sábado, 2 de janeiro de 2016

Falta de sinalização



A sinalização das estradas em Portugal é inimiga dos condutores.

Isto, dito assim, parece um bocado radical, mas é tão verdade que não é difícil encontrar uma maioria de condutores a concordar com a afirmação.

Apesar de a maior parte da sinalização, especialmente — muito especialmente — nas vias mais recentes, existir e estar bem colocada, não é nessa que reparamos. É talvez acertado dizer que, quando a sinalização é boa, não se dá por ela: está lá, informa como deve ser, seguimos o nosso caminho; e é tudo. Reparamos, claro, quando não está ou nos induz em erro. Nem podia ser de outra maneira. Não reparamos tanto na normalidade.

Claro que isto não o sabem os responsáveis pela gestão das vias.

Li algures muito recentemente que Portugal é considerado um país com uma das melhores redes rodoviárias da Europa e mesmo do Mundo. Embora muitos utilizadores dessa rede possam discordar de tal avaliação, é bem possível que tenhamos — graças a anos de excessivo investimento — uma rede de estradas sobre-dimensionada para as nossas necessidades (e especialmente para as nossas capacidades). Mas isso são outros contos...

E é bem possível que a sinalização existente nas novas vias — as tais que constituem a rede de excelência — seja a adequada e não cause problemas de maior.

Motivado por um "post" do diário espanhol "El País" sobre o bairro lisboeta de Marvila, fui ver os mapas e as imagens de rua, como se foi tornando meu hábito (até por ter na memória um pequeno conflito com o local). Não é uma zona de Lisboa que eu conheça especialmente bem. Sei onde está, sei como se vai para lá (nem é assim tão difícil), mas não posso dizer que conheço.

O acesso ao Porto de Lisboa (doca de Xabregas) fica situado precisamente em Marvila, mais exactamente na Praça 25 de Abril, que funciona como rotunda (ou quase!). Acontece que o dito acesso ao porto, parecendo estar na rotunda, não está: para entrar nele, é preciso vir pela Av. Infante Dom Henrique do lado de Santa Apolónia. Claro que existe uma via para quem vem do lado do aeroporto ou de Cabo Ruivo. Na rotunda, segue como se fosse para Santa Apolónia e sai de imediato na via à esquerda, virando novamente à esquerda para o sentido ascendente da Av. Infante Dom Henrique.

Esta configuração não teria nada de especial, apesar de não parecer óbvia, uma vez que o acesso ao porto se encontra ainda dentro dos limites da rotunda. Mas acontece que, pura e simplesmente, não existe nenhuma sinalização que a indique. Quem quiser entrar na zona portuária ou já conhece o caminho ou fica "às aranhas".

Foi o que me aconteceu na primeira vez que tive de ir ali em trabalho. Chegado à rotunda vindo do lado norte (Rua da Cintura do Porto de Lisboa), dei-me logo conta da existência do acesso à zona portuária. Contornei a rotunda e dirigi-me para ele. Só então me apercebi que não podia sair naquele ponto. Arranjei um sítio onde parar e fui estudar o mapa (acho que não levava GPS na altura, ou o mapa não dava a informação correcta do percurso, como faz agora muito bem o Google).

Mas sinalização é coisa que lá não existe.



Ao chegar a uma rotunda, espera-se encontrar uma placa com a respectiva configuração e os destinos onde levam as saídas. Aqui, não existe.



Na saída para a Av.Infante Dom Henrique (norte) a única sinalização existente encontra-se já dentro da própria via. É normal que ela esteja ali, especialmente se a rotunda for de pequenas dimensões (o que não é o caso), mas não existe nenhuma informação prévia sobre esta ou qualquer outra das saídas.



Na saída para Santa Apolónia, a sinalização também já se encontra fora da rotunda (aqui, na imagem, estupidamente desfocada pelo Google *, como é costume).

Como se pode ver pela foto, a saída à esquerda não tem qualquer indicação sobre o seu destino.





Na saída para a zona portuária, também só existe sinalização de confirmação, isto é: aquela que só está visível depois de se ter feito a opção do percurso.

Não existe nesta rotunda nenhuma pré-sinalização que informe os condutores sobre as saídas que vão encontrar.

É sempre mais fácil encontrar alguém que seja culpado de algo que existe do que atribuir culpas pelas lacunas de que nos damos conta. 


Mas os culpados existem. Em último caso, somos todos nós, cidadãos, que "refilamos" muito nas redes sociais, mas não levamos a nossa exigência até às últimas instâncias, quer seja punindo os poderes políticos nos actos eleitorais quer seja — talvez mais adequadamente — accionando os mecanismos que, apesar de tudo, existem para reclamar ou chamar a atenção de quem de direito.
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* Nas imagens de rua do Google, estão desfocadas informações textuais que possam ser sensíveis por razões de segurança ou privacidade, como é o caso das matrículas dos veículos. Mas o programa está mal afinado e desfoca também as indicações de trânsito, que seria importante manter legíveis.