sábado, 16 de agosto de 2014

Carta para Santarém




Teatro Rosa Damasceno, em Santarém.
(Consultar o historial das últimas duas décadas).
(A propósito da recente derrocada da encosta).
 
Os tribunais acabaram por decidir inviabilizando outros usos para o edifício, que não o original, pretendidos pelo actual proprietário, embora legitimassem a propriedade.
Veio o incêndio, inviabilizar — ou, no mínimo, tornar ainda mais difícil — a sua recuperação para o uso original.
Em relação ao incêndio (não esquecer que também há fogos acidentais…), até se poderia formular a pergunta "quem lucra", mas aparentemente a resposta é "ninguém". Claro que também podia ser um caso de "depois de mim, o dilúvio", ou de "se eu não posso comer, ninguém mais come", ou então outra maldade qualquer feita de verdade ou aparência, que há gente para tudo.
E por falar em dilúvio, até vinha a calhar, melhor na própria madrugada do incêndio, caso em que ele não teria ocorrido, fosse por ser interrompido, fosse por nem sequer ter deflagrado, por não poder, ou por não valer a pena. E um dilúvio desproporcional (haverá dilúvios moderados?), por outro lado, poderia ter antecipado a derrocada da encosta que agora aconteceu nas traseiras do edifício, a qual, se continuar, acabará por deitá-lo ao chão. A Natureza e a incúria poderão vir, com o tempo,  a selar a decisão dos juízes e a consumar a tarefa do lume, decisão e tarefa que  — nem de outro modo poderia ser — não levaram a cabo em comum nem com idênticas intenções.
Ou seja: tudo o que ali for feito daqui em diante (excluindo meras obras de conservação do estado actual) vai ser ou bastante dispendioso ou ilegal. Ou seja ainda: nada será feito. Razão pela qual apenas acabará por se salvar apenas a fachada — em qualquer sentido do termo —  que dá para a rua, como é habitual nas fachadas e que fica no lado contrário ao da derrocada. 


As memórias preservam-se até que o esquecimento as apague — como poderia ter dito La Palice.