Blogatores
O blogator erraticus.
Este
espécimen, tal como a sua própria designação indica, caracteriza-se por uma
grande inconstância temática (para camuflar essa pecha, classifica-se a si
próprio como generalista, palavra fina e
muito abrangente). Como não sabe se tem alguma coisa para dizer, o blogator erraticus começa logo por anunciar
que vai falar de tudo e mais alguma coisa, o que geralmente cumpre. Neste
sentido, se fosse uma árvore, seria uma macieira, ou mesmo uma azinheira,
carregada de abóboras, pepinos e nozes, tudo à mistura. Sendo cão, um vulgar
rafeiro. Também lhe assenta a imagem do ornitorrinco. Não se sabe se é carne ou
peixe. Não tem imagem de marca. Não tem pedigree.
Aparenta
por vezes grandes incongruências, podendo, por exemplo, ser um trabalhador
pouco especializado exprimindo-se como um doutor.
Como não
tem conhecimentos sólidos sobre a maioria das matérias (possuindo, no entanto,
uma grande bagagem, que se pode designar
como cultura geral), lança palpites
baseados na intuição e no bom-senso. Curiosamente, acaba quase sempre por
acertar bastante bem. Mas as suas produções, apesar de por vezes muito
imaginativas, denunciam a ausência de uma estrutura organizada, a falta de
preparação com que são elaboradas. A sua espontaneidade nem sempre resulta
inteligível.
O blogator erraticus é, irremediavelmente, um naïf.
Podia
fazer ainda referência a outros tipos omitidos, tais como o sempre agressivamente zangado blogator colericus incorrigibilis tremendus, o
blogator provocatorius incognitus (que por vezes pelejam entre si,
embora sem consequências de maior); o blogator
amabilis christianus, que distribui cumprimentos a esmo, enviando
bonitas imagens e edificantes conselhos; o blogator
sapientis, o blogator cinephilus, o
blogator jurisprudentialis, o blogator romanescus serialis, o blogus
multiplicator, et cætera, et cætera...
Há também
um sub-grupo peculiar e muito abundante, representado pelos tipos blogator vulva palpitans, bem como o blogator priapus ansiosus, os quais se buscam
afanosamente entre si.
Já o tipo blogator susannah in bagnum é mais difícil de
encontrar, dada a sua tendência para se esconder atrás das árvores, geralmente observando anonimamente os anteriores.
É possível
ainda encontrar tipos estranhos como o blogus
vacuiis infestantis, o blogator insanus voluntariis vandalicus, o blogus psitacorum
glosætor, etcætra, etcætra.
Post
scriptum:
Peço
desculpa pelo latinorium. Quem andou no
seminário não fui eu, mas um primo meu. Que, aliás, esteve lá pouco tempo.
Ficou desmotivado pela angustiante perspectiva do celibato per omnia secula seculorum. É de família, já
se sabe.