dífícil (sobem-se 1000 metros até ao alto de Ragudo, a 50km da costa), tornava complicado circular por ali.

Como dantes todo o trânsito passava por esta estrada (N-234), chegava a ser complicado, a certas horas, o uso dos meios de transporte afectos à fábrica de paletes de que se vêem algumas instalações. Com a auto-estrada, tudo isso mudou e esta passou a ser uma pacata rua de aldeia. 

Foto minha

O dono da fábrica de paletes foi expandindo o negócio. O auge — tanto o desta como o de outras — foi, naturalmente, nos anos de ouro da "bolha imobiliária". As fábricas de azulejos cresciam como cogumelos na zona de Castellón e precisavam de todas as paletes que os fornecedores fossem capazes de entregar. Muitos hectares de pinhal português foram, por essa altura, exportados para ali. Mais tarde, as serrações portuguesas começaram a não ter capacidade de resposta, quer por falta de matéria prima, quer por não conseguirem produzir mais. Entretanto, começaram a chegar camiões de países mais a norte, especialmente da Lituânia. Ignoro se eram competitivos em termos de preço, mas cada vez chegavam mais.

Depois, chegou a vez das importações de madeira de pinho do Brasil e do Chile, ao que se diz muito mais barata. Barcos inteiros, só para esta fábrica, que é aparentemente pequena na parte da produção propriamente dita, mas tem armazéns de madeira e de paletes por tudo quanto é quintal e terreno livre na povoação. Mas a fábrica está bastante automatizada, trabalha 24/24 horas e o negócio familiar é gerido de forma eficiente. A quebra da produção da zona azulejeira pode não ter tido por aqui consequências de maior, já que o gerente não anda a dormir e diversificou o tipo de clientela, fornecendo muitas grandes unidades industriais por todo o país e tendo adquirido participações noutras unidades do seu próprio ramo de negócio.

O edifício que existia na esquina (primeira foto) tinha sido adquirido já há alguns anos. Agora, como se vê na segunda foto, foi demolido para dar lugar a mais um pátio de armazenamento de paletes. Estava em muito mau estado, parecendo até estranho que não tivesse caído já. Noutro local e noutras condições, talvez tivesse sobrevivido. Podia ter sido recuperado e continuaria ser uma importante referência visual para os da terra e para os que ali passam.

A família dona da fábrica de paletes pode até estar cada vez mais rica. Não conheço o suficiente da vida local para perceber se esta riqueza ajuda de algum modo a povoação. Mas sei que, em termos de emprego, não têm razões para deitar foguetes. O pessoal é pouco, é quase todo de fora e não se mostra demasiado alegre com a paga. No entanto, talvez o dono do pequeno restaurante ali ao lado não esteja muito queixoso.

Imagem: Google Maps

A bolha imobiliária também chegou aqui, sob a forma de urbanizações inacabadas, semelhantes às que se vêem por toda a Espanha.

Imagem: Google Street View



domingo, 11 de maio de 2014

Farinhas com mofo





Se, com a actual bipolarização, isto não ata nem desata ("eles são todos iguais, tal-pedro-tal-paulo, é tudo farinha do mesmo saco, o que eles querem todos é poleiro, andam todos a ver do tacho"), agora imagine-se como seria com a cavacalmente proposta união nacional…




terça-feira, 6 de maio de 2014

Ponme vino y casera



Imagem: Google StreetView


"Eché a andar a la puerta de casa la otra mañana, planeando bajar por Broadway hasta la 82, donde hay un Barnes & Noble en el que esperaba encontrar un libro difícil." 

(Pus-me a andar à porta de casa uma manhã destas, planeando descer a Broadway até à Rua 82, onde há um Barnes & Noble no qual esperava encontrar um livro difícil).

Quem isto escreveu é um senhor que se dedica precisamente ao ofício da escrita e seria de esperar — pelo menos até há meia dúzia de anos — que fosse procurar um LIVRO numa LIVRARIA. Mas não é o caso. Em NYC e, possivelmente na maior parte do mundo onde existem livros, livraria é coisa do passado. O senhor dirigiu-se a uma livraria pertencente à empresa que, nos Estados Unidos, domina o mercado da venda de livros: Barnes & Noble tornou-se sinónimo de bookstore ou bookshop.

Nada de estranho, no entanto. Quando eu andava por aí a cirandar de um lado para o outro, sempre que me sentava para almoçar ou jantar em Espanha e o camarero me perguntava ¿Y de beber, qué te pongo?, eu pedia, como fazem quase todos os espanhóis ou estrangeiros quando querem o vinho traçado com gasosa, Ponme vino y casera. A mais tradicional das marcas de gaseosa em Espanha tem o nome de La Casera.

Voltando aos livros, se eu quiser um, em Portugal, basta passar pela mercearia do Sr. Azevedo ou pela do Sr. Santos, que eles têm lá... alguns. Bom, ainda há as FNAC...


segunda-feira, 5 de maio de 2014