sábado, 18 de novembro de 2017

Não lutes contra um porco


Explorar um ignorante total não deve dar resultado. Pelo menos não deve dar um resultado previsível. E o que não é previsível pode ser até inconveniente. Não é caminho a seguir. A menos que se eduque um pouco (mas não em excesso) o ignorante total, de modo a que ele tenha aquele mínimo de quase ignorância susceptível de ser explorado.

(Esta era a parte maquiavélica...)

Advirto desde já que me estou nas tintas para o facto, mais do que comprovado, de que aquilo que é vantajoso geralmente não deve ser assumido. A velhacaria está em fazer sem dizer, ou dizendo até coisas contra a velhacaria que, ao mesmo tempo, se pratica. A sinceridade não ajuda ninguém a enriquecer (a não ser os insinceros que estejam por perto e se aproveitem).
Para dizê-lo com maior rapidez: os macacos têm esperteza suficiente para enganar os outros macacos e não só. No entanto, são incapazes de escrever ensaios filosóficos. Do mesmo modo que há muito filósofo a passar por pateta, sem necessariamente o ser. De maneira que não é muito útil ser filósofo no meio dos macacos... Qualquer macaco põe com a maior facilidade cuspo atrás da orelha de um filósofo. Cuidado, portanto.
Tendo a sua dose de macaquice (dose moderada, senão lá se vai a autoridade do macaco chefe), qualquer macaquito derruba, pela rapidez ou pela popularidade, ou por uma espertice qualquer, um argumento inteligente (não esquecendo que, tantas vezes, um argumento inteligente é aquele que não se fez...).
E nunca esquecer que, em última instância e para te vencer definitivamente, o macaco vai atirar-te merda à cara, em qualquer altura. Não tens hipótese contra o macaco. Contra nenhum dos macacos. Nem contra o macaquito que te atira merda à cara, nem muito menos contra o macaco chefe que não o faz, porque o seu estatuto já não lhe permite sujar as mãos. Estás perdido se caíste no meio dos macacos. Foge daí assim que puderes.


O ignorante total não sabe nada. Para os devidos efeitos, não existe. Não se conta com ele. Pode ser perigoso, porque é imprevisível, mas não tão perigoso como aquele que sabe qualquer coisa mas que não passa daí. O quase ignorante é o candidato perfeito a soldado da desinformação. Disse soldado, não oficial. Pode até ser furriel ou sargento, mas daí não passa. Os oficiais da desinformação estão bem informados. O soldado não. O soldado sabe disparar uma arma com perícia, mas não tem a menor ideia de que material é feita. Nem precisa de ter. Desde que abata quem lhe aparecer pela frente, tudo o mais é supérfluo.

Especialmente a filosofia.

Como é que é aquela frase?
Nunca discutas com um estúpido...
Nunca lutes corpo a corpo com um porco...
Por aí anda a coisa.

O macaco, o estúpido, o soldado, o porco — podem estar a ser explorados. Mas quem na verdade te venceu foi o macacão que os explora. E que, a seguir, até pode vir dar-te uma palmadinha de conforto nas costas, para que, em qualquer altura, o julgues teu amigo.

A política é tramada.
A política e não só.

Perigosos mesmo são os macacões.