Nunca houve, nem há,
nem nunca poderá haver, um viajante que seja capaz de, no decurso da sua vida,
por longa que ela seja e mesmo que se mova velozmente, conhecer o mundo inteiro
em detalhe. Pode conhecer o mundo inteiro em resumo, mas há-de deixar quase
tudo por ver.
A maioria dos seres
humanos nem sequer terá a oportunidade de sair do lugar onde nasceu, ou do
sítio onde a vida acabou por os deixar. Viajar é, infelizmente para os outros,
um privilégio só de alguns. Mas o mundo não é perfeito, nem nunca o será, e é
nele que temos de viver, conhecendo-o ou não.
Recentemente, a tecnologia aumentou em muito o número dos que podem ter acesso a sucedâneos virtuais das viagens. Não são um substituto das viagens reais, mas permitem a muita gente estar, de forma virtual, em sítios que, de outra forma, nunca teria oportunidade de conhecer.
Recentemente, a tecnologia aumentou em muito o número dos que podem ter acesso a sucedâneos virtuais das viagens. Não são um substituto das viagens reais, mas permitem a muita gente estar, de forma virtual, em sítios que, de outra forma, nunca teria oportunidade de conhecer.
Antigamente eram
apenas os relatos, falados ou escritos, de grandes e pequenos viajantes. Os
grandes espalhavam a sua fama pelo mundo e através do tempo, chegando a
tornar-se figuras míticas, de que Marco Polo é possivelmente um dos expoentes. Em todos os tempos, em todas as
civilizações, os que ficaram sempre se juntaram, em maior ou menor número, em
volta do viajante acabado de regressar. O desejo de conhecer o que está para lá
do horizonte é, possivelmente, um dos instintos humanos mais básicos, logo a
seguir às necessidades do organismo.
Mas hoje quase é
possível viajar pelo mundo, ou por parte dele, tal a facilidade com que são
divulgadas as imagens e os sons recolhidos e gravados em dispositivos
electrónicos e difundidas, anteriormente pelos meios unidireccionais e agora de
forma mais interactiva através da
Internet. Ferramentas da rede, como o Google Earth/Maps/StreetView (existem
outros, mas não tão abrangentes) permitem quase estar nos locais por nós
escolhidos. Mas obviamente têm limitações. Não é possível recolher em tempo
útil imagens senão de um certo número de locais e itinerários. Por vezes,
damo-nos conta de que até ficaram os mais interessantes por registar. E, se
isto é verdade ao nível do pequeno recanto que conhecemos, também acontece a
uma escala muito maior. Há países inteiros que, por esta ou aquela razão, ainda
não foram fotografados. E isso acontece mesmo na Europa em zonas que,
supostamente são do maior interesse para aqueles que gostariam de as conhecer,
nem que fosse apenas desta forma. Estou a lembrar-me de países inteiros, como a
Áustria, ou quase inteiros, como a Alemanha, cuja geografia seria interessante
explorar, o que sabemos pelas imagens a que, apesar de tudo, temos acesso.
Curiosamente, ou
talvez não, as razões para essa ausência de registo prendem-se com entraves
legais ou burocráticos, como se essas sociedades pretendessem fechar-se sobre
si mesmas, receosas de que a visualização das imagens por todo o mundo lhes
violasse uma privacidade que muito prezam.
(Estava eu com vontade de passear-me à vontade por Salzburgo e tive de contentar-me com fotos dispersas que, apesar de tudo, são muitas. Mas não é a mesma coisa do que simular uma viagem por lá. Eis a razão — ou o pretexto — deste apontamento.)
Numa Europa quase toda "fotografada", nota-se a falta da Alemanha (só estão fotografadas algumas cidades), Áustria(totalidade), parte da Suiça, e quase todos os países dos Balcãs e a Grécia.