sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Desfragmentação do disco



Eu sei mais a dormir do que… eu próprio acordado!


Costuma-se dizer, quando uma pessoa é manifestamente muito mais inteligente (ou, melhor, mais esperta — o que não é bem a mesma coisa) do que outra, quando as comparamos, geralmente a propósito de uma situação com que estão ambas relacionadas e na qual a primeira levou lógica e esperada vantagem. Também pode ser usada por uma pessoa em relação a outra, como forma de tentar valorizar o seu próprio argumento de autoridade numa discussão.
Mas desta vez é o chamariz para o tema da actividade cerebral durante o sono.

Muitas vezes, ao acordar, recordamos intensamente os sonhos que acabámos de ter e experimentamos a sensação de termos sido, enquanto personagens desses sonhos, capazes de viver situações inimagináveis enquanto acordados. Interrogamo-nos como é que foi possível construir todas aquelas peripécias em que estivemos envolvidos, com uma minúcia e profundidade dignas de um grande romancista (aliás há quem diga que muita ficção é inspirada pelos sonhos — ou pesadelos — dos seus autores).


Dizem os entendidos que, durante o sono, o nosso cérebro se ocupa a pôr ordem naquilo que por lá está guardado e que, sem tal reorganização, o caos acabaria por nos levar à loucura. E até usam isso como argumento para recomendar o hábito de dormir sempre um determinado número de horas, geralmente entre sete e oito, embora também se noticie que grandes génios ou pessoas em destaque nas mais diversas áreas se gabam de apenas dormirem umas três ou quatro horas diárias. 


As ciências que tratam do nosso comportamento e estado de saúde mental têm sido até aqui baseadas, mais do que em dados laboratoriais mensuráveis, na observação e relacionamento empíricos do comportamento humano. Algo como "eh pá, isto tem jeito de ser assim e olha que é mesmo, pois ainda agora Fulano relatou um caso idêntico e Sicrano já o tinha feito também" (isto da identidade entre casos e situações tem que se lhe diga)… A conclusão de que o cérebro faz "arrumações" durante o repouso faz algum sentido, se nos basearmos na observação de que as situações então vivenciadas estão sempre relacionadas com algo que nos impressionou, que teve importância para nós, mesmo que de forma pouco consciente, enquanto acordados. O cérebro não inventa, apenas recria.


Uma característica do tipo de sonhos a que me estava a referir é que são extremamente voláteis, levando a que quase nunca se consiga tirar partido da clarividência demonstrada durante o sono! — o que é uma chatice e um grande desperdício. O nosso cérebro parece ser bastante cioso das suas próprias coisas, partilhando connosco apenas algumas delas e guardando as melhores para si próprio.