sábado, 14 de janeiro de 2017

A gralha






Em defesa da gralha…
A gralha (ave aparentada com o corvo) não está em perigo de extinção. E, mesmo que estivesse, não era esse o tema, porque a gralha, aqui, é outra.
As gralhas na escrita ou, por extensão, as "gaffes" de comportamento ou ainda as bizarrias de comunicação — nada disso está em extinção.
Se isso é bom ou mau, eis a questão…
Se detectamos as gralhas (e especialmente se o fazemos notar…), somos uns picuínhas coca-bichinhos sempre prontos a assinalar o argueiro em vez da trave (até ia a escrever "agreiro", porque era assim que ouvia pronunciar na minha aldeia). Se não fazemos caso, somos uns desmazelados sem um pingo de respeito pelas regras…
Como diziam ali ao lado, façamos bem ou façamos mal, seremos sempre criticados. Assim, o melhor é mesmo seguir em frente e não ligar, o que nos valerá uma terceira opção: a alcunha de "narizes-empinados". Não há volta a dar. Não há mesmo.
Há tempos, li em qualquer lado que um aviso afixado, possivelmente numa sala de aula, a dizer "PEMSE" era muito mais eficaz do que se estivesse correctamente escrito como "PENSE" (até era "THIMK" por alternativa a "THINK",  se bem recordo).
Cá está aquilo de a capacidade do gato de apanhar ratos ser, dependendo das circunstâncias, mais importante do que a cor do seu pelo… Eficácia. A eficácia é algo que depende de objectivos. Se algo serve um propósito, é eficaz. Claro que às vezes o benefício obtido nem era procurado, mas não deixa de ser benéfico.
A gralha, como a desordem, introduz a nota discordante que estimula reacções, exactamente o contrário da rotina ou monotonia de um ambiente eternamente perfeito.
Daí que — suspeita minha, desconfiado encartado — nem todas as gralhas, "gaffes" e bizarrias com que somos presenteados se devam a distracção, falta de jeito ou ignorância dos seus autores. Alguns já usam técnicas menos convencionais. Chamar a atenção pode requerer truques, tantas são as vozes a solicitá-la...